Eu já disse e repito que todo ser humano
nasce livre, exceto aqueles cujos pais se deixaram escravizar. Não somos
escravos apenas de outros seres humanos, somos escravos de nós mesmos.
Principalmente por conta dos nossos medos, da nossa acomodação, omissão,
mesquinhez, avareza, ignorância, e tantos outros sentimentos primitivos que não
conseguimos controlar.
Refletindo
mais sobre o que seria ser livre, constatei uma verdade aterrorizante (pelo
menos para mim). Quem realmente pode bater no peito e dizer: “Sou livre”!
Raciocinemos: Quando nascemos, dependemos
dos nossos pais. Quando atingimos a puberdade começamos a nos rebelar e
almejamos a independência, o que equivale a viver por conta própria, sem
depender dos pais. Para alcançar tal objetivo, precisaríamos conquistar a
independência financeira, o que só virá através do trabalho ou uma sorte grande
como herança ou jogos de azar. Pelas vias normais, seria necessário estudo para
conquistar uma profissão e ter uma remuneração melhor no trabalho. Caso
contrário, o destino será uma vassoura e um balde, ou coisa muito pior (o crime
tem vagas).
Vamos admitir que alguém foi muito bem
sucedido. Estudou, objete uma boa formação profissional, e agora depende de si
mesmo para fazer o que quiser. Então ele trabalha, ganha um bom dinheiro,
compra uma moradia, tem carro próprio, plano de saúde, e uma conta recheada no
banco. Agora ele já pode casar, ter filhos, netos, e se aposentar com a
sensação do dever cumprido e pode esperar a morte chegar com dignidade.
Lindo conto de fadas, não? Não vamos
nos ater aos ignorantes que vivem de subempregos. Estamos falando de uma pessoa
de elite. Elite mental, cultural, social e financeira. Essa pessoa é livre?
Creio que não.
Existe algo chamado governo, que é dono
da vida de todos que dele não fazem parte. Trabalhamos para alimentar a fome
insaciável deste monstro por dinheiro e poder. Pagamos tributos a ele e
rendemos graças por nos deixar respirar e existir. Poderíamos ter avançado
muito no conhecimento sobre nós mesmos e sobre o universo. Poderíamos estar
mais cientes do nosso papel no universo. Mas, todo o conhecimento é segredo do
Estado. Tudo pertence a ele, inclusive nós, pobres mortais.
Talvez seja por isso que, quando
chegamos ao topo da escala social que o Estado preparou para nós, sentimos esta
ansiedade de lutar para que ninguém mais a alcance, com medo de dividir este
ilusório “poder” com nossos iguais. E esta ansiedade, este medo, este
desespero, nos rouba a felicidade que seria nossa por direito divino.
Não me peçam para apontar uma saída,
porque eu também sou prisioneiro do Estado. Se pudesse recomeçar minha vida a
partir dos 20 anos, sabendo o que sei hoje, eu poderia não ter me casado, não
ter estudado, e viver nas florestas, com os animais e índios, mas ainda assim
não seria livre, porque o Estado está destruindo os oceanos e as florestas em
nome do “progresso” e do “futuro”, e no futuro do Estado não cabem selvagens
nem seres autônomos, independentes. Todos são propriedade do Estado.
Aliás, Raul Seixas disse: “Somos
carrascos e vítimas do mecanismo que criamos”, no caso, este monstro chamado
“Estado”. PS: Publicado em 19/02/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário