Um artigo de opinião publicado na
quarta-feira (23) no diário britânico Financial Times diz que o Brasil
mostra "abundância em criatividade e empreendedorismo", mas, ao mesmo
tempo, tem tido um desempenho "constrangedor" na área de inovação
tecnológica.
"Os brasileiros têm orgulho do que
sua criatividade conquistou nas artes, arquitetura e futebol — pense na Bossa
Nova, Oscar Niemeyer e Neymar", escreve Marcos Troyjo, diretor do BRICLab,
da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Ele diz que essa mesma criatividade
teria sido aplicada com sucesso em produtos de empresas como Embraer, Osklen,
Natura e Alpargatas (sandálias Havaianas), e lembra que o país foi saudado como
o mais empreendedor de todos os países do G20 pelo relatório Global
Entrepreneurship de 2010.
"Mas por que nós não vemos (no
Brasil) mais start-ups buscando se tornar Googles, Teslas ou Twitters?",
pergunta ele. "Por que o país vai tão mal quando se trata de abrir
empresas inovadoras com foco em tecnologia?"
O autor diz que é
"constrangedor" quando se considera o número de pedidos de patentes
feitos por empresas brasileiras na Organização Mundial de Propriedade
Intelectual. "Em 2012, os Estados Unidos entraram com 50 mil pedidos; a
China, com 17 mil; e o Brasil só com 600".
O artigo está em um caderno especial do Financial
Times dedicado ao Brasil e focado nos desafios que o país enfrenta no
setor de inovação e pesquisa. "O país precisa mudar para
desabrochar", diz o texto que abre o caderno e que alerta para a
necessidade de o país encorajar avanços no setor, dizendo que, no mundo de
hoje, "não é suficiente ser apenas um exportador de commodities".
Ciência voltada
para Negócios
No seu artigo, Troyjo reconhece que o
país tem publicado pesquisas em publicações científicas, mas nota que não são
trabalhos "com foco em produtos inovadores". Ele diz que iniciativas
do governo como o Ciência sem Fronteiras são "bem-vindas", mas que o
programa mal chega perto de uma Pesquisa e Desenvolvimento voltada para o
mercado, que "requer uma abordagem mais simpática a negócios".
O texto avalia que o setor privado deve
ter um papel mais atuante para mudar este cenário e que sem reformas econômicas
vai ser difícil para o país gerar produtividade e prosperidade para seu setor
de pesquisa e desenvolvimento de inovações. "Inovação geralmente brota de
uma interação entre capital, conhecimento, espírito empreendedor e um ambiente
apropriado", escreve Troyjo.
"(Mas) É possível se criar um
ambiente desses quando o Brasil investe apenas 1% do PIB em pesquisa e
desenvolvimento, contra uma média de 2,3% (dos países) da OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)?", pergunta ele. Troyjo
aponta para essa situação (falta de foco e investimento em inovação
tecnológica) como causa da "desindustrialização da pauta de exportações do
Brasil", ao lado do apetite da China por commodities da agricultura e da
mineração. "As exportações dos setores de agricultura e mineração do
Brasil ultrapassaram as de bens manufaturados no ano passado. Isto não
acontecia desde 1978", diz o Troyjo.
Fonte: BBCBrasil
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