Quando
indagado sobre o que ainda falta para se sentir realizado, o autor de O
Ventre, O Piano e a Orquestra e Quase Memória, romances
premiados da literatura brasileira, não pensa duas vezes: "Morrer". E
arremata: "Mas, se quiserem me dar o Nobel, aceito!".
Desde que foi
diagnosticado com um câncer linfático, em 2001, Cony tem pensado muito na
morte. "De certa forma, somos todos terminais desde que nascemos",
escreveu em O Homem Terminal.
"Envelhecer
é porcaria. Um homem depois dos 50 é anti-higiênico. Por isso, eu me mataria um
dia", confidenciou em Memorial do Inverno.
O câncer
obrigou Cony a fazer quimioterapia, o que enfraqueceu seus braços e pernas. Em
2013, levou um tombo na Feira dio Livro de Frankfurt, que gerou um coágulo no
cérebro "do tamanho de uma maçã".
Hoje, Cony
anda de cadeira de rodas, perdeu o movimento do lado direito do corpo e compara
o apartamento onde vive, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro, a uma
UTI. Por essas e outras, se diz solidário a quem cogita a hipótese de suicídio
assistido.
"Ninguém
quer morrer sofrendo, chorando e gritando. Eu, pelo menos, não. Quero morrer
numa boa", avisa.
Mas, para
evitar abusos e mal-entendidos, ressalva, algumas premissas devem ser
obedecidas. Uma delas é o paciente manifestar sua vontade por escrito, com a
concordância de três ou quatro membros da família.
Outra é o
médico emitir um atestado comprovando que o paciente é terminal e o estado
dele, irreversível.
"Há
casos em que os remédios já não produzem mais efeito, a família gasta um
dinheiro que não tem e, pior, o paciente não tem mais condições de viver, só de
sofrer. Se não há uma solução médica ou científica, o suicídio assistido é a
saída mais humana que existe", afirma Cony.
'Não quero que me mantenham vivo a qualquer preço'
O assunto,
apesar de macabro, como o próprio Cony admite, é recorrente.
Em outubro do ano passado, o ex-arcebispo
sul-africano Desmond Tutu defendeu, na ocasião de seu aniversário de 85 anos, o
direito ao suicídio assistido ao pedir que, no fim de sua vida, seja tratado
com compaixão.
"Por que
tantos são obrigados a suportar terríveis sofrimentos contra sua
vontade?", indagou em artigo publicado no jornal americano The
Washington Post. "Não quero que me mantenham vivo a qualquer
preço", afirmou o Nobel da Paz, que há 20 anos luta contra um câncer de
próstata.
Desmond Tutu
não é o único adepto da morte digna e indolor. Em junho de 2015, durante
entrevista à BBC Brasil, o físico britânico Stephen Hawking, 73, afirmou que,
caso se tornasse um fardo para as pessoas ao seu redor ou se não tivesse
"mais nada a contribuir", consideraria a hipótese de dar cabo da
própria vida.
"Manter alguém
vivo contra sua vontade é a derradeira indignidade", declarou Hawking, que
desde os 21 anos sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença
degenerativa e incurável que ataca os neurônios responsáveis pelos movimentos
do corpo e provoca perda de controle muscular. Click no link e leia matéria copleta no BBCBrasil
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