Hoje eu amanheci lembrando do Dickens, o
Charles. Aquele londrino bonachão que tão bem encarnou o espirito do Natal, e
que tão bem o exprimiu no seu inesquecível e inigualável “A Canção de Natal”.
Pois é Dickens. Você ficaria triste se hoje visse no que se transformou o
Natal.
Você ficaria triste Dickens, se
constatasse, como eu, que hoje quase todos somos iguais a Ebenezer Sercoge.
Hoje o Natal não passa de uma data festiva da qual se aproveitam os
comerciantes para faturar um lucro extra, e é só.
As ruas fervilhando de pessoas que fazem
suas compras de Natal, mas que carregam no rosto a expressão de quem tem mais
um dever a cumprir que um ato de amor a realizar. É triste meu caro Dickens,
constatar que tudo não passa de uma farsa. Uma hipocrisia à qual nos
acostumamos e da qual não conseguimos nos libertar.
Em cada esquina, em cada vitrine, em cada
olhar ou gesto, há apenas o afã de se ter um bom e lucrativo Natal. Neste
grande mercado, Papai Noel é apenas uma figura de uma peça publicitaria que
alguma agencia de propaganda bolou. E o que é pior, as crianças sabem disso.
Não há mais a doce ilusão do bom velhinho
que presenteava os bons meninos. Isto hoje é “caretice”. As pessoas já nem se
lembram o que estão comemorando, acredite, eles apenas comemoram, e bebem, e se
exaltam, e se emocionam, e acabam fazendo da confraternização uma terapia
grupal para aliviar os traumas e neuroses da vida tão atribulada de nossos
dias.
Ah! Meu caro Dickens. Seriam necessárias
muitas canções de Natal para devolver-nos a paz, a alegria, o amor e a fé.
Seriam necessários muitos espíritos de Natal para nos devolver a confiança em
nós mesmos, sobre aquilo que acreditamos e sobre o que podemos realizar.
NE: Este texto foi escrito por Cristovam Aguiar há
pelo menos duas décadas.
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