sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Brasil imerso no submundo do futebol mundial (Uma Ação Entre Amigos)



  Em 2007, o jornalista Ernesto Rodrigues lançou o livro “Jogo duro - A história de João Havelange”. Isso foi antes que o então presidente de honra da Fifa visse o seu nome envolvido no escândalo de pagamento de propinas, que o fez renunciar ao cargo honorário na entidade que regula o futebol mundial. Assim que foi lançada, a biografia do único brasileiro a ter comandado a Fifa, gerou polêmica.
A irritação do veterano dirigente com o livro, expressada em trechos inteiros riscados, é o mote do documentário “Conversa com JH”, lançado no Festival do Rio de Cinema. “Eu não quero o livro. Não quero isso aqui. Já lhe disse. Tá riscado. Isso é uma merda”, esbravejou Havelange, em declaração apresentada no filme, após ler um trecho da obra que citava uma passagem do livro “Como eles roubaram o jogo”, de David Yallop, sobre sua administração na então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje CBF.
João Havelange deixou a FIFA e fez seu sucessor Joseph Blatter. Mas parece que os escândalos e a corrupção envolvendo a não acabaram com a saída do brasileiro. Agora, a Fifa e o Comitê Organizador Brasileiro da Copa do Mundo 2014 são alvo de uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público na Bahia, que pede que a Justiça determine às entidades a devolução de R$ 31 milhões aos cofres públicos do Estado da Bahia, atualizados com juros e correção monetária. O valor corresponde ao custo para instalação de estruturas temporárias na Arena Fonte Nova para a realização da Copa das Confederações em junho último.
Petições de mesma natureza foram propostas simultaneamente nas outras cinco cidades que sediaram o evento: Fortaleza, Belo Horizonte, São Lourenço (PE), Rio de Janeiro e Brasília. As ações são resultado do trabalho efetuado pelo Ministério Público Federal e dos MPs estaduais da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro, no âmbito do Fórum Nacional de Articulação das Ações do Ministério Público na Copa, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). No total, os gastos públicos com as estruturas foram de aproximadamente de R$ 230 milhões nas seis cidades-sedes.
Segundo o MP, imagens anexadas à ação mostram as estruturas temporárias montadas na Arena Castelão (CE) e no Mineirão (MG), que foram padronizadas em todos os estádios. São instalações de camarotes VIP, tendas para patrocinadores, lojas oficiais da Fifa, entre outras. Para as promotoras, as fotos ilustram a “grandiosidade” e “natureza voluptuosa” das estruturas, “evidenciam desvio de finalidade do gasto público” e a falta de interesse público, já que, dado também seu caráter temporário, as instalações não “trazem nenhum legado à população”.

Ricardo Teixeira
A autorização dada por Andorra, um dos menores países da Europa, para que Ricardo Teixeira, genro e sucessor de João Havelange na presidência da CBF, declarasse residência em seu território para evitar extradição para o Brasil em caso de convocação da Justiça brasileira, será retirada após a revelação de novos escândalos de desvio de dinheiro por parte do dirigente.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o acesso a documentos da Justiça obrigaram o país a revisar o direito de Teixeira a residir no paraíso fiscal. Segundo reportagem do jornal, Andorra era o destino final do dinheiro da renda dos amistosos da seleção brasileira durante a era Ricardo Teixeira, em esquema com Sandro Rosell, atual presidente do Barcelona. Rosell representa a Uptrend, empresa com sede nos EUA que solicitou à ISE, empresa que negocia os direitos sobre os amistosos do Brasil até 2022, que fizesse grande parte dos depósitos do seu acordo milionário em Andorra. Lá, é permitido o sigilo de contas bancárias de seus proprietários. O destino do dinheiro, segundo os documentos obtidos pela reportagem, foi o AND-BANK, que ainda conta com escritórios em São Paulo. Em setembro deste ano, Rosell admitiu “honorários” por amistosos da seleção.
O Estado de S. Paulo já havia feito reportagem mostrando que a Justiça de Andorra, entre 2006 e 2008, repassou para a Justiça da Suíça as movimentações bancárias de Teixeira, o que o levou a ser indiciado nos tribunais suíços. Foi também uma organização com sede no país europeu que pagou uma indenização para arquivar processos que corriam na Justiça contra Teixeira e João Havelange por corrupção na Fifa.

José Maria Marin
            O ex-jogador Romário, atualmente deputado federal, denunciou ao plenário da Câmara um fato que muitos de seus colegas certamente ignoravam. E uns tantos outros fingiam ignorar, o que não é raro no mundo político. Por interesse direto, ou por contar que seus colegas façam o mesmo, quando for do seu interesse. Romário simplesmente contou um episódio triste do mundo do futebol profissional: Ocorreu em Brasília um jantar no qual o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin (amigo e sucessor de Ricardo Teixeira), foi recebido por um grupo de mais ou menos 25 deputados e senadores para discutir um assunto. O Ministério do Esporte está preparando uma medida provisória que concederá anistia a dívidas de clubes de futebol do país inteiro, no valor de mais ou menos R$ 3 bilhões. É a soma do que devem ao INSS, ao Imposto de Renda e ao Fundo de Garantia, que eles não pagaram nos últimos 20 anos.
Provavelmente, é o maior escândalo na história da cartolagem do esporte profissional brasileiro. Em seu discurso-denúncia, Romário não revelou o que ficou acertado no jantar que reuniu o presidente da CBF e parlamentares. Ninguém falou em pagamento: discutiu-se apenas o encaminhamento da anistia.

E tem mais...
Engana-se quem achar que a simples destituição de Marin do cargo irá resolver alguma coisa. O presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, amigo de Marin, é também seu vice-presidente na CBF. Recentemente ele foi preso durante a madrugada, em sua residência, numa ação da Polícia Federal. Tudo indica que por desdobramentos no caso da ex-secretária do Governo, Rose, que também tinha atuação no Esporte.
Vale lembrar que Del Nero é sócio do Deputado Vicente Cândido (PT), ligado ao que há de pior não apenas na política brasileira, como também a grupos, segundo o MP, de mafiosos internacionais. Mais um escândalo como tantos outros mais no triste submundo do futebol brasileiro.
Enquanto isso, a revista francesa France Football denunciou que o Qatar comprou da FIFA o direito de sediar a Copado Mundo de 2022.
E ainda tem gente que acredita em honestidade no futebol.

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