É
verdade que muitas donzelas se perderam nestes escuros, mas também é verdade
que muitas outras encontraram, nestes mesmos escuros, os amores das suas vidas.
Na maioria dos casos a gente só queria mesmo era tirar um “sarro”. Um beijo
mais ardente, um amasso aqui, uma “mão boba” acolá, e depois a gente ia se
aliviar nos bregas, que ninguém tem sangue de barata.
O meu
namoro com Maura, com quem vivo há 30 anos, também começou no escuro. Não do
cinema, mas do laboratório fotográfico do jornal em que trabalhávamos e aonde
fomos com ACM (não o político, o fotógrafo), revelar as fotos que tínhamos
feito minutos antes, na nossa confraternização anual. Eu já vinha lhe
paquerando há algum tempo e, com umas a mais na cabeça, foi a deixa pra que
roubasse um beijo.
Mas, o
escurinho do cinema era imbatível. Lembro-me que havia até uma escala, não
oficial, de frequentadores dos cinemas de Feira de Santana. Os sábados eram dos
jovens e dos adolescentes, e os domingos eram das crianças. Os dias de semana
eram divididos. As tardes eram reservadas para os amores escondidos e as noites
eram dos casais, das famílias. Eram famosas as matinês das segundas-feiras, no
cine Santanópolis, onde os amantes se encontravam e ficavam ali namorando. Os
homens mascando chicletes e as mulheres chupando dropes de anis e outras
“cositas mas”.
Mas tudo
tinha que ser feito com muito cuidado porque o lanterninha não dava folga. O
danado sabia o que rolava lá dentro e bem que podia deixar os casais em paz.
Mas, talvez para justificar o seu salário (afinal era pago para zelar pela
moral e os bons costumes), volta e meia estava lá, de lanterna em punho,
tentando flagrar um casal mais assanhado.
Eu tenho
um amigo que quase deixa um lanterninha maluco com um truque simples. Ele
fechava a mão esquerda, e com os dedos indicador, médio e anular da mão direita
ele batia entre os dedos da esquerda, produzindo um ruido que parecida o de
alguém se masturbando. Ele trocava de lugar sempre e o lanterninha ficava
doido, pra lá e pra cá, tentando flagrar o tarado.
As
matinês de meio de semana eram uma terapia sensacional para aliviar o
“estresse” diário, embora essa palavra ainda não existisse. A gente ficava ali,
namorando escondido, soltando piadas, perturbando o lanterninha, aliviando as
tensões. Cinema sempre tem os gaiatos, que assistem o filme várias vezes e
fazem piadas com as cenas que já viram. Algo assim como uma artista famosa que
que vai embarcar em um avião e vira-se para a plateia e solta um beijo. O
gaiato já viu a cena, grita antes dela se virar: “Meu beijo!”
Ainda
tem aqueles que soltam “cordões cheirosos”, levam caroços de milho e feijão
para atirar na cabeça dos outros com uma borrachinha de dinheiro, e outras
perturbações mais. Eu já dei boas risadas dentro de cinemas. Já namorei muito,
perturbei muito, me divertir muito. Ah! Ia me esquecendo. Ainda tem o filme,
né?
Mas, um
episódio ocorrido numa matinê de segunda-feira no cine Santanópolis, nunca me
saiu da memória. Foi o seguinte: Era praxe nós, homens, levarmos um lenço no
bolso, porque ele tem mil utilidades. Uma delas era justamente conter o jato de
esperma, quando a namorada estava nos masturbando.
Alguém,
que eu acredito tinha sido desatento, que não tivesse lenço ou sofresse de
ejaculação precoce, sei lá, foi o pivô da história. O certo é que, de repente,
ouviu-se um grito no meio da sessão que fez acender todas as luzes (cruzes):
“Que merda! Quem é que tá batendo punheta aqui?”
Quem
falava era um sujeito que tinha na parte posterior da cabeça e na palma de uma
das mãos, uma coisa pegajosa.
NE: Publicada no Sempre Livre ( 2010)
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