domingo, 14 de dezembro de 2014

O espirito do Natal



Hoje eu amanheci lembrando do Dickens, o Charles. Aquele londrino bonachão que tão bem encarnou o espirito do Natal, e que tão bem o exprimiu no seu inesquecível e inigualável “A Canção de Natal”. Pois é Dickens. Você ficaria triste se hoje visse no que se transformou o Natal.

Você ficaria triste Dickens, se constatasse, como eu, que hoje quase todos somos iguais a Ebenezer Sercoge. Hoje o Natal não passa de uma data festiva da qual se aproveitam os comerciantes para faturar um lucro extra, e é só.

As ruas fervilhando de pessoas que fazem suas compras de Natal, mas que carregam no rosto a expressão de quem tem mais um dever a cumprir que um ato de amor a realizar. É triste meu caro Dickens, constatar que tudo não passa de uma farsa. Uma hipocrisia à qual nos acostumamos e da qual não conseguimos nos libertar.

Em cada esquina, em cada vitrine, em cada olhar ou gesto, há apenas o afã de se ter um bom e lucrativo Natal. Neste grande mercado, Papai Noel é apenas uma figura de uma peça publicitaria que alguma agencia de propaganda bolou. E o que é pior, as crianças sabem disso.

Não há mais a doce ilusão do bom velhinho que presenteava os bons meninos. Isto hoje é “caretice”. As pessoas já nem se lembram o que estão comemorando, acredite, eles apenas comemoram, e bebem, e se exaltam, e se emocionam, e acabam fazendo da confraternização uma terapia grupal para aliviar os traumas e neuroses da vida tão atribulada de nossos dias.

Ah! Meu caro Dickens. Seriam necessárias muitas canções de Natal para devolver-nos a paz, a alegria, o amor e a fé. Seriam necessários muitos espíritos de Natal para nos devolver a confiança em nós mesmos, sobre aquilo que acreditamos e sobre o que podemos realizar.




NE: Este texto foi escrito por Cristovam Aguiar há pelo menos duas décadas.

Nenhum comentário: