Ao se dirigirem aos brasileiros nos debates públicos, os candidatos à
 presidência, Dilma Rousseff e Aécio Neves, falaram de dois projetos 
diferentes para o Brasil.
A impressão é que estavam se dirigindo a dois países diferentes. E é 
verdade que nestas eleições, mais que em todas as anteriores desde a 
democratização, os brasileiros se apresentam divididos em duas metades 
praticamente iguais entre os que se dispõem a votar no Brasil de Dilma e
 os que preferem o Brasil de Aécio.
Como são esses dois Brasis apresentados pelos candidatos com vocação 
para governar o país? Ou se trata de uma divisão artificial criada pelos
 assessores de imagem dos candidatos já que, na realidade, existe um 
único Brasil? Quem e como foi dividido o país entre os que temem perder o
 que têm e os que desejam conseguir mais do que já foi conquistado, que é
 o que exigia o clamor da rua em 2013?
A candidata Rousseff em suas palavras finais no debate deixou claro 
que existe um projeto em curso que fez o país avançar com novas 
conquistas, como maior inclusão social, que não existia antes, e outro 
que seria o espelho de um passado que criou desemprego e salários 
baixos.
O candidato Neves, ao contrário, fez alusão a outros dois projetos 
diferentes: o que continua comparando o Brasil de hoje com o Brasil do 
passado, que seria o do PT, e o que desejaria mudar o país em tudo 
aquilo que hoje significa retrocesso para oferecer novas possibilidades,
 que seria o seu, o da mudança. Seria um choque entre o passado e o 
futuro. As duas posições têm força eleitoral quase igual.
É, no entanto, interessante analisar melhor quais brasileiros, por 
idade, estudos e posição social apoiam cada um desses projetos.
Pelo que revelaram até agora as pesquisas do Datafolha, fica bastante
 claro que o Brasil que poderíamos chamar de “do medo”, o que teme 
perder o já conquistado, se concentra principalmente entre os eleitores 
de idade mais avançada, de menor escolaridade e de menor posição 
econômica, localizado nas regiões menos ricas do país e nas menores 
cidades do interior.
Ao contrário, o chamado Brasil “da mudança”, se divide entre os mais 
jovens, os mais escolarizados e os de maior renda, que vivem nos Estados
 mais prósperos e nas grandes cidades.
Isso significa alguma coisa? Talvez signifique. Poderia indicar, 
segundo os sociólogos, que a tendência do Brasil para o futuro, 
independente de quem ganhar a eleição, será a de colocar mais foco no 
presente e no futuro do que no passado. São os jovens, que não 
conheceram o passado, que continuarão apoiando mais a política de 
mudança que a do medo, já que está mais próxima a seus pais. São os que 
mais estudaram e estão mais bem preparados para fazer uma análise 
completa da situação do Brasil que apresentarão, daqui para a frente, 
menos medo de mudar.
São os que já conseguiram abrir caminho no mundo do trabalho 
qualificado, os pequenos empresários, muitos deles jovens, os que acham 
que retrovisor lembra o passado, preferem o iPhone, uma espécie de farol
 que a cada dia ilumina as novidades destinadas a mudar nossa vida.
Na verdade, acho que têm razão os que preferem pensar que existe um 
só Brasil, nascido dos protestos que muitos desejariam sepultados para 
sempre, mas que provavelmente continuarão vivos, dispostos a dar novos 
suspiros no momento menos pensado.
Existe o Brasil que está se modernizando, que viaja mais, que estuda e
 lê, sensível à nova política participativa, menos compreensivo com a 
hidra da corrupção, e que perdeu o medo de abrir novos caminhos em busca
 de uma sorte melhor.
Qualquer um dos dois candidatos que acabe vencendo, não deveria 
esquecer que não é mais possível continuar governando com os olhos 
voltados, por cálculo às vezes puramente políticos, para um dos dois 
Brasis que está se enfrentando. O Brasil, ou crescerá junto 
economicamente, dominará junto o monstro da inflação e abraçará a 
modernidade de uma democracia mais afinada com os países desenvolvidos 
do que com os caribenhos e bolivarianos, ou continuará eternamente 
submerso na falácia da divisão entre pobres e ricos, entre os arrepios 
do medo e a aposta pela esperança.
Há processos na história dos países que são irreversíveis. Minha 
aposta é que também o Brasil, todo ele, apesar de todas suas sombras, 
medos e perplexidades, já apostou pelo futuro. E apostaram nessa direção
 os que costumam ser sempre os donos do futuro, como são os jovens e os 
capazes de pensar e analisar o mundo. São eles, no final que acabam 
dando corpo e vida a essa nova realidade social.
Basta dar hoje uma volta pelo Brasil para perceber a sensação de que 
nem sequer os que ainda são pobres querem continuar nesta condição e nem
 querem ser considerados assim. Estão na fila para entrar no clube dos 
que não têm medo de triunfar. Querem deixar para trás a triste herança 
de um passado que os obrigou a resignar-se com sua sorte. Muitos 
sofreram na pele de seus pais e querem deixar isto para trás, para 
sempre.
Esse é o país que está se desenhando para o futuro e que talvez nem 
sequer coincida com o resultado das eleições porque acabará se impondo 
por si mesmo com ou sem a bênção dos políticos que continuam apostando 
por um Brasil dividido e desenhado com os pincéis do medo mais do que 
com os de um novo cometa que traga o milagre de uma esperança de 
superação.

 
 
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