Pense em como é sua vida digital.
Você está no celular, entra em um site de buscas para procurar restaurantes nas redondezas e aparecem várias sugestões.
O
seu aplicativo de música oferece uma playlist que combina perfeitamente
com você, e os seus feeds de rede social são em sua maioria livres de
conteúdo ofensivo.
Mas você sabia que se não fosse por um exército oculto de milhares de trabalhadores em todo o mundo, nada disso seria possível?
São
os chamados "microtrabalhadores" - uma espécie de crowdsourcing
(colaboração coletiva) paga para executar tarefas que as máquinas não
conseguem desempenhar sozinhas.
Esses empregos costumam ter uma
reputação negativa - são vistos como mal remunerados e podem envolver um
trabalho repulsivo, de analisar vídeos e imagens com conteúdo
perturbadores.
Mas para muita gente, é o trabalho perfeito.
O que é 'microtrabalho'?
Os microtrabalhadores geram dados ao transcrever, limpar, corrigir e categorizar conteúdo.
Eles
ajudam a fornecer dados para os algoritmos de aprendizagem automática
("machine learning", em inglês), que são a base da inteligência
artificial.
As tarefas podem incluir desenhar caixas
delimitadoras ao redor de imagens para ensinar aos carros sem motorista o
que é uma árvore, um obstáculo ou uma pessoa em movimento.
Eles
também rotulam os conteúdos com emoções, de modo que os algoritmos de
análise de sentimentos possam aprender como soa uma música "triste", ou
se um texto ou uma palavra é "alarmante".
Podem, ainda,
identificar imagens de seres humanos, para ajudar o reconhecimento
facial a diferenciar entre características como olhos, narizes e bocas.
Quem usa esse serviço?
A Amazon montou a primeira plataforma de microtrabalho em 2005.
Na ocasião, o CEO da empresa, Jeff Bezos, a descreveu como "inteligência artificial artificial".
A
plataforma chama Amazon Mechanical Turk, nome inspirado no "Turco
Mecânico", um robô jogador de xadrez do século 18 que os adversários
enfrentavam pensando estar competindo contra uma máquina, quando na
verdade havia um mestre de xadrez escondido lá dentro.
A Amazon usou esse sistema pela primeira vez para eliminar milhões de
páginas duplicadas de produtos, uma vez que os computadores não
conseguiam perceber diferenças sutis nas páginas, mas os humanos, sim.
No
entanto, como uma pessoa não seria capaz de completar essa tarefa
sozinha, eles dividiram o trabalho em tarefas pequenas, independentes e
repetitivas que poderiam, em teoria, ser realizadas em segundos por
trabalhadores humanos de qualquer lugar.
Em seguida, lançaram esse
modelo de trabalho por meio de um site que servia como intermediário
entre empresas que postavam tarefas e candidatos a relizar o trabalho.
Os microtrabalhadores ao redor do mundo que completam as tarefas são, então, pagos por elas.
Quem são os microtrabalhadores?
É
difícil estimar quantos microtrabalhadores há no mundo, já que as
companhias não divulgam números oficiais, a não ser os de usuários
registrados.
Mas, para se ter uma ideia, estima-se que na Amazon
Mechanical Turk, a plataforma mais conhecida, dezenas de milhares de
pessoas trabalhem todos os meses - e que em qualquer momento do dia haja
cerca de 2 mil a 2,5 mil microtrabalhadores ativos.
Esse número foi calculado por Panos Ipeirotis, professor na Universidade de Nova York, nos EUA.
O
estudo dele constatou que a maioria dos trabalhadores da MTurk está
baseada nos EUA e na Índia - mas isso se deve principalmente ao fato de
que a plataforma limitou por muitos anos o acesso de trabalhadores de
fora do território americano.
Atualmente, existem muitas outras plataformas de microtrabalho ao redor do mundo.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) entrevistou 3,5 mil microtrabalhadores em 75 países.
E descobriu que a idade média dos entrevistados era de 33 anos.
Um terço era de mulheres, mas em países em desenvolvimento, esse percentual caía para um quinto.
Eles
também são instruídos - menos de 18% dos entrevistados haviam estudado
até o ensino médio, um quarto havia frequentado a universidade e 20%
tinham pós-graduação.
Mais da metade é especialista em ciência e tecnologia, 23% em engenharia e 22% em tecnologia da informação.
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