Época de emoções e também de excessos, principalmente de álcool, as
festas de final de ano acendem um alerta vermelho que deve ser levado
em conta pelos cidadãos, recomendou o presidente da Associação
Brasileira de Alcoolismo e Outras Drogas (Abrad), psiquiatra Jorge Jaber
Filho.
Em entrevista hoje (26) à Agência Brasil, Jaber informou que, do ponto de vista fisiológico, o ser humano tem necessidade de algumas substâncias químicas no cérebro, que são os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha.
Em entrevista hoje (26) à Agência Brasil, Jaber informou que, do ponto de vista fisiológico, o ser humano tem necessidade de algumas substâncias químicas no cérebro, que são os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha.
“Há uma tendência na vida
das pessoas, que se radicaliza nesse momento de datas festivas, de
haver falta dessa substância no cérebro. Aí, a pessoa toma alguma
substância, como o álcool, que é um estimulante em pequenas doses, mas
que, se tomado em excesso, acaba produzindo o efeito inverso. Em vez de
um estímulo ao sistema nervoso central, ela passa a ter uma inibição
desse sistema, fazendo com que aumente ainda mais a depressão,
decorrente muitas vezes da lembrança de pessoas queridas que não estão
mais presentes”, disse o psiquiatra.
Segundo Jaber, há uma
inversão de valores nas festas de fim de ano, com crescimento do aspecto
mais materialista da data, e não dos valores espirituais. “Assim, as
pessoas acabam abusando dessas substâncias, que adicionam no organismo,
como adicionam comidas”. Ele explicou que, a partir daí, há um abuso que
pode ser o fator determinante de doenças como alcoolismo e dependência
química.
O psiquiatra salientou que, nessa época, costuma
aumentar o número de internações tanto em hospitais de pronto-socorro
como em clínicas psiquiátricas. “A situação da saúde pública ainda não
conseguiu resolver a questão de leitos hospitalares e, em relação à
saúde mental, vigora a política da redução do dano. Ou seja, a pessoa
pode usar [álcool, no caso], desde que não cometa atos que piorem a sua
vida”. Segundo ele, o Brasil está experimentando esse tipo de política,
mas, aparentemente, não tem tido o sucesso esperado. Isso é constatado
pela existência de cracolândias, áreas onde se reúnem centenas de
pessoas drogadas, principalmente nas grandes metrópoles.
Jaber
lembrou que quase todas as pessoas que usam álcool começaram usando
tabaco e daí passaram para a maconha. “Quase todos os que usam maconha
começaram com tabaco ou álcool. Essas três drogas são fundamentais para
levar ao uso da cocaína.”
De acordo com o Levantamento Nacional
de Álcool e Drogas (Lenad), feito pelo Instituto Nacional de Políticas
Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo,
a proporção de bebedores frequentes (que bebem uma vez por semana ou
mais) subiu 20% no país entre 2006 e 2012, passando de 45% para 54%. A
expansão entre as mulheres (34,5%) foi maior do que entre os homens
(14,2%), no período pesquisado.
Em termos de concentração do
consumo de álcool, o levantamento mostra que 20% dos adultos brasileiros
que mais bebem ingerem 56% de todo o álcool consumido. A pesquisa
revela ainda que quase dois de cada dez bebedores apresentaram critérios
para abuso ou dependência de álcool e que 32% dos adultos que bebem
relataram não terem sido capazes de parar depois que começaram a beber.
O
levantamento constatou também a relação entre abuso de álcool e
depressão. Dos 5% de brasileiros que tentaram tirar a própria vida entre
2006 e 2012, em mais de dois de cada dez casos, o que equivale a 24%, a
tentativa estava relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas.
Para
o presidente da Abrad, a tendência é aumentar o uso de álcool no
Brasil. “O que nós temos visto é um aumento do custo na saúde pública da
liberação do álcool para menores de 18 anos. E isso leva a um abuso
cada vez mais cedo nos jovens, gerando alterações físicas e mentais
muito importantes”. Jaber criticou a falta de fiscalização na venda de
bebidas para crianças e adolescentes, principalmente em postos de
gasolina, onde os jovens compram suco ou refrigerante e tomam misturado a
álcool. “Todos veem isso acontecer e não há um efetivo combate a essa
prática.”
O psiquiatra ressaltou que não há distinção de classe
social ou de nível socioeconômico entre os bebedores de álcool no país.
“Os mais abastados costumam misturar vodca com bebidas energéticas ou
cafeínicos, enquanto os menos abastados procuram tomar cerveja com
cachaça ou fazer essas misturas chamadas batidas, que misturam cachaça
com refrescos ou refrigerantes”. Ele destacou ainda que, nas comunidades
carentes, a situação econômica favorece a venda de substâncias
ilícitas, como o álcool, entre menores de idade. (Alana Gandra - Agencia Brasil)
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