Roberto Carlos sempre cuidou de ter um bom relacionamento com o seu público. Porém, era meio ranzinza com relação ao público cantando junto com ele. E ele tinha razão. Afinal ele é o cantor, o artista, que está sendo pago para mostrar a sua arte. O público cantando uníssono causa distorções na apresentação do artista. Por isso não admitia ninguém cantando na plateia.
Certa vez ele foi cantar no Clube de
Campo Cajueiro, em Feira de Santana. A boate ainda era pequena e muito
aconchegante. Quando Roberto Carlos já estava cantando, algumas pessoas
ensaiaram cantar com ele. Ele parou o show e pediu que não cantassem. Continuou
a cantar e um rapaz na plateia insistiu em continuar cantando e até dançando
junto a mesa. Ele novamente parou e falou de forma um tanto ríspida com o
rapaz. A diretoria do clube interveio e tudo se acalmou. Porém, ao final da
festa, alguns playboys que tomaram as dores do rapaz, se reuniram para pegar o artista
na saída do clube, o que exigiu da diretoria uma pequena operação sigilosa para
tirá-lo do clube às escondidas.
Naquela época, assim como muitos outros
fãs, entendi como “frescura” de Roberto por ter implicado com o rapaz. Hoje,
passados tantos anos, vejo que ele estava certo. Além do fato de que o cantor
se exercita muito decorando letras e acordes para se apresentar em público, é
ele quem está sendo pago para mostrar a sua arte. O público cantando junto
atrapalha. Pude constatar isso várias vezes durante apresentações de outros
artistas.
Com a onda sertaneja teve início uma hera
de shows com o público cantando junto com os artistas e não eram apenas poucas
pessoas, num recinto pequeno, eram multidões. Por algum tempo isso deu certo.
Até que os próprios cantores começassem a cansar e entender que sua arte estava
sendo desvalorizada. Afinal, é o artista quem canta para o público e não o
publico que canta para o artista. Eu não tinha percebido ainda que alguns
cantores já estão tomando providências para evitar multidões de cantores.
Há alguns dias ouvindo uma gravação da
cantora Joana cantando a música Recado, notei que ela, com muita habilidade,
começou a tirar de tempo o público de cantores. Ela começou a música e quando o
público ameaçou vir junto ela mudou o tempo da música e o tom e começou a
desfiar uma grande variedade de tons e tempos de voz para cantar, fazendo com
que o público recuasse da “ameaça” de cantar junto com ela. Deu certo.
Depois disso, fui ouvir outras canções
gravadas por outros artistas em diferentes shows e percebi que muitos estão
usando essa técnica para confundir o público cantor, que, na minha opinião, é
um pé no saco. Já há muito tempo eu havia deixado de comprar discos gravados ao
vivo. Eu pago para ouvir os cantores, não o público. Eu gostava muito de ir
atrás do trio elétrico gritando junto com os artistas as músicas do carnaval
baiano, mas, quando se tratava de comprar um disco para ouvir um artista, eu
queria ouvir a sua voz. Eu creio que, como eu, existe muita gente.
Quem quiser demonstrar seus “dons artísticos”,
que vá cantar no chuveiro. Meu ouvido não é pinico!
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