segunda-feira, 21 de junho de 2021

Segunda é dia de crônica -Todos pela punheta

Quem não gosta de punheta, bom sujeito não é, portanto, que atire a primeira a primeira pedra quem não se sentiu realizado depois de matar o desejo com uma punheta executada no capricho, feita por quem tem borogodó de fazer bem feito. Sabe lá o que é estar subindo pelas paredes, mais carente que cachorro em porta de venda, e de repente um banquete matar sua fome e libertar seu pensamento? Só quem já passou por uma mão habilidosa, que constrói nossa excitação de forma progressiva só de olhar a execução feita com a intenção de nos causar um prazer inigualável e único, sabe do que estou falando. É de repetir que uma iguaria como uma punheta é pouco, duas é bom, e, três, é demais! Eu, jovem, nunca recusei, mas com a idade o apetite é menor embora a degustação e o gozo do ato cheguem as raias da perfeição.
Todo punheteiro – como eu, não nego- sabe que o bom da punheta é o enredo. É juntar a fome com a vontade de comer e se jogar à oferta do destino. Imaginar as mãos precisas, a sabedoria ancestral, o amor entregue no ato da feitura e criação,os dedos banhados em óleo, deslizando, comprimindo e manipulando o conteúdo que vai ganhando uma progressiva consistência endurecida, a ponta mais afilada, o meio mais grosso, generoso, moldado pelo ritmo do vai e vem, enfim, com a forma típica que vocês gostam.
Dizem que a primeira punheta não se esquece, ou, ao menos, a última, até porque há relatos que entre as preliminares, o ponto ideal de fervura, e lambuzar na cobertura que se derrama sobre o produto, gasta-se até quarenta minutos. São porções de execução tântrica. É nesse ponto que todo mundo cai de boca.
A tapioca quentinha, misturada com coco, recoberta por canela, é uma lenda dos tabuleiros baianos, incomparável em sua delícia. Foi por isso que me revoltei ao ler que um aplicativo de entrega de comida suspendeu a punheta- uma tradição Baiana como a Igreja do Bonfim- do cardápio, por ser ofensivo. A estupidez do cancelamento se estendeu além-mar para a punheta de bacalhau e a batata ao murro(deve haver uma Delegacia de Proteção as Batatas). Na lista de ameaçados estão o “molho à puttanesca”, o “beijo de freira’, o ‘sonho de pobre’, o “nego bom”, o “mané pelado”, e o bolo “lua de mel de mandioca”, preconceituoso por imaginar que só há lua de mel se houver mandioca no meio.
Não, amigos, não abro mão do que me dá prazer, em domicílio ou nas ruas. Não largo a punheta - ou bolinho de estudante - e peço apoio de todos, porque os punheteiros unidos jamais serão vencidos. Sigam-me os que forem punheteiros. Ninguém dispensa a mão de ninguém. A punheta há de resistir!

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