Falta energia na sua casa. E em boa parte da cidade. Nas ruas,
batidas em cada esquina provocam uma avalanche de vítimas e de feridos. O
motivo? Hackers invadiram o sistema dos semáforos e o deixaram uma
bagunça. Em hipótese alguma você pode usar a água que chega na sua
torneira, já que ela foi envenenada durante o tratamento. Fábricas
paradas, postos sem gasolina e mais — muito mais.
Parece história de filme pós-apocalíptico, mas seria a
realidade da vida em um ciberataque da pesada. De acordo com um
especialista em cibersegurança e guerra cibernética da Universidade do
Estado de Dakota do Norte, nos EUA, o número de mortos em uma ofensiva
de hackers de grandes proporções seria comparável ao de um ataque
nuclear. A diferença é que a bomba atômica vaporiza instantaneamente
quem estiver em um raio de 30 metros da explosão e mata praticamente
todos 800 metros ao redor.
O ciberataque é mais sutil, mas de maneira alguma menos letal.
Poucos sabem, mas uma campanha coordenada de incursões de hackers a
serviço de governos ou de organizações terroristas seria capaz de
asfixiar uma sociedade e causar um número imenso de vítimas. Para chamar
a atenção para a questão, o cientista da computação Jeremy Straub
escreveu um artigo no site The Conversation sobre os riscos de uma guerra cibernética.
Ele argumenta que todos temem, e com razão, a escalada das
tensões entre países como EUA, Rússia, Irã e Coreia do Norte — e a
perspectiva de uma nova corrida nuclear. Assim como nos tempos da Guerra
Fria, o arsenal atômico das superpotências seguem tendo o potencial de
destruir o mundo. Mas há tratados internacionais para conter a ameaça,
além da boa e velha destruição mútua assegurada (se me aniquilar, eu te
aniquilo também).
Na guerra cibernética, não tem nada disso. E, além do mais, é
muito mais difícil descobrir a fonte do ataque do que se fosse um míssil
balístico intercontinental. Em seu artigo, Straub frisa que não é sua
intenção rebaixar os riscos de uma guerra nuclear, mas explica muito bem
porque devemos prestar mais atenção nos ataques de hackers. Até agora, a
maioria dos incidentes serviu para roubar dados. Só que a coisa pode
ficar feia — já está ficando.
Há indícios de que sistemas de energia e de água dos EUA foram
invadidos por softwares maliciosos latentes, à espera de serem
acionados. Redes elétricas da Rússia e do Reino Unido também foram
comprometidas dessa forma. Em 2016 e 2017, hackers causaram apagões na
Ucrânia, só para mostrar do que são capazes.
Na Arábia Saudita, equipamentos de uma usina petroquímica quase
explodiram, e nos EUA, sistemas de monitoramento de dutos de petróleo e
de gás foram desligados em 2017. Segundo o FBI, até mesmo usinas
nucleares estão virando alvo desse tipo de ataque — a consequência pode
ser derramamento de material radioativo ou mesmo a explosão de um
reator. Não é nada absurdo pensar que a próxima Chernobyl pode ser culpa
de um hacker.
Para instaurar o caos em uma sociedade, basta coordenar ataques
simultâneos em setores vitais para seu funcionamento. Com todos os
serviços essenciais ruindo ao mesmo tempo, em uma área grande, o número
de mortos facilmente alcança o de uma bomba atômica. Straub reforça que a
única maneira de se proteger contra esse tipo de guerra é reforçando a
segurança dos sistemas em todas as esferas, e formando mais pessoal
qualificado na área. É um mercado que só cresce, com vagas de emprego
sem profissionais para preenchê-las. (Super Interessante)
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