terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O que acontece após Brasil anunciar 1º caso suspeito de coronavírus e elevar risco para 'iminente'?


O Ministério da Saúde confirmou que uma estudante de 22 anos de Minas Gerais que esteve na China e apresenta sintomas compatíveis com os provocados pelo novo coronavírus é o primeiro caso de suspeita no Brasil.
Exames confirmarão se a paciente contraiu o 2019-nCoV, como é oficialmente chamado o vírus descoberto em dezembro passado e que está no centro de uma epidemia na China. A identidade da estudante não foi divulgada.
A expectativa do governo é ter o resultado dos testes até a sexta-feira. Em caso positivo, será o primeiro caso confirmado do novo coronavírus tanto no Brasil quanto na América do Sul.
O governo federal também anunciou ter elevado a classificação de risco do país do nível 1, de alerta, para o nível 2, de perigo iminente. A escala vai até o nível 3, de emergência de saúde pública, quando são confirmados casos de transmissão no Brasil.
"A elevação do risco significa que o país precisa se preparar para uma potencial introdução do vírus por aqui. Já vimos isso ocorrer em outros lugares, e é preciso tomar medidas de contenção para que o primeiro caso confirmado não venha a criar uma cadeia de transmissão no Brasil", afirma Esper Kalles, epidemiologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O governo federal disse que a estudante está internada e isolada no Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, instituição de referência estadual em doenças infectocontagiosas, e 14 pessoas que tiveram contato com ela estão sendo monitoradas.
Desde o início do surto, em dezembro, houve mais de 7 mil rumores no Brasil de pacientes que teriam o vírus, informou o ministério, dos quais 127 foram verificados e apenas este foi, de fato, confirmado como uma suspeita real.
O caso atende os critérios epidemiológicos (a paciente esteve em Wuhan, cidade chinesa onde começou o surto e há casos de transmissão entre pessoas confirmados) e clínicos (apresenta sintomas respiratórios e febre baixa), estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para identificação de possíveis infecções.
No entanto, a paciente disse não ter visitado o mercado que seria o epicentro da epidemia, nem tido contato com nenhuma pessoa doente ou procurado serviços de saúde em Wuhan. Ela passa bem, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está fazendo um levantamento dos passageiros do voo em que a estudante veio da China.
"O país terá agora que monitorar os voos vindos da China, se é que já não está fazendo isso", afirma à BBC News Brasil o infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
"Mas não podemos ser alarmistas. Não é estranho que uma pessoa que veio da região onde o vírus está sendo transmitido esteja infectada. Mesmo que isso se confirme, acredito que haverá apenas casos esporádicos e que o vírus provavelmente não se disseminará."
Vírus já foi detectado em 16 países

Mais de 4,5 mil infecções pelo novo coronavírus já foram confirmados no mundo até agora. Mais de 100 pessoas já morreram — todas na China.
Até o momento, outros 15 países já registraram casos do vírus. Em todos eles, as pessoas haviam estado na região da China onde ocorre a transmissão do vírus de pessoa para pessoa.
O Ministério da Saúde brasileiro recomendou que viajantes evitem ir à China a não ser que seja estritamente necessário.
"Estamos desaconselhando, não estamos proibindo. Não é recomendável que a pessoa se exponha e depois retorne ao Brasil e exponha mais pessoas", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira.
O 2019-nCoV faz parte de uma grande família de vírus que circulam em animais — sete deles podem ser transmitidos para seres humanos e causar desde um resfriado comum até problemas respiratórios que levam à morte.
Os coronavírus estiveram por trás de duas epidemias graves recentes. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) matou 774 das 8.098 infectadas em 2003.
Já a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês) matou 858 dos 2.494 pacientes identificados, em 2012.
"Até o momento, ele parece ser um coronavírus menos letal e que provoca doenças menos graves do que aqueles por trás das epidemias mais recentes. Das pessoas que foram internadas, 40% tinham outras doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou insuficiência cardíaca, que diminuem a imunidade do paciente", diz Boulos.

Número de casos cresce rapidamente

O número de casos vem crescendo rapidamente nos últimos dias. Eram pouco mais de 800 na última sexta-feira e já passavam de 2,7 mil na segunda-feira — em 24 horas, houve um aumento de mais de 50% no total de pacientes confirmados.
Mas isso não significa que são novos casos de contaminação, mas casos suspeitos em que houve resultado positivo nos exames, explica o médico sanitarista e epidemiologista brasileiro Jarbas Barbosa, diretor-assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço regional nas Américas da OMS.
"A capacidade de fazer testes é cada vez maior, porque há mais laboratórios e máquinas dedicadas a isso, e isso eleva o total de casos. Também aumenta porque a transmissão segue ocorrendo, e não há nenhuma evidência de que foi interrompida. Então, o número de casos vai crescer nos próximos dias, infelizmente", disse Barbosa à BBC News Brasil.
Representantes do governo federal participarão nesta terça-feira de uma reunião com a OMS sobre a epidemia, e o Instituto Butantan colaborará com um esforço internacional para a produção de uma vacina.
Mandetta disse que o país está preparado para detectar o vírus e que, a partir do momento em que a OMS passou a indicar desde a segunda-feira que o risco global representado pelo surto é "elevado" e não "moderado", o Brasil ampliará os critérios para o monitoramento de possíveis casos de infecção.
O governo federal fazia isso apenas com pessoas que haviam passado pela Província de Hubei, onde fica Wuhan e que concentra a maioria dos casos na China. "Agora, vamos [considerar] toda a China, não importa qual Província. Muito provavelmente, vai haver uma sensação de que estão aumentando os casos suspeitos", afirmou Mandetta.
A mudança na classificação da epidemia pela OMS se deveu a um "erro de redação" em relatórios anteriores e que a avaliação da situação permanecia a mesma desde 22 de janeiro, com um risco "muito alto" na China, e "alto" regionalmente e no restante do mundo.
O governo também informou que não irá tomar medidas para trazer de volta para os país os brasileiros que estejam na China. "A pessoa tem que ficar onde ela está. Não é orientado remoção mesmo porque você não tem um tratamento específico definido para esse vírus", afirmou Mandetta. (BBC News Brasil)

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