terça-feira, 8 de outubro de 2013

Camelôs: Um problema já solucionado em muitas grandes cidades



 “O Brasil não é muito grande. Os homens é que são pequeninos” (Millôr Fernandes)

         Eu conheço bem as regiões Sul, Sudeste e, claro, o Nordeste do Brasil. Viajei muito por este país. Não fiz muitas incursões nas regiões Norte e Centro Oeste, mas, como cultuo o hábito da leitura, sou sequioso por conhecimento, o que sei sobre estas regiões me basta. É como já as tivesse visitado. Daí que, vi de perto usos, costumes, a cultura de diversos povos desse nosso país continental. Por isso, às vezes me ponho a pensar por que problemas que há muito foram resolvidos em outras regiões, aqui ainda nos dão dores de cabeça.

         É o caso dos camelôs, um problema já resolvido na maioria das grandes cidades brasileiras, inclusive aqui do Nordeste, mas que ainda é motivo de transtorno em Feira de Santana. A conclusão a que chego é a mesma que todas as cabeças pensantes da cidade já chegou. Trata-se de uma questão cultural. Só que há detalhes que precisam de maiores considerações. “Nosso povo é mal educado”, bradam alguns, ao tempo em que atiram um saco plástico ou uma lata de cerveja pela janela do veículo.

         Esse é um dos detalhes aos quais me refiro. Olhamos, julgamos e condenamos as ações dos nossos semelhantes, mas esquecemos de observar as nossas. O sujeito que declara em voz alta nas mesas de bar, que falta educação cívica às pessoas, é o mesmo que chega em casa e liga o som em alto volume, não respeitando o direito dos outros ao silencio.

         Mas, vamos nos ater ao caso dos camelôs. Vamos colocar a extinção da Feira-Livre como marco zero para o surgimento do problema. Na contramão das grandes cidades, tentou-se confinar uma expressão cultural numa “modernosa” central de abastecimento. Tirou-se a espontaneidade, a simplicidade, o hábito de comprar e vender a céu aberto, cultuadas desde os primórdios da cidade, num espaço fechado com paredes de cimento e cobertura de amianto.

         Passados os instantes primeiros da novidade, os comerciantes não demoraram a perceber que os negócio não iam bem. E eis que logo apareceram aqui ou acolá, algum renitente tentando se instalar no centro da cidade, prontamente reprimidos pelo “rapa”. Mas, não tente o sertão tomar o espaço do mar, porque este retornará para buscar o que lhe pertence. E a Feira-Livre retornou ao centro da cidade, modificada, descaracterizada, reprimida, mas voltou.

         O fato é que há vendedores e compradores com uma grande relação de cumplicidade que ninguém pode mudar. A solução então seria organizar. Como? É aí que está o X da questão. Além da questão educacional e cultural, há também uma questão política, esta a maior responsável pela bagunça, por conta do populismo, permissivismo, e falta de autoridade dos governantes.

         Eu conheci cidades onde feiras livres acontecem nas ruas, avenidas e praças, sem causar transtorno algum ao transito e transeuntes. Comecemos por Caruaru, em Pernambuco, onde até hoje acontece aquela que talvez seja a maior feira livre do Brasil. Vem gente até de outros países para conhece-la (como vinha para conhecer a nossa). Além da organização, quando a feira termina, em poucas horas nem parece que houve uma feira ali. Tudo limpo e cheiroso. Assim o é em diversas feira livres que conheci em outras grandes cidades brasileiras.

         Há pouco tempo estive em Macaé, no interior do Rio de Janeiro. Um dia, à tardinha, meu anfitrião me levou a uma rua semelhante à nossa rua Adenil Falcão. Estreita, com um canteiro central. De um lado e de outro do canteiro, com a frente voltada para o centro do canteiro, enfileiravam-se barracas confeccionadas em madeira de lei, onde se comercializava de tudo. Havia hidrantes por todo o percurso da rua, telefone público distando poucos metros um do outro, no centro do canteiro, bem como lixeiras, inclusive cada barraca tinha a sua própria.

         A feira varou a madrugada, e quando passei no local no dia seguinte, todas as barracas estavam fechadas, trancadas a cadeado, e o lugar em nada lembrava o burburinho causado pela multidão que por ali passara a noite. Fiquei pensando se aquela não seria a solução para o nosso problema. Já temos o Feiraguay, temos as feiras livres dos bairros, porque não resolver o problema do centro da cidade, organizando os camelôs ao longo da avenida Getúlio Vargas. Pistas largas, canteiro central largo e sombreado naturalmente e vários quilômetros de extensão.

         Quando sugeri isso a um grande empresário da cidade, que inclusive tinha (ou ainda tem) aspirações de ser prefeito de Feira, ele bradou: “Não faça essa maldade com Feira de Santana”. Pois é. A cidade é grande, mas as mentes são pequenas.

Um comentário:

Adalto Oliveira disse...

Sábias palavras companheiro, você só esqueceu de um detalhe importante na "organização da bagunça",Diante de toda essa problemática de falta de educação, vistas grossas e apadrinhamento político tem uma que acho crucial. Feira é uma Cidade cosmopolita,falta patriotismo, é habitada por estrangeiros em sua grande maioria e os governantes que por aqui passaram poucos são feirenses e sim estrangeiros também, logo nem governantes nem habitantes estão comprometidos com a organização do comércio e sim com seus interesses pessoais.