“O Brasil não é
muito grande. Os homens é que são pequeninos” (Millôr Fernandes)
Eu conheço bem as regiões Sul, Sudeste
e, claro, o Nordeste do Brasil. Viajei muito por este país. Não fiz muitas
incursões nas regiões Norte e Centro Oeste, mas, como cultuo o hábito da
leitura, sou sequioso por conhecimento, o que sei sobre estas regiões me basta.
É como já as tivesse visitado. Daí que, vi de perto usos, costumes, a cultura
de diversos povos desse nosso país continental. Por isso, às vezes me ponho a
pensar por que problemas que há muito foram resolvidos em outras regiões, aqui
ainda nos dão dores de cabeça.
É o caso dos camelôs, um problema já
resolvido na maioria das grandes cidades brasileiras, inclusive aqui do
Nordeste, mas que ainda é motivo de transtorno em Feira de Santana. A conclusão
a que chego é a mesma que todas as cabeças pensantes da cidade já chegou.
Trata-se de uma questão cultural. Só que há detalhes que precisam de maiores considerações.
“Nosso povo é mal educado”, bradam alguns, ao tempo em que atiram um saco
plástico ou uma lata de cerveja pela janela do veículo.
Esse é um dos detalhes aos quais me
refiro. Olhamos, julgamos e condenamos as ações dos nossos semelhantes, mas
esquecemos de observar as nossas. O sujeito que declara em voz alta nas mesas
de bar, que falta educação cívica às pessoas, é o mesmo que chega em casa e
liga o som em alto volume, não respeitando o direito dos outros ao silencio.
Mas, vamos nos ater ao caso dos
camelôs. Vamos colocar a extinção da Feira-Livre como marco zero para o
surgimento do problema. Na contramão das grandes cidades, tentou-se confinar
uma expressão cultural numa “modernosa” central de abastecimento. Tirou-se a
espontaneidade, a simplicidade, o hábito de comprar e vender a céu aberto,
cultuadas desde os primórdios da cidade, num espaço fechado com paredes de
cimento e cobertura de amianto.
Passados os instantes primeiros da
novidade, os comerciantes não demoraram a perceber que os negócio não iam bem.
E eis que logo apareceram aqui ou acolá, algum renitente tentando se instalar
no centro da cidade, prontamente reprimidos pelo “rapa”. Mas, não tente o
sertão tomar o espaço do mar, porque este retornará para buscar o que lhe
pertence. E a Feira-Livre retornou ao centro da cidade, modificada,
descaracterizada, reprimida, mas voltou.
O fato é que há vendedores e
compradores com uma grande relação de cumplicidade que ninguém pode mudar. A
solução então seria organizar. Como? É aí que está o X da questão. Além da
questão educacional e cultural, há também uma questão política, esta a maior
responsável pela bagunça, por conta do populismo, permissivismo, e falta de
autoridade dos governantes.
Eu conheci cidades onde feiras livres
acontecem nas ruas, avenidas e praças, sem causar transtorno algum ao transito
e transeuntes. Comecemos por Caruaru, em Pernambuco, onde até hoje acontece
aquela que talvez seja a maior feira livre do Brasil. Vem gente até de outros
países para conhece-la (como vinha para conhecer a nossa). Além da organização,
quando a feira termina, em poucas horas nem parece que houve uma feira ali.
Tudo limpo e cheiroso. Assim o é em diversas feira livres que conheci em outras
grandes cidades brasileiras.
Há pouco tempo estive em Macaé, no
interior do Rio de Janeiro. Um dia, à tardinha, meu anfitrião me levou a uma
rua semelhante à nossa rua Adenil Falcão. Estreita, com um canteiro central. De
um lado e de outro do canteiro, com a frente voltada para o centro do canteiro,
enfileiravam-se barracas confeccionadas em madeira de lei, onde se
comercializava de tudo. Havia hidrantes por todo o percurso da rua, telefone
público distando poucos metros um do outro, no centro do canteiro, bem como
lixeiras, inclusive cada barraca tinha a sua própria.
A feira varou a madrugada, e quando
passei no local no dia seguinte, todas as barracas estavam fechadas, trancadas
a cadeado, e o lugar em nada lembrava o burburinho causado pela multidão que
por ali passara a noite. Fiquei pensando se aquela não seria a solução para o
nosso problema. Já temos o Feiraguay, temos as feiras livres dos bairros,
porque não resolver o problema do centro da cidade, organizando os camelôs ao
longo da avenida Getúlio Vargas. Pistas largas, canteiro central largo e sombreado
naturalmente e vários quilômetros de extensão.
Quando sugeri isso a um grande
empresário da cidade, que inclusive tinha (ou ainda tem) aspirações de ser
prefeito de Feira, ele bradou: “Não faça essa maldade com Feira de Santana”.
Pois é. A cidade é grande, mas as mentes são pequenas.
Um comentário:
Sábias palavras companheiro, você só esqueceu de um detalhe importante na "organização da bagunça",Diante de toda essa problemática de falta de educação, vistas grossas e apadrinhamento político tem uma que acho crucial. Feira é uma Cidade cosmopolita,falta patriotismo, é habitada por estrangeiros em sua grande maioria e os governantes que por aqui passaram poucos são feirenses e sim estrangeiros também, logo nem governantes nem habitantes estão comprometidos com a organização do comércio e sim com seus interesses pessoais.
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