sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A Tribuna Feirense anuncia a suspensão de suas edições impressas

Jornais fecham. As cidades e o tempo os matam. Morrer de pé, como as árvores, é, no entanto, melhor do que sobreviver com algemas editoriais e sem compromisso com a verdade, lema que sempre norteou a Tribuna Feirense.
Jornais, quando morrem, não mudam a cidade, ou o correr dos fatos, mas encarceram mais um pouco a liberdade e aniquilam um componente da resistência de um povo. Quando se cala um jornal, triunfam todos aqueles que escolhem estar do lado errado da notícia e fragiliza-se a sociedade.
Jornais independentes são essenciais à vitalidade democrática, à vigilância contra o autoritarismo, o populismo e os excessos do poder – de qualquer esfera –, que tendem sempre à arrogância, ao abuso e à sua utilização em benefício próprio.
Jornais são mantidos por verbas publicitárias públicas, privadas, e, na Tribuna Feirense, contribuição familiar. A violenta crise e recessão do país, com retração de todos os provedores, elevou a níveis inaceitáveis esta participação pessoal em sua manutenção. Poderia passar a cuia de esmoler em algumas instâncias, peregrinar em gabinetes e prolongar a sobrevida do impresso, mas isso me imporia limites, e colocaria a notícia sob o jugo dos interesses, algo inadmissível, já que a independência sempre foi sagrada na redação da Tribuna.
A liberdade de opinião dos colunistas e das matérias, o interesse obcecado pela cidade e suas necessidades, o elogio e a crítica – com erros ou acertos mas desprovidos de intenções secundárias ou barganhas oportunistas – foram e serão sempre a nossa marca. Nunca tivemos feitores. Foi assim que a Tribuna Feirense construiu a credibilidade que é sua referência. Raridade em um ambiente tão comprometido.
Evidente que o tempo está mudando o perfil dos leitores. E a internet é uma opção irreversível de informação, algo que está levando o impresso, no mundo inteiro a um encolhimento progressivo e fatal. Embora ainda falte ao formato digital a força da materialidade, que ainda é assegurada pelo papel.
A Tribuna Feirense, após 16 anos, suspende, nesta edição, a circulação de sua versão impressa, pelo menos até o desenrolar dessa crise. Tenho a absoluta sensação do dever cumprido até aqui. Sem ser jornalista de ofício, creio que não desonrei os que o são e que não desrespeitei o manto majestoso que recobre a notícia produzida com honestidade, seriedade e respeito ao leitor.
O jornal, iniciado por Valdomiro Silva e amigos, em 1999, ao qual logo me associei, permitindo que fosse transformado em diário, sempre ocupou um lugar único no cenário feirense.
Defendemos o interesse coletivo da Sociedade; lidamos com os governos com absoluta transparência e sem prejulgamentos; lutamos ardorosamente pelo patrimônio histórico, a cultura, a preservação do meio ambiente – em especial das lagoas – educação eficiente e um urbanismo voltado para as pessoas.
Defendemos a liberdade, a garantia dos direitos individuais e não toleramos o autoritarismo. Ousamos trazer a blogueira perseguida pela ditadura cubana, Yoani Sanchez, ao Brasil – um furo mundial – e editamos, por vários anos, um Caderno de Cultura de projeção nacional, que foi um marco em um momento em que a cultura feirense não era pauta e se mostrava oculta e dispersa.
Nos últimos cinco anos, toco sozinho o jornal, agora com a editoria de Glauco Wanderley. Creio que cumpri meu dever com Feira. Tentei lhe dar algo, em retorno às oportunidades que me deu, ainda que isso tenha me custado investimentos, esforço pessoal e desgastes. Nunca obtive, nem pedi, qualquer vantagem pessoal em nome do jornal e desafio a que provem o contrário. Fiz tudo o que foi feito porque tenho, por dever, meu coração onde estão os meus pés.
Agora o barco não pode mais ser remado. Agradeço a todos os colaboradores, agências, anunciantes, assinantes, jornaleiros, jornalistas e equipe de produção, alguns conosco desde a fundação. Não esquecerei as memoráveis noites de fechamento e a impressão madrugada afora, na “francesinha” e o prazer incomparável da leitura na manhã seguinte.
Confesso que não me despeço do papel sem emoção. Todo fim amputa. Toda falta esvazia. Tudo que se aparta dói. Parece-me que as 2.595 edições e os milhões de palavras impressas são minha narrativa de sobrevivência, meu deslavado flerte com a permanência.
No entanto, o ciclo precisa se cumprir. Fico com a indelével memória e o registro atemporal dos dias que vivi e que registramos em nossas páginas.
A Tribuna Feirense continuará na plataforma digital e ampliará seu portal de notícias, pois já gozamos na internet da credibilidade conquistada desde a nossa primeira edição, em 1999.
Os colunistas continuarão. E terão mais destaque na nova fase. Afinal, a opinião plural, independente e livre sempre foi o nosso diferencial.
Continuaremos com o mesmo compromisso com a verdade que nos trouxe até aqui. Estamos ao seu lado, leitor. E ao lado da cidade. Contamos com a sua confiança e leitura neste novo tempo.
Sigamos viagem!


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