
Jornais, quando morrem, não mudam a cidade, ou o
correr dos fatos, mas encarceram mais um pouco a liberdade e aniquilam um
componente da resistência de um povo. Quando se cala um jornal, triunfam todos
aqueles que escolhem estar do lado errado da notícia e fragiliza-se a
sociedade.
Jornais independentes são essenciais à vitalidade
democrática, à vigilância contra o autoritarismo, o populismo e os excessos do
poder – de qualquer esfera –, que tendem sempre à arrogância, ao abuso e à sua
utilização em benefício próprio.
Jornais são mantidos por verbas publicitárias
públicas, privadas, e, na Tribuna Feirense, contribuição familiar. A violenta
crise e recessão do país, com retração de todos os provedores, elevou a níveis
inaceitáveis esta participação pessoal em sua manutenção. Poderia passar a cuia
de esmoler em algumas instâncias, peregrinar em gabinetes e prolongar a
sobrevida do impresso, mas isso me imporia limites, e colocaria a notícia sob o
jugo dos interesses, algo inadmissível, já que a independência sempre foi
sagrada na redação da Tribuna.
A liberdade de opinião dos colunistas e das
matérias, o interesse obcecado pela cidade e suas necessidades, o elogio e a
crítica – com erros ou acertos mas desprovidos de intenções secundárias ou
barganhas oportunistas – foram e serão sempre a nossa marca. Nunca tivemos
feitores. Foi assim que a Tribuna Feirense construiu a credibilidade que é sua
referência. Raridade em um ambiente tão comprometido.
Evidente que o tempo está mudando o perfil dos
leitores. E a internet é uma opção irreversível de informação, algo que está
levando o impresso, no mundo inteiro a um encolhimento progressivo e fatal.
Embora ainda falte ao formato digital a força da materialidade, que ainda é
assegurada pelo papel.
A Tribuna Feirense, após 16 anos, suspende, nesta
edição, a circulação de sua versão impressa, pelo menos até o desenrolar dessa
crise. Tenho a absoluta sensação do dever cumprido até aqui. Sem ser jornalista
de ofício, creio que não desonrei os que o são e que não desrespeitei o manto
majestoso que recobre a notícia produzida com honestidade, seriedade e respeito
ao leitor.
O jornal, iniciado por Valdomiro Silva e amigos,
em 1999, ao qual logo me associei, permitindo que fosse transformado em diário,
sempre ocupou um lugar único no cenário feirense.
Defendemos o interesse coletivo da Sociedade;
lidamos com os governos com absoluta transparência e sem prejulgamentos;
lutamos ardorosamente pelo patrimônio histórico, a cultura, a preservação do
meio ambiente – em especial das lagoas – educação eficiente e um urbanismo
voltado para as pessoas.
Defendemos a liberdade, a garantia dos direitos
individuais e não toleramos o autoritarismo. Ousamos trazer a blogueira
perseguida pela ditadura cubana, Yoani Sanchez, ao Brasil – um furo mundial – e
editamos, por vários anos, um Caderno de Cultura de projeção nacional, que foi
um marco em um momento em que a cultura feirense não era pauta e se mostrava
oculta e dispersa.
Nos últimos cinco anos, toco sozinho o jornal,
agora com a editoria de Glauco Wanderley. Creio que cumpri meu dever com Feira.
Tentei lhe dar algo, em retorno às oportunidades que me deu, ainda que isso
tenha me custado investimentos, esforço pessoal e desgastes. Nunca obtive, nem
pedi, qualquer vantagem pessoal em nome do jornal e desafio a que provem o
contrário. Fiz tudo o que foi feito porque tenho, por dever, meu coração onde
estão os meus pés.
Agora o barco não pode mais ser remado. Agradeço
a todos os colaboradores, agências, anunciantes, assinantes, jornaleiros,
jornalistas e equipe de produção, alguns conosco desde a fundação. Não
esquecerei as memoráveis noites de fechamento e a impressão madrugada afora, na
“francesinha” e o prazer incomparável da leitura na manhã seguinte.
Confesso que não me despeço do papel sem emoção.
Todo fim amputa. Toda falta esvazia. Tudo que se aparta dói. Parece-me que as
2.595 edições e os milhões de palavras impressas são minha narrativa de
sobrevivência, meu deslavado flerte com a permanência.
No entanto, o ciclo precisa se cumprir. Fico com
a indelével memória e o registro atemporal dos dias que vivi e que registramos
em nossas páginas.
A Tribuna Feirense continuará na plataforma
digital e ampliará seu portal de notícias, pois já gozamos na internet da
credibilidade conquistada desde a nossa primeira edição, em 1999.
Os colunistas continuarão. E terão mais destaque
na nova fase. Afinal, a opinião plural, independente e livre sempre foi o nosso
diferencial.
Continuaremos com o mesmo compromisso com a
verdade que nos trouxe até aqui. Estamos ao seu lado, leitor. E ao lado da
cidade. Contamos com a sua confiança e leitura neste novo tempo.
Sigamos viagem!
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