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Victor Mascarenhas |
Querer ganhar o poder ou mantê-lo a
qualquer preço vale a pena? Como o vencedor vai lidar com os escombros de uma
eleição que dividiu o país e até amigos de décadas, que brigam contaminados por
uma polarização entre dois partidos com, programaticamente falando, mais
semelhanças do que diferenças?
No desfile de ignorância, grosseria e
desconhecimento histórico que vemos nessa campanha, não vejo ninguém
relembrando ou relatando que Lula e FHC têm um passado em comum e que, no final
da ditadura e antes da criação do PT, Lula fez campanha para FHC- então
candidato ao senado - e FHC esteve presente em várias reuniões que resultaram
na fundação do PT e só não se filiou ao partido por já fazer parte de outro na
época, mas muitos dos petistas fundadores eram amigos e ex-alunos dele.
Ninguém fala que na campanha de 1989, o
PSDB apoiou o PT contra Collor e inúmeras vezes os dois partidos estiveram
juntos contra Maluf em São Paulo e contra ACM na Bahia, por exemplo, assim como
estiveram juntos na Constituinte em diversas votações importantes para os
trabalhadores e para a área social, unidos contra muitos dos que hoje são
aliados tanto de um quanto do outro.
Mas aí veio a eleição presidencial de 1994
e os dois partidos se separaram de vez na luta pelo poder e, desde então, mesmo
pensando e agindo de modo semelhante em diversos aspectos, criaram essa
polarização insuportável que culmina agora na eleição mais violenta desde 1989.
Não faz bem pra ninguém que o debate
político se transforme em debate sobre quem é mais ou menos corrupto, muito
menos entre quem sopra o bafômetro ou não. Não faz bem pra ninguém que o país
se divida entre pobres e ricos, entre nordestinos e sulistas, ou coisa que o
valha. Adversários não precisam ser inimigos. Brasileiros não precisam ser
inimigos de brasileiros.
Lula é o maior líder político do Brasil
desde Getúlio e mostrou grandeza ao não encampar a tese absurda do terceiro
mandato. Esperava dele, a quem muito admirei um dia e que admiro menos hoje, que
tivesse mais grandeza na condução da campanha de Dilma, que não endossasse o
massacre que fizeram com Marina e não deixasse o nível da campanha chegar ao
fundo do poço como chegou nesse segundo turno, logo ele que foi vítima de
tantos ataques em eleições passadas. Assim como esperava de FHC, a quem também
muito admirei um dia e que admiro menos hoje (embora mantenha a admiração ao
sociólogo e aos seus livros), por permitir que seu partido, que trouxe os
conceitos da social democracia para o Brasil, virasse o escoadouro de muitos
dos que representam o pensamento político mais atrasado do Brasil, já que os
outros representantes dessa categoria estão, infelizmente, ligados ao PT.
Confesso que esperava mais do PT quando
chegou ao poder do que esperava do PSDB, e, portanto, minha decepção foi maior.
Acreditava no PT pela formação diferente do partido, por ser a agremiação que
trouxe os movimentos sociais para dentro da vida partidária e pela postura de
muitos dos seus líderes. Mesmo assim, continua não entrando na minha cabeça que
o PT, entre Fernando Collor e Fernando Henrique, prefira ficar com Fernando
Collor. Mas ainda tenho esperança em Fernando Haddad e numa renovação do PT
caso venha a perder a eleição.
São inegáveis as virtudes e o legado
positivo dos governos do PSDB e PT, que mudaram a história do Brasil, o
primeiro acabando com a hiperinflação e o segundo avançando na distribuição de
renda, mas quero lamentar e repudiar o que virou essa campanha.
O meu candidato nessa eleição,
infelizmente, está morto, assim como está quase morto meu entusiasmo para votar
em alguém depois de assistir os debates e programas eleitorais do segundo
turno, mas já escolhi em quem votar. Não vou declarar minha escolha, até porque
não estou disposto a ser agredido pelos que não concordem com ela. Se alguém
quiser especular sobre meu voto, boa sorte e boa sorte também para todos nós,
que vamos viver nesse país tão complicado, que precisava de mais soluções e
consensos do que de agressões e divisões.
Victor
Mascarenhas - formado em Comunicação, com pós-graduação em
Roteiros para TV e Vídeo. Atua também como publicitário, professor e
roteirista. Como redator publicitário, recebeu diversos prêmios e atuou em
campanhas políticas.
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