segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O grupo de cientistas que descobriu as regras que orientam a vida no planeta e mudou nossa visão do mundo


"Esta é uma história de esperança autêntica, fundamentada na ciência e baseada em experiências da vida real, sobre o que pode ser feito."
A história a que o biólogo Sean B. Carroll se refere é sobre a recuperação de paisagens, ressurgimento de florestas, retorno de espécies e o florescer de novas vidas.
Tudo isso graças ao trabalho pioneiro de cinco cientistas de quem talvez você não tenha ouvido falar, mas que têm algo importante a dizer.

No espaço de seis décadas, cada um deles foi adicionando seu conhecimento para testar uma hipótese — até chegar a uma teoria reveladora.
"Eles viram coisas que ninguém havia visto antes, pensaram coisas que até então ninguém havia pensado e o que descobriram mudou a maneira como vemos a natureza", diz Carroll, em entrevista à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
E ele não está exagerando.
Além disso, demonstraram que, embora a intervenção do homem possa ser — e tenha sido — prejudicial ao planeta, ela também pode ser benéfica, "algo que precisamos levar em conta nesse momento".

O que sabíamos

Todos esses cientistas começaram a partir de uma visão de mundo que talvez, hoje, seja familiar a todos nós.
As plantas recebem luz solar e a transformam em alimento; alguns animais comem essas plantas e, em seguida, predadores se alimentam de alguns desses devoradores de plantas.
A cadeia alimentar é um conceito amplamente conhecido, mas há mais
Mas, na década de 1960, um destes cientistas, o ambientalista americano Robert Paine, se perguntou se os predadores não eram realmente nada além disso, se o seu papel na natureza se reduziria apenas a comer carne na cadeia alimentar.
O problema era como investigar...
"Você não pode tirar todos os leões de um ambiente para ver o que acontece", escreve Carroll no livro The Serengeti Rules - The Quest to Discover How Life Works and Why It Matters ("As regras dos Serengeti - a missão de descobrir como a vida funciona e por que ela é importante", em tradução livre).
Ele precisava de um lugar onde todo o ecossistema estivesse contido e tivesse um tamanho gerenciável.
Até que encontrou as poças de maré da Baía de Makah, no noroeste dos Estados Unidos, onde havia tudo o que ele precisava: cerca de 15 espécies de organismos, gastrópodes carnívoros se alimentando de cracas, ouriços-do-mar se alimentando de algas...
As poças de maré estavam cheias de vida... e de estrelas do mar
... e, o mais importante, um grande predador: estrelas-do-mar.
"As pessoas veem e pensam: 'Que lindas!' Mas elas são ferozes. São grandes devoradoras. Comem cracas, são fascinadas por mexilhões... são os leões das poças de maré", diz Paine no documentário The Serengeti Rules ("As regras dos Serengeti", em tradução livre), baseado no livro de Carroll.

Com e sem estrelas

Ele podia dar início então ao experimento.
Paine tirou as estrelas-do-mar de uma das poças de maré, mas de outra, não — e, durante meses, observou o que acontecia.
Logo ele começou a notar as mudanças na piscina sem estrelas-do-mar: os mexilhões começaram a se multiplicar, enquanto outras espécies desapareciam.
Após alguns anos, das 15 espécies que existiam originalmente restavam apenas os mexilhões.
Paine retirou espécies diferentes de outras piscinas — mas em nenhum dos casos aconteceu o mesmo.
Claramente, a diversidade nas poças de maré dependia das estrelas-do-mar.
O predador era o bastião do ecossistema.
Os experimentos dele mostraram que em ecossistemas maduros alguns animais são mais importantes que outros.
E decidiu chamar esses animais de "espécies-chave", por terem um papel vital na estrutura do ecossistema.

A exceção ou a regra?

Paine havia estabelecido as bases, mas era necessário saber se o que descobrira era uma regra de vida ou uma peculiaridade.
Felizmente, a ciência costuma ser um trabalho em equipe — que não precisa ser feito ao mesmo tempo, tampouco no mesmo local.
A ciência é geralmente como um quebra-cabeça: Paine encontrou a primeira peça
No sudoeste do Alasca, há uma ilha vulcânica chamada Amchitka, onde você é recebido por uma placa com os dizeres: "Não é o fim do mundo ... mas daqui você pode vê-lo".
O fim do mundo não era exatamente o que o ecologista marinho Jim Estes estava estudando nesse remoto lugar.
O interesse dele estava debaixo d'água, onde havia encontrado uma floresta de algas que, assim como os bosques na superfície terrestre, fornecia um habitat para muitas espécies, incluindo um grande número de lontras-marinhas.
Um dia, Paine resolveu ir até o lugar seguindo um novo ponto de vista: em vez de ver a floresta como o suporte para as lontras-marinhas, pensaria nas lontras como espécie-chave predadora desse habitat.
"Esse foi o começo do resto da minha vida", conta Estes no documentário.
Para ver que efeito esses mamíferos carnívoros tinham no ecossistema, ele visitou uma ilha próxima chamada Shemya, onde não havia lontras. Quando mergulhou, em vez de encontrar uma floresta cheia de vida, se deparou com um deserto povoado apenas por ouriços.
Estes sabia que as lontras comiam muitos ouriços, e que os ouriços se alimentavam de algas. Sem as lontras, os ouriços se multiplicaram de forma descontrolada e comeram todas as algas. E, sem as algas, todas as outras espécies haviam desaparecido.
Sem os predadores que a protegiam, a floresta subaquática não podia existir.

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