* Itapema *
Conheci Itapema, anos noventa do século passado: lugar a beira-mar no qual, parecia, o tempo haver estacionado. Aquele pequeno ponto, encravado no fundo da Bahia de Todos os Santos, mar lamacento, desfrutava apaziguadoras ausências humanas.
Naquela época – trinta anos idos - Itapema a rigor, não era um lugar comum, e sim um paraíso desnudo de vaidades.
Por não integrar o circuito das badaladas praias baianas, carrões, grifes, cardápios afrancesados, ar condicionado, comodidades, asfalto e quejandos, eram ausentes. Caminhava-se sobre o capim nativo. Casas simples, erguidas ao tempo de uma extinta usina de extração de óleo de dendê, compunham o cenário-presépio.
A pele curtida dos nativos revelava sangue de raízes sertanejas que, no tempo do andar-se em mulas, fugira da seca das bandas nordestinas e lá chegara em busca de trabalho na salina ou na usina então existentes.
As gerações seguintes encontraram, no mar, a sobrevivência.
Som, em Itapema, só se fosse no
alto-falante de um ou outro carro visitante.
Não mais de meia dúzia de bares-empórios formavam a rede de abastecimento local.
Distando apenas uns 70 quilômetros de São Gonçalo dos Campos, costumávamos ir para lá, em sábados estivais. Sentava-me à mesa de madeira de um azul que já se foi, no ‘Bar do Renato’.
“Que temos hoje, Renato?”
A
resposta era inevitável: “O de sempre”.
Tal “sempre”, era sempre o que desejava: frutos do mar.
“‘Quais as novidades, Renato?”
Ele, prontamente, disparava: “As
mesmas!”.
Tais “mesmas”, são tudo o quanto já descrevi.
Meu charuto fumegava.
“Trouxe um para mim?” - indagava Renato.
De imediato, oferecia-lhe um. Empunhava
o charuto, qual relíquia.
Nada conhecia da ‘arte’ de fumar, mas desfrutava – e como – o ‘prazer’ de fazê-lo. Deixava-se comigo ficar, esquecia os demais clientes. Pouquíssimos.
Em Itapema, podíamos dar-nos ao luxo
de eleger um ponto de solidão.
Em compensação, não havia “scotch”; quando muito, cerveja. Ao almoço, uma mariscada ou uma apimentada moqueca. Copos, pratos e talheres com os quais, certamente, não estávamos habituados. Em contrapartida, indesejáveis ausências, propiciavam delícias esquecidas na cidade grande; na hora de voltar, camarões baratos e fresquíssimos.
Nos presentes dias, Itapema, não é mais a mesma. Seus plácidos finais de semana, foram-se às calendas, tornaram-se postais do passado. Não há paciência bastante, para suportar os famigerados “paredões” que por lá se refugiam, a disputar estrondosos decibéis. Letras e músicas? Versões do pior mau gosto.
Hugo A. de
Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de
charutos
Menendez &
Amerino, Suerdieck e Pimentel,
vive em São Gonçalo
dos Campos – BA.
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