domingo, 29 de maio de 2022

 


* Pleito de passaporte *

 

 

Querida Aninha Franco, (¹)

 

Permitas a intimidade de velhos bem-quereres.

Ates meu nome à árvore de teus amigos.

Serei conciso.

Acertei no milhar!

Finalmente, conheci tua República AF.

Rua das Laranjeiras, 38, Pelourinho.

Centro Histórico de Salvador.

Teu livro-documentário

Criação da Cidade da Baía

cochila à cabeceira de minha cama.

 

Despertarei tuas letras,

assim despeça-me de Saramago

em seu Ensaio sobre a Cegueira

 

Sei, a obra será de meu agrado.

É inegável minha admiração

por tua arte e teus pensares.

Provenho dos pampas,

idos anos sessenta,

primeiras levas de gaúchos.

Primórdios da industrialização baiana.

Semeei o CTG Rincão da Saudade.

 

Centro Industrial de Aratu, projeto então;

BR-324, BR-28 era.

O atual bairro Valéria,

- aonde se instalou a indústria

com a qual imigrei -

pertencia a Lauro de Freitas.

Num quarto de século,

em Salvador,

ares vários desfrutei:

Graça,

     Pituba,

          Escada,

               Ladeira da Barra,

                    Aldeia Jaguaribe.

Escada!

Saudade da pacata vida suburbana

ao sopé da multissecular igrejinha.

Os velhos trens e seus silvos,

enquanto o mar salgava as pedras do alpendre elevado.

Quintal, mangueiras, sapotizeiros, morcegos,

mar a um passo, sossegos.

 

A canoa tronco-de-árvore, vela-pena,

alaranjados despencares do sol

na mansidão das águas da baía, bordejos.

Depois das tintas,

onde aprendi as cores do arco-íris,

ventos benfazejos sopraram-me ao interior.

                                                                    Labuta fumageira e seus charutos.

Encantei-me com o Recôncavo Baiano.

Outro Brasil.

Também andei pelo Vale do Jiquiriçá.

Semeei cacau, riqueza da Bahia.

Outra história.

Maduros amores, levaram-me

à Chapada Diamantina,

ao Morro de São Paulo,

para ficarmos na essência.

Vivi.

Hoje, contador de histórias,

não tenho pejo em me despir.

Portanto, querida Aninha,

desnudo o coração

ao pleitear o passaporte

de tua republicana confraria.

 

Ora, na vida, escrevo,

em sonho semeio jacarandás.

Sei, não os verei beijar as nuvens.

 

Para que tanto viver, se imaginar eu posso?

 

Um beijo encantado

e meu republicano abraço.




Nenhum comentário: