Margareth Menezes assumiu Ministério da Cultura após recriação do órgão, rebaixado ao status de secretaria no governo Jair Bolsonaro (FERNANDO OTTO/BBC) |
Uma das últimas batalhas nesse campo tem sido travada em torno do livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório. Vencedor do prêmio Jabuti na categoria Romance Literário em 2018, o livro foi selecionado pelo Ministério da Educação para uso no Ensino Médio em 2022, no governo de Jair Bolsonaro.
Neste ano, porém, os governos de Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás - todos chefiados por políticos próximos de Bolsonaro - decidiram retirar o livro das escolas públicas, argumentando que a obra contém passagens de teor sexual impróprias para adolescentes. Razões semelhantes levaram grupos conservadores a pressionar pelo cancelamento de exposições sobre temas LGBT nos últimos anos.
Na música, as divisões ficaram evidentes em 2023: enquanto muitos nomes da MPB e do hip hop apoiaram Lula, figurões do sertanejo e da música gospel pediram votos para Bolsonaro.
Apesar da polarização, Margareth Menezes diz que o Ministério da Cultura está aberto a todas as vertentes políticas. "Democracia é isso: aceitar quem pensa diferente de você e ir para o embate sem necessidade de matar ninguém. São todos bem-vindos aqui", ela afirma à BBC.
Menezes foi entrevistada na última segunda-feira (18/3), mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu seus ministros na esteira da divulgação de pesquisas que mostraram uma piora na popularidade da gestão.
Questionada sobre o momento político, a ministra avaliou que "o governo está aprendendo" a se posicionar no mundo digital. "Está melhorando inclusive, porque eu acho que já esteve pior nesse sentido."
Aos 61 anos e nascida em Salvador, Menezes ocupa pela primeira vez um cargo público. Como cantora, projetou-se como um dos grandes nomes da música afro-brasileira com sucessos como Faraó (1987), Dandalunda (2001) e As Áfricas que a Bahia Canta (2023), samba-enredo da Mangueira no Carnaval do ano passado.
Em 2004, fundou a Associação Fábrica Cultural, que promove ações culturais e educacionais para jovens na Península de Itapagipe, antiga região industrial de Salvador onde ela própria nasceu.
Menezes diz, aliás, que uma de suas prioridades no ministério é levar cinemas, teatros e bibliotecas para bairros periféricos, onde a oferta de apresentações culturais está muitas vezes restrita a igrejas.
Para ela, "as igrejas encontram espaço em vazios culturais", expandindo-se onde há pouca oferta de centros de cultura.
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