quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Passado e o presente


        Criaram uma Comissão da Verdade para revolver os crimes cometidos pelo regime militar. Os militares tomaram o poder no Brasil em 1964, e só em 1982 o País retornou ao estado de direito, restaurando a democracia após 18 anos de ditadura. Já se passaram mais de 30 anos desde então, ou seja, quase 50 anos destes eventos. Eu entendo o trabalho da Comissão, se ela tem o objetivo de estabelecer a verdade dos fatos para um registro fiel da história política do Brasil naqueles anos difíceis. Mas não vejo porque tanto espaço na mídia, e o uso político que estão fazendo destas informações.
            Se for para trazer ao cenário político os nomes dos que combateram a ditadura, pode ser um tiro pela culatra, se alguém resolver mostrar quem foram os “baluartes da liberdade” e o que eles fazem hoje em dia. A maioria está rica, quase nunca por meios honestos, e muitos mudaram o discurso e até sonham em implantar uma ditadura comunista no Brasil, o que, com certeza, será pior que a ditadura militar. E já em fins dos anos 70, o poeta Ideval Miranda, eternizou em versos essa realidade ainda incipiente: “A estudantada de 68, afazenderou-se”.
            Eu também fui um jovem sonhador como todos os meus amigos adolescentes daquela época. Sempre tive ideais libertários (não por acaso meu lema é “Sempre Livre”), e já aos 14 anos engrossava passeatas estudantis em Salvador. Como professor e jornalista usei as armas que tinha à mão para lutar pela restauração da democracia. Vi amigos espancados, presos, torturados e mortos pela ditadura, ou simplesmente “desaparecidos” ou “suicidados”.
            Tudo aquilo foi muito triste, muito doloroso, como toda guerra o é. Mas se queremos defender a nossa liberdade, temos que saber que há um preço a pagar. E é caro. Porém, vencida uma batalha, só nos resta honrar os mortos e no prepararmos para futuras batalhas, procurando não repetir os erros do passado. Para isso nos vale a história, que precisa ser bem contada e registrada, e preservada através de todos os meios disponíveis. Só para isso o passado serve.
            Esta semana li que os indígenas estão revoltados com os monumentos aos desbravadores dos sertões brasileiros, que colonizaram o País através de grupamentos conhecidos como “Entradas” e “Bandeiras”. “Estão homenageando aqueles que nos massacraram”, reclamam. Se formos revolver o passado sobre estas questões não vamos ter tempo para viver o presente. Era uma outra época, outras conjunturas, outros costumes, e aos olhos dos colonos os líderes daquelas campanhas foram heróis, e muitos deles caíram no campo de batalha, alguns mortos a flechadas, e outros, com menos sorte, foram parar na panela de algum canibal.
            Os negros no Brasil, mais de 120 anos depois da Abolição da Escravatura, ainda não se libertaram das algemas, na maioria das vezes impostas por eles mesmos, que preferem lamentar ou retaliar os brancos com o mesmo preconceito com que foram tratados no passado, em vez de lutar por melhores condições de vida no presente.
            Como disse, o passado é bom para nos lembrar de não repetir erros, mas a vida mesmo, é vivida no presente. Um dia de cada vez. Sem pressa.

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