sábado, 21 de maio de 2022

 


*Linguagem*

 Certo dia - idos de 2004 - cair de tarde, como de praxe fui para o salão de jogos da Pousada do Centenário, aqui em São Gonçalo dos Campos.

À época, eu era inveterado apreciador de uísque. Pelo interfone, acionei o pessoal do bar - velhos conhecidos e sabedores de minha bebida predileta. O charuto fumegava enquanto o telefone tilintava. 

Pronto! Atenderam do outro lado.

Oi filho! Agradeço você traga minha dose etílica vespertina.

Oh! seu Hugo! - lastimou o garçom, completando: Isto não temos.

Que pena! comentei. Traga, então, uma dose de meu uísque de sempre.

Foi quando percebi, quanto a “última Flor do Lácio”, com suas sutilezas e riquezas, prega-nos peças e costuma impor limitações tanto ao falante, quanto ao escriba.

A meu charuto indago, quantas ocasiões em minhas crônicas - não tão claras, posto serem enfumaçadas -, o bem dizer possa ter sido mal interpretado. Ainda mais eu, quando comprazendo-me em falar de charutos, vezes algumas, costumo manejar os vocábulos e deixo nas entrelinhas (im) pertinentes insinuações.

Por isso agora, serei tão claro quanto os charutos de capas claras, o que poderá complicar nossa conversa: as capas ditas claras, não costumam ser assim tão claras.

Os iniciados no assunto, afeitos aos jargões da ‘linguagem charuteira’, todos - sem exceção - já foram vítimas de falsas leituras de seu comportamento e sua preferência. Por linguagem, entendam-se não só palavras, posto serem integrantes da mesma, os rituais gestos do apalpar, do admirar, do aspirar, do quase beijar...

Quantos e quantos “garçons da vida” - amigos nossos – ao não alcançarem o que seja a dose etílica vespertina, correspondem com interpretações e insinuações totalmente fora do contexto.

Tenhamos cristã piedade deles.

 Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

 ([email protected])

 

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