domingo, 30 de janeiro de 2022

 


* (A)parições *

 Quando estático, à mesa de meus desalinhos literários, ponho olhos a andar em andinas altitudes, o coração lateja sentimentos intraduzíveis. Quase sempre, perco-me em oceânicas e pacíficas miragens.

 Certas (a) parições de letras minhas – ouso afirmar, - a depender do contexto, revestem-se de ares epifânicos, personificam pensamentos gestados em espírito prenhe de inspiração.

 Assim, ao dar palavras à luz, usufruo alentador bem-estar voltado ao entendimento do âmago das coisas. Quando compareço à telinha virtual de alguém, uma fração do iceberg de minhas emoções despedaça-se, despede-se de mim, transforma-se em água cuja temperatura poderá representar – a quem ler, desavisado esteja – risco de imergir em glacial mar de incertezas.

 A imprevisibilidade do verbo recém-nascido, no dicionário do mundo, equipara-se à de nossa própria realidade, ao nele desembarcarmos. Nunca saberemos por onde e com quem, tanto as palavras quanto o destino, compartilharão o futuro.

 Na verdade, tal instigadora dúvida é a essência de toda epifania, sensações causadas por penas ao parir palavras. Epifanias associam-se a ritos de passagem, nascimentos, bodas, matrimônios. Em síntese, alvíssaras, lexicamente atreladas a sentimentos diversos: revelação, inspiração, lampejo, sopro, elã, centelha.

 O despertar da profundidade psicológica, em cada ser, também é ato epifânico, capaz de alterar a visão de mundo e, até, a própria vida.

 Com o avançar dos anos, tornamo-nos mais seletivos. Trigo e joio passam a ser, facilmente, reconhecíveis; deixamos de ser levados pelas aparências. Tanto redunda em menos amigos, todavia mais sinceros. Despontam maior honestidade de sentimentos e plena lucidez ante nossas limitações. Ao questionarmos: Onde e quando errei? Certamente, saberemos a resposta.

 Atingido certo equilíbrio emocional, alça-se a fase madura. Com ela, nascem olhares sinceros, sorrisos honestos, abraços cordiais, lampejos, inspirações, centelhas, aparições. Tempo de pensamentos criativos em busca da compreensão da existência.

 Longe de mim, premonitórias pretensões. O mais débil elo de uma cadeia determina o limite de resistência da mesma. Nas (a) parições almejo, simples assim, estabelecer vínculo forte na corrente de minha comunicação com o mundo.

 Espero ser bem sucedido.




 

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