Na última segunda-feira (19), a cidade
de São Paulo experimentou algumas horas de escuridão já no meio da
tarde. Próximo às 15h, o céu ficou preto, como se alguém tivesse
desligado o Sol – o que motivou diversas postagens nas redes sociais.
O fenômeno foi explicado por
uma combinação atípica: a chegada de uma frente fria vinda do litoral do
estado (que trouxe umidade do oceano), nuvens baixas carregadas e,
principalmente, a presença de névoa seca. Com partículas de detritos em
suspensão, essa camada densa impedia a chegada de luz do Sol e
prejudicava a visibilidade.
Para
notar a tal frente fria, bastava olhar os termômetros. Segundo o Inmet
(Instituto Nacional de Meteorologia), na tarde do domingo (18), a
temperatura às 15h era de 28,4°C. No mesmo horário do dia seguinte (19),
registrou-se 15,3°C – um declínio de 13°C. Isso deixou o dia encoberto e
com garoa em diferentes cidades do estado de São Paulo já no começo da
segunda-feira. Mas faltava entender a origem da camada densa, que fez o
dia virar noite.
Institutos
brasileiros de pesquisa climática deram explicações diferentes para o
problema. De acordo com o Climatempo, a fumaça originada por queimadas
na região amazônica teria sua parcela de culpa no problema. Em texto assinado
pela meteorologista Josélia Pegorim, o instituto atribui o fenômeno a
“grandes focos de queimadas que há vários dias são observados sobre a
Bolívia, em Rondônia, no Acre e no Paraguai”.
Segundo o documento, a passagem da
frente fria fez o vento de camadas mais altas da atmosfera (entre mil
metros e 5 mil metros de altitude) mudar de direção. Com isso, a fumaça
acabou “direcionada para o estado de São Paulo, mas também para a região
sul de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná”. O
texto destaca, ainda, que o satélite Terra/MODIS, operado pela Nasa,
detectou que uma grande quantidade de fumaça vinda da Bolívia e de
Rondônia se encaminhava ao sul do Brasil no dia 17 de agosto. A fumaça,
antes concentrada do sul do país, teria ganhado Paraná e Mato Grosso do
Sul e alcançado São Paulo no dia 19 de agosto – justamente quando a
tarde ficou escura na capital paulistana.
Especialistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no entanto, deram uma explicação diferente: a formação de nuvens baixas e densas já seria suficiente para explicar o céu preto. A influência dos incêndios, e do corredor de fumaça que eles formaram no centro-sul, foi descartada pelo instituto: “O
vento até pode trazer essa fumaça de queimadas, mas teria que ser bem
intenso o incêndio. Geralmente, isso ocorre mais com fumaça de vulcões”,
afirmou Caroline Vidal, meteorologista do Inpe, em entrevista ao G1.
Para
meteorologistas do Inmet, porém, partículas de fumaça teriam, sim,
culpa no cartório. Mas não somente as que vieram da região norte do
país. Segundo o órgão, foram as
queimadas entre a Bolívia e o Paraguai que transportaram a maior parte
da fumaça até os estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo –
restringindo a visibilidade no céu da capital paulistana.
“Parte deste material é de origem
local e oriundo da Amazônia, mas outra parte considerável, talvez a
predominante, de queimadas de grandes proporções, originadas nos últimos
dias perto da tríplice fronteira [Bolívia, Paraguai e Brasil], próximo
da região de Corumbá, no Pantanal Sul-Matogrossense”, disse o Inmet, em
nota técnica enviada à SUPER. Dados do Inpe mostram que entre os dias 17 e 18 de agosto, foram contabilizados 180 focos de incêndio em Corumbá. Nenhum outro lugar do país queimou tanto no mesmo período.
Um
fenômeno parecido ao que paulistas experimentaram na última segunda é
comum no centro-oeste e norte do país. Não só no Mato Grosso do Sul, mas
também no Mato Grosso, Acre, Rondônia, sul do Pará e Maranhão, segundo destaca o Climatempo,
isso se repete com frequência sobretudo no fim do inverno. A época
costuma ser marcada por grande número de queimadas, que espalham fumaça
pela região. A ausência de chuvas faz o ar ficar seco e quase sem nuvens
– o que contribui para esconder o Sol e deixar o céu com tons mais
opacos.
Ainda
assim, o fato é que as análises definitivas sobre o que causou a
escuridão em São Paulo só devem sair nos próximos dias. “Nenhuma das
duas hipóteses [incêndios na Amazônia ou na região do Pantanal] podem
ser conclusivas. Se isso tem totalmente a ver, qual o percentual
representa, é algo que ainda precisa ser estudado”, disse Marcelo
Schneider, meteorologista do Inmet, à SUPER.
O ano de 2019 já soma mais de 71 mil focos
de incêndio, segundo o Programa Queimadas do Inpe – um aumento de 82%
em relação a 2018. É o maior número registrado no país em 7 anos de
medições. (Super Interessante)
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