sábado, 28 de maio de 2022

 


*Lugares comuns*

 Eu e muitos, há anos envoltos no mundo do fabrico de charutos e seu consumo, arvorando-nos em “defensores da moral e dos bons costumes”, volta e meia, criticamos hábitos heterodoxos de determinados fumadores.

 É claro haver uma linha condutora na arte e no prazer de fumar, mas como disse, o fato de ser arte, permite derivações e abstrações nem sempre apreendidas pelos críticos.

 A ortodoxia do meu aprendizado do universo charuteiro, converteu-me, ao início, em um ‘chato de galochas’ por tentar convencer ‘mundos e fundos’ a correta maneira de desfrutar o charuto.

 Lembro-me bem. Nos idos de 1978 elaborei um vade-mécum, fartamente distribuído pela Menendez & Amerino, onde entre outras ‘preciosidades’, condenava, inquisitorialmente, o hábito de alguns fumadores imergirem o bico dos charutos em licores, antes de acendê-los. De forma impositiva abjurava a ‘heresia’ por “prejudicar o sabor perseguido pelo fabricante”. 

 Ora, meu Deus! Qual o valor do sabor perseguido pelo fabricante, se o sabor que persigo é a simbiose do sabor de meu charuto querido com o de minha bebida predileta?

 “Gostos são regalos da vida”, afirma a sabedoria popular. Portanto – mandem-me, os ortodoxos, para o inferno de Dante – use e abuse da imaginação.

 Apraz-lhe embeber em licor seu prazer preferido? Faça-o!

 Sem medos nem constrangimentos. Seu charuto-companheiro e a bebida-parceira, agradecidos, retribuir-lhe-ão em dobro a capacidade de se evadir dos lugares comuns da vida.

 

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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