Em 2007, o jornalista
Ernesto Rodrigues lançou o livro “Jogo duro - A história de João Havelange”.
Isso foi antes que o então presidente de honra da Fifa visse o seu nome
envolvido no escândalo de pagamento de propinas, que o fez renunciar ao cargo
honorário na entidade que regula o futebol mundial. Assim que foi lançada, a biografia do
único brasileiro a ter comandado a Fifa, gerou polêmica.
A irritação do veterano dirigente com o livro,
expressada em trechos inteiros riscados, é o mote do documentário “Conversa com
JH”, lançado no Festival do Rio de Cinema. “Eu não quero o livro. Não quero
isso aqui. Já lhe disse. Tá riscado. Isso é uma merda”, esbravejou Havelange,
em declaração apresentada no filme, após ler um trecho da obra que citava uma
passagem do livro “Como eles roubaram o jogo”, de David Yallop, sobre sua
administração na então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje CBF.
João Havelange deixou a FIFA e fez seu sucessor
Joseph Blatter. Mas parece que os escândalos e a corrupção envolvendo a não
acabaram com a saída do brasileiro. Agora, a Fifa e o Comitê
Organizador Brasileiro da Copa do Mundo 2014 são alvo de uma ação civil pública
proposta pelo Ministério Público na Bahia, que pede que a Justiça determine às
entidades a devolução de R$ 31 milhões aos cofres públicos do Estado da Bahia,
atualizados com juros e correção monetária. O valor corresponde ao custo
para instalação de estruturas temporárias na Arena Fonte Nova para a realização
da Copa das Confederações em junho último.
Petições de mesma
natureza foram propostas simultaneamente nas outras cinco cidades que sediaram
o evento: Fortaleza, Belo Horizonte, São Lourenço (PE), Rio de Janeiro e
Brasília. As ações são resultado do trabalho efetuado pelo Ministério Público
Federal e dos MPs estaduais da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais,
Pernambuco e Rio de Janeiro, no âmbito do Fórum Nacional de Articulação das
Ações do Ministério Público na Copa, do Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP).
No total, os gastos públicos com as estruturas
foram de aproximadamente de R$ 230 milhões nas seis cidades-sedes.
Segundo o MP, imagens
anexadas à ação mostram as estruturas temporárias montadas na Arena Castelão
(CE) e no Mineirão (MG), que foram padronizadas em todos os estádios. São
instalações de camarotes VIP, tendas para patrocinadores, lojas oficiais da
Fifa, entre outras.
Para as promotoras, as fotos ilustram a “grandiosidade”
e “natureza voluptuosa” das estruturas, “evidenciam desvio de finalidade do
gasto público” e a falta de interesse público, já que, dado também seu caráter
temporário, as instalações não “trazem nenhum legado à população”.
Ricardo Teixeira
A autorização dada por Andorra, um dos
menores países da Europa, para que Ricardo Teixeira, genro e sucessor de João
Havelange na presidência da CBF, declarasse residência em seu território para
evitar extradição para o Brasil em caso de convocação da Justiça brasileira,
será retirada após a revelação de novos escândalos de desvio de dinheiro por
parte do dirigente.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o acesso a documentos da Justiça
obrigaram o país a revisar o direito de Teixeira a residir no paraíso fiscal.
Segundo reportagem do jornal, Andorra era o destino final do dinheiro da renda
dos amistosos da seleção brasileira durante a era Ricardo Teixeira, em esquema
com Sandro Rosell, atual presidente do Barcelona. Rosell representa a Uptrend,
empresa com sede nos EUA que solicitou à ISE, empresa que negocia os direitos
sobre os amistosos do Brasil até 2022, que fizesse grande parte dos depósitos
do seu acordo milionário em Andorra. Lá, é permitido o sigilo de contas
bancárias de seus proprietários. O destino do dinheiro, segundo os documentos
obtidos pela reportagem, foi o AND-BANK, que ainda conta com escritórios em São
Paulo. Em setembro deste ano, Rosell admitiu “honorários” por amistosos da
seleção.
O Estado de S. Paulo já havia feito
reportagem mostrando que a Justiça de Andorra, entre 2006 e 2008, repassou para
a Justiça da Suíça as movimentações bancárias de Teixeira, o que o levou a ser
indiciado nos tribunais suíços. Foi também uma organização com sede no país
europeu que pagou uma indenização para arquivar processos que corriam na
Justiça contra Teixeira e João Havelange por corrupção na Fifa.
José Maria Marin
O ex-jogador Romário, atualmente deputado federal,
denunciou ao plenário da Câmara um fato que muitos de seus colegas certamente
ignoravam. E uns tantos outros fingiam ignorar, o que não é raro no mundo
político. Por interesse direto, ou por contar que seus colegas façam o mesmo,
quando for do seu interesse. Romário simplesmente contou um episódio triste do
mundo do futebol profissional: Ocorreu em Brasília um jantar no qual o presidente
da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin (amigo e sucessor de
Ricardo Teixeira), foi recebido por um grupo de mais ou menos 25 deputados e
senadores para discutir um assunto. O Ministério do Esporte está preparando uma
medida provisória que concederá anistia a dívidas de clubes de futebol do país
inteiro, no valor de mais ou menos R$ 3 bilhões. É a soma
do que devem ao INSS, ao Imposto de Renda e ao Fundo de Garantia, que eles não
pagaram nos últimos 20 anos.
Provavelmente, é o maior escândalo na história da
cartolagem do esporte profissional brasileiro. Em seu discurso-denúncia,
Romário não revelou o que ficou acertado no jantar que reuniu o presidente da
CBF e parlamentares. Ninguém falou em pagamento: discutiu-se apenas o
encaminhamento da anistia.
E tem mais...
Engana-se quem achar que a simples destituição de
Marin do cargo irá resolver alguma coisa. O presidente da FPF, Marco Polo
Del Nero, amigo de Marin, é também seu vice-presidente na CBF. Recentemente ele
foi preso durante a madrugada, em sua residência, numa ação da Polícia
Federal. Tudo indica que por desdobramentos no caso da ex-secretária do
Governo, Rose, que também tinha atuação no Esporte.
Vale lembrar que Del Nero é sócio do Deputado
Vicente Cândido (PT), ligado ao que há de pior não apenas na política
brasileira, como também a grupos, segundo o MP, de mafiosos internacionais. Mais
um escândalo como tantos outros mais no triste submundo do futebol brasileiro.
Enquanto isso, a revista francesa France
Football denunciou que o Qatar comprou da FIFA o direito de sediar a Copado
Mundo de 2022.
E ainda tem gente que acredita em
honestidade no futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário