*Linguagem*
Certo dia - idos de 2004 - cair de tarde, como de praxe fui para o salão de jogos da Pousada do Centenário, aqui em São Gonçalo dos Campos.
À época, eu era inveterado apreciador de uísque. Pelo interfone, acionei o pessoal do bar - velhos conhecidos e sabedores de minha bebida predileta. O charuto fumegava enquanto o telefone tilintava.
Pronto! Atenderam do outro lado.
Oi filho! Agradeço você traga minha dose etílica vespertina.
Oh! seu Hugo! - lastimou o garçom, completando: Isto não temos.
Que pena! comentei. Traga, então, uma dose de
meu uísque de sempre.
Foi quando percebi, quanto a “última
Flor do Lácio”, com suas sutilezas e riquezas, prega-nos peças e costuma
impor limitações tanto ao falante, quanto ao escriba.
A meu charuto indago, quantas ocasiões em
minhas crônicas - não tão claras, posto serem enfumaçadas -, o bem dizer possa
ter sido mal interpretado. Ainda mais eu, quando comprazendo-me em falar de
charutos, vezes algumas, costumo manejar os vocábulos e deixo nas entrelinhas (im)
pertinentes insinuações.
Por isso agora, serei tão claro quanto os
charutos de capas claras, o que poderá complicar nossa conversa: as capas ditas
claras, não costumam ser assim tão claras.
Os iniciados no assunto, afeitos aos jargões
da ‘linguagem charuteira’, todos - sem exceção - já foram vítimas de falsas
leituras de seu comportamento e sua preferência. Por linguagem, entendam-se não
só palavras, posto serem integrantes da mesma, os rituais gestos do apalpar, do
admirar, do aspirar, do quase beijar...
Quantos e quantos “garçons da vida” -
amigos nossos – ao não alcançarem o que seja a dose etílica vespertina,
correspondem com interpretações e insinuações totalmente fora do contexto.
Tenhamos cristã piedade deles.
Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
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