Casais que usam fertilização in vitro ou inseminação
artificial para ter filho podem escolher o sexo do seu bebê se pagarem
caro por isso. Entre as opções, análises cromossômicas permitem
determinar se o embrião fecundado é do sexo masculino ou feminino, e uma
tinta fluorescente aplicada ao esperma possibilita diferenciar os que
vão gerar meninos dos que criarão meninas.
Países como o Brasil e o Reino Unido proíbem a escolha
do embrião a ser implantado pautada puramente por preferência de
gênero, a não ser que haja razões médicas específicas, como síndromes
graves e doenças congênitas. Para completar, os métodos existentes são
muito caros e complexos. Ou seja: embora esse Black Mirror seja realidade, é uma realidade inacessível para quase todo mundo.
Mas pesquisadores japoneses acabam de anunciar um novo jeito de separar o esperma – que pode mudar tudo.
Ao contrário das técnicas atuais, essa não requer procedimentos genéticos complicados
nem apresenta riscos de danificar o DNA do gameta ou do embrião. Sua
separação é de natureza mecânica. Funciona assim: os homens produzem uma
quantidade mais ou menos balanceada de espermatozoides que carregam o
cromossomo X, e outros que levam o Y. Se o X encontrar o óvulo, nasce
uma menina (XX); se for o Y, vem um menino (XY).
Até agora, pensava-se que os espermatozóides X e Y dos
mamíferos tinham a mesmíssima estrutura, exceto pelas diferenças no
código genético que carregam. Estudo conduzido na Universidade de
Hiroshima, no Japão, mostrou que não é bem assim. É que os gametas
masculinos X possuem 500 genes ativos que são totalmente inexistentes
nos Y. Destes, 18 codificam proteínas que emergem na superfície da
célula reprodutora.
Duas dessas estruturas são receptores capazes de estabelecer
ligações com determinados químicos no ambiente ao redor. E quando isso
acontece, a produção de energia desses gametas acaba sendo comprometida,
fazendo com que se locomovam mais devagar. Basta retirar a substância
para que o efeito passe sem deixar sequelas nos espermatozóides. Mas,
enquanto dura, ele faz os Y nadarem mais rápido do que os X.
Os resultados publicados nesta terça (13) no periódico PLOS Biology
apontam que, levando em conta sua simplicidade, a técnica é
assustadoramente eficiente. Testes com esperma de rato submetido à
fertilização in vitro demonstraram que 90% dos embriões
fecundados com os nadadores mais apressadinhos deram origem a ratinhos,
enquanto 81% dos mais lentos resultaram no nascimento de ratinhas. Tudo
indica que o método funcione em humanos.
Segundo Masayuki Shimada, um dos autores da pesquisa, o foco
para aplicação da tecnologia não é a reprodução humana assistida, que
reconhece levantar sérias questões éticas, mas sim a criação de animais.
Por exemplo, quem produz leite gostaria que só vacas nascessem em sua
fazenda, enquanto quem produz carne acharia melhor que apenas bois
viessem ao mundo. Mas sabemos que as descobertas da ciência podem fugir
do controle.
Além do Brasil e do Reino Unido, Austrália, Canadá, China e
Índia também proíbem a seleção do sexo do bebê sem nenhuma razão médica.
No entanto, os Estados Unidos e a maioria dos países permitem.
Especialistas temem que, em um futuro próximo, além de ser usada em
laboratório, a técnica possa ser aplicada em cremes e pomadas vaginais
para aumentar as chances de o casal conceber um filho homem. E isso não
seria nada bom. (Super Interessante)
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