A maioria dos
palavrões nasceu de termos inofensivos e utilitários que, por metáfora ou
outras formas mais convolutas, acabaram designando coisas obscenas, tabus em
conversas educadas.
Um bom
exemplo é “caralho”, usada hoje como sinônimo de pênis ou como interjeição para
demonstrar espanto. O termo vem do latim characulu, diminutivo de kharax
ou charax, palavra grega que significa “estaca” ou “pau” (esta,
aliás, uma palavra ainda com o sentido original, mas em vias de se tornar um
palavrão). “Ele passou a ser usado para designar o membro do touro na
Antiguidade”, diz o jornalista Luiz Costa Pereira Junior, autor de Com a Língua
de Fora – A Obscenidade por Trás de Palavras Insuspeitas e a História Inocente
de Termos Cabeludos. Daí para virar sinônimo de pênis em geral foi um pulo.
Já “boceta”,
hoje sinônimo de vagina, tem origem no latim buxis, “caixa de buxo” –
buxo, por sua vez, é uma árvore. “As gregas e romanas tinham preferência por
essa madeira para suas pequenas caixas em que guardavam objetos de valor”,
afirma Luiz. Logo, com a evolução da língua, elas foram chamadas de bocetas. Há
registros do termo associado ao órgão feminino em poemas portugueses do século
18. A associação se deve ao fato de ele ser o lugar em que está o tesouro
da mulher.
“Porra”,
termo empregado hoje quando algo dá errado ou como sinônimo de esperma,
designava uma arma de guerra medieval: era um bastão de madeira com ponta
protuberante, cravejada de lanças de metal. O instrumento foi associado ao
membro masculino e, com o passar do tempo, ao sêmen.
Em latim, putta
é "menina". Ainda hoje, em Portugal, "putinhos" quer
dizer crianças pequenas (enquanto "puta", no feminino, é como aqui).
Além do português, o sentido sexual existe em espanhol, francês e italiano.
Como isso aconteceu é um mistério. Uma versão sobre a origem da palavra,
popular sobretudo na Espanha, fala da deusa Puta, uma das divindades agrícolas
romanas, responsável pela poda (puta, em latim). No dia em que podavam as
árvores, as sacerdotisas exerceriam a prostituição sagrada em honra à deusa.
Com o passar do tempo, o nome da deusa virou sinônimo de prostituta. Mas muitos
linguistas desconfiam que é só uma etimologia popular, invenção do povo.
Outros
palavrões mantém seu sentido original - em alguns casos, desde o Império
Romano. "Foda" vem de futuo, fazer sexo (ativo).
"Cu" é uma versão encurtada do latim culum, que, neste
caso, sempre quis dizer a mesma coisa. Em Portugal, ela vale para o todo. No
Brasil, só para o centro, porque para o que vai em volta existe
"bunda" - do quimbundo mbunda (o m é mudo), também com um
sentido que não se alterou. Publicado no (UOL)
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