sexta-feira, 22 de março de 2024

'Igrejas encontram espaço em vazios culturais', diz ministra Margareth Menezes

Margareth Menezes assumiu Ministério da Cultura após recriação do órgão, rebaixado ao status de secretaria no governo Jair Bolsonaro (FERNANDO OTTO/BBC)

Escolhida para chefiar o Ministério da Cultura após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recriar a pasta, em janeiro de 2023, a cantora Margareth Menezes se deparou com um país rachado pela política e por "guerras culturais".

Uma das últimas batalhas nesse campo tem sido travada em torno do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório. Vencedor do prêmio Jabuti na categoria Romance Literário em 2018, o livro foi selecionado pelo Ministério da Educação para uso no Ensino Médio em 2022, no governo de Jair Bolsonaro.

Neste ano, porém, os governos de Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás - todos chefiados por políticos próximos de Bolsonaro - decidiram retirar o livro das escolas públicas, argumentando que a obra contém passagens de teor sexual impróprias para adolescentes. Razões semelhantes levaram grupos conservadores a pressionar pelo cancelamento de exposições sobre temas LGBT nos últimos anos.

Na música, as divisões ficaram evidentes em 2023: enquanto muitos nomes da MPB e do hip hop apoiaram Lula, figurões do sertanejo e da música gospel pediram votos para Bolsonaro.

Apesar da polarização, Margareth Menezes diz que o Ministério da Cultura está aberto a todas as vertentes políticas. "Democracia é isso: aceitar quem pensa diferente de você e ir para o embate sem necessidade de matar ninguém. São todos bem-vindos aqui", ela afirma à BBC.

Menezes foi entrevistada na última segunda-feira (18/3), mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu seus ministros na esteira da divulgação de pesquisas que mostraram uma piora na popularidade da gestão.

Questionada sobre o momento político, a ministra avaliou que "o governo está aprendendo" a se posicionar no mundo digital. "Está melhorando inclusive, porque eu acho que já esteve pior nesse sentido."

Aos 61 anos e nascida em Salvador, Menezes ocupa pela primeira vez um cargo público. Como cantora, projetou-se como um dos grandes nomes da música afro-brasileira com sucessos como Faraó (1987), Dandalunda (2001) e As Áfricas que a Bahia Canta (2023), samba-enredo da Mangueira no Carnaval do ano passado.

Em 2004, fundou a Associação Fábrica Cultural, que promove ações culturais e educacionais para jovens na Península de Itapagipe, antiga região industrial de Salvador onde ela própria nasceu.

Menezes diz, aliás, que uma de suas prioridades no ministério é levar cinemas, teatros e bibliotecas para bairros periféricos, onde a oferta de apresentações culturais está muitas vezes restrita a igrejas.

Para ela, "as igrejas encontram espaço em vazios culturais", expandindo-se onde há pouca oferta de centros de cultura.

Click no link e confira os principais trechos da entrevista, concedida ao BBC no gabinete da ministra, em Brasília, na última segunda-feira (18/03).

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