domingo, 19 de fevereiro de 2017

Em busca da liberdade

       Eu já disse e repito que todo ser humano nasce livre, exceto aqueles cujos pais se deixaram escravizar. Não somos escravos apenas de outros seres humanos, somos escravos de nós mesmos. Principalmente por conta dos nossos medos, da nossa acomodação, omissão, mesquinhez, avareza, ignorância, e tantos outros sentimentos primitivos que não conseguimos controlar.
Refletindo mais sobre o que seria ser livre, constatei uma verdade aterrorizante (pelo menos para mim). Quem realmente pode bater no peito e dizer: “Sou livre”!
Raciocinemos: Quando nascemos, dependemos dos nossos pais. Quando atingimos a puberdade começamos a nos rebelar e almejamos a independência, o que equivale a viver por conta própria, sem depender dos pais. Para alcançar tal objetivo, precisaríamos conquistar a independência financeira, o que só virá através do trabalho ou uma sorte grande como herança ou jogos de azar. Pelas vias normais, seria necessário estudo para conquistar uma profissão e ter uma remuneração melhor no trabalho. Caso contrário, o destino será uma vassoura e um balde, ou coisa muito pior (o crime tem vagas).
         Vamos admitir que alguém foi muito bem sucedido. Estudou, objete uma boa formação profissional, e agora depende de si mesmo para fazer o que quiser. Então ele trabalha, ganha um bom dinheiro, compra uma moradia, tem carro próprio, plano de saúde, e uma conta recheada no banco. Agora ele já pode casar, ter filhos, netos, e se aposentar com a sensação do dever cumprido e pode esperar a morte chegar com dignidade.
         Lindo conto de fadas, não? Não vamos nos ater aos ignorantes que vivem de subempregos. Estamos falando de uma pessoa de elite. Elite mental, cultural, social e financeira. Essa pessoa é livre? Creio que não.
         Existe algo chamado governo, que é dono da vida de todos que dele não fazem parte. Trabalhamos para alimentar a fome insaciável deste monstro por dinheiro e poder. Pagamos tributos a ele e rendemos graças por nos deixar respirar e existir. Poderíamos ter avançado muito no conhecimento sobre nós mesmos e sobre o universo. Poderíamos estar mais cientes do nosso papel no universo. Mas, todo o conhecimento é segredo do Estado. Tudo pertence a ele, inclusive nós, pobres mortais.
         Talvez seja por isso que, quando chegamos ao topo da escala social que o Estado preparou para nós, sentimos esta ansiedade de lutar para que ninguém mais a alcance, com medo de dividir este ilusório “poder” com nossos iguais. E esta ansiedade, este medo, este desespero, nos rouba a felicidade que seria nossa por direito divino.
         Não me peçam para apontar uma saída, porque eu também sou prisioneiro do Estado. Se pudesse recomeçar minha vida a partir dos 20 anos, sabendo o que sei hoje, eu poderia não ter me casado, não ter estudado, e viver nas florestas, com os animais e índios, mas ainda assim não seria livre, porque o Estado está destruindo os oceanos e as florestas em nome do “progresso” e do “futuro”, e no futuro do Estado não cabem selvagens nem seres autônomos, independentes. Todos são propriedade do Estado.
         Aliás, Raul Seixas disse: “Somos carrascos e vítimas do mecanismo que criamos”, no caso, este monstro chamado “Estado”. 

PS: Publicado em 19/02/2015

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