* O choro da bossa *
(Lamento à morte de João
Gilberto)
“Desafinado” a mais não poder, sentia-me incapaz em reproduzir vocalmente determinada entonação. Tanto entristecia-me.
Convivo com “a melancolia que não sai de mim, não sai”. Sou só tristeza.
Tanto a “moça do corpo dourado do sol de Ipanema” quanto “a falsa baiana que fica parada” bem como “a que entra no samba de qualquer maneira, que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras”, de mãos dadas comigo, todos, choramos tua falta.
“Vai, meu coração, pede perdão, perdão apaixonado” por não haver aprendido a dedilhar um violão no passo e no compasso de uma bossa incomparável, ao deixar saudade para sempre.
“Eu, mesmo mentindo, devo argumentar” haver varado noites a ouvir aquele brando e mágico violão.
“Hô-bá-lá-lá”, João Gilberto! Sertanejo juazeirense da melhor cepa.
“Ah, porque estou tão sozinho”, se tenho teu legado a fazer-me companhia?
“Ah, porque tudo é tão
triste”? Não há razão para isso.
“A beleza que existe, a beleza que não é só minha” eternizou-se - em composições de Vinícius, Tom Jobim, Carlos Lyra, Geraldo Pereira e tantos outros, - na batida do magistral pai da bossa-nova.
Axé, João Gilberto! Os orixás te saúdam!
Seguirei, vida afora, teu fã.
O resto?
O
resto é o choro da bossa.
“É tudo que não sei contar”, ou melhor, sei.
Não
há luto infinito.
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