A volta dos que não foram
“Vivo em um país
libre/qual solamiente puede ser libre/amo a uma mujer clara que a my ama sin pedir
nada/O casi nada, que no es lo mismo, pero, es igual. Soy feliz, soy un hombre
feliz/ Y peço que me perdonen Por esto dia, los muertos de my felicidad” (pequeña
serenata diurna)
A gente sempre ouve falar de Experiência de Quase Morte (EQM), que são situações em que pessoas foram dadas como mortas pelos médicos e que, repentinamente, voltaram à vida. Tais fatos despertaram a atenção da ciência e das religiões, porque estas pessoas voltaram falando de encontros com espíritos de ancestrais. Eu não vou entrar nesta discussão porque não sou cientista nem líder religioso, e também porque em algum momento eu mesmo vou testar a veracidade de tais depoimentos na prática. Ao vivo! Ou melhor, ao morto. Então, deixemos de coisas e cuidemos da vida. Da nossa, e não das dos outros, porque “é feio”, conforme ensinaram-me meus pais.
Na
idade em que estou, perco amigos para a “Véia da Foice” com mais frequência do
que gostaria. Pensando nisso, lembrei-me de alguns amigos meus que foram dados
como morto, inclusive eu mesmo, mas tudo não passou de boato. Começando por
mim, estava eu, como sempre, na farra de fim de semana com meus amigos do Ponto
Central. A fuzarca era no canteiro central da avenida Getúlio Vargas, quase em
frente ao Bar do Zequinha (que ainda não era dele). Era um sábado e viramos a
noite. Um dos amigos saiu mais cedo e deixou acertado pra gente ir a um
distrito da cidade onde estava tendo festejos religiosos, com muitas barracas
de bebidas e comidas típicas”.
No dia seguinte ele chegou
com um fusca, com outros amigos e só havia lugar para mais um. Eu cheguei a abrir
a porta do carro pra entrar, mas desisti. Eles me adularam pra eu ir, mas eu
estava irredutível. Partiram sem mim. À tarde, quando já ia chegando em casa,
encontrei Beto Falcão, que morava vizinho, e estava ouvindo rádio dentro do
fusquinha que era da mãe dele. Quando me viu me chamou. Fui me aproximando e
ele me dizendo: “Seu” Cristovo? Você morreu! Brincadeira tem hora. “Deu aqui no
rádio. Um acidente com um grupo de amigos que ia para Tiquaruçu, deixou um
morto. O jovem Cristóvam Aguiar de Souza. Eu entrei no carro, e logo a Rádio
Carioca repetia a notícia. Entrei em casa e, felizmente, ninguém sabia de nada
ainda e tratei de acalmar todo mundo explicando o que estava sendo noticiado.
Mas, pra tudo no mundo,
tem explicação. Meus amigos levaram em meu lugar o jovem Cristóvam Aguiar de
Souza que, muito mais tarde, vim a descobrir que era meu primo. Eu, hem? Alguns
anos depois, correu pela cidade a notícia de que o ex-baixista do grupo “Os
Trogloditas”, meu amigo, Wilson “Semanal”, havia morrido. Estranhei, pois
ninguém que eu perguntei sabia de nada, mas eu não sabia onde ele morava e
também nunca mais o tinha visto. Certo dia, estando em Cabuçu, conversava com
alguns amigos quando ouvi chamar meu nome. Quando olhei levei um Susto. Era
Wilson. Fiquei feliz mas não demonstrei surpresa. Fui andando devagar até a
barraca onde ele estava, e olhando fixamente pra ele. Quando cheguei perto
disse: Rapaz, você morreu! Ele deu uma baita risada e me contou a confusão que
fizeram sobre um acidente em que disseram que ele estava no caminhão e que
tinha morrido.
Feira de Santana é pródiga em “matar” pessoas que não
morreram. Uma delas foi Elias Falcão. Como? Você não sabe quem é? Então você
não é de Feira e não bebe. Porque que todo biriteiro/seresteiro da cidade em
algum momento já passou pelo Bar de Bengo. E segundo me contou recentemente o
meu amigo, o músico Zé Trindade, ex-tecladista dos “Leopardos”, “mataram”
também “Seu” Didi, do Chorinho. Pra surpresa dele, quando foi convidado para ir
tocar sua velha sanfona, Dona Cordélia (uma sanfona de Respeito), em um bar da
cidade, quando chegou lá deu de cara com “Seu” Didi, tocando seu indefectível
(êpa) Cavaquinho. Graças a Deus essas foram Experiências de Quase Morte em que
ninguém morreu de verdade, pra alegria dos biriteiros.
Crendeuspai! Tiscunjuro!
Pé-de-pato! Mangalô três veiz!
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