quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Uma jovem democracia

        
 Escrevi no Facebook que “nossa democracia ainda é jovem e precisa passar por alguns sofrimentos para amadurecer”. Uma amiga me entendeu mal e fez uma infeliz comparação, afirmando que era como se eu dissesse que “uma mulher precisa ser estuprada para ficar boa”.  O que eu digo é que com o sofrimento ganhamos experiência, crescemos, amadurecemos. Eu não conheço ou não me lembro de nenhuma grande nação, cujo povo é feliz, patriota e cônscio dos seus direitos e deveres, que antes não tenha passado pelo horror de uma guerra.
         Uma guerra, seja em defesa do território, conquista, ou disputas internas (guerra civil), gera medo, dor, luto. São muitos os horrores de uma guerra, mas ela sempre tem um fim. E no final, os vencedores estão sempre mais experientes, amadurecidos. Os sobreviventes de uma guerra sabem o quanto lhes custou a vitória, e vão defender com unhas e dentes o que conquistaram, e não se permitir ser enganados ou atacados sem reagir, sem luta. E estarão sempre conscientes dos seus direitos e deveres.
         As américas foram colonizadas por muitas nações europeias como França, Inglaterra, Portugal, entre outras. Cada colono trouxe consigo um pouco da sua civilização. Seu idioma, seus usos e costumes, suas artes e, porque não, suas ideologias políticas e seus sistemas de governar. O Brasil, dadas as suas dimensões continentais, poderia muito bem ser subdividido em várias nações (a Europa toda cabe aqui dentro), mas não o foi. Daí termos uma imensa diversidade cultural, com diferenças que vão desde o clima, ao folclore, as artes, aos sotaques e até mesmo na forma de vestir, comer ou pensar. Transformar este caleidoscópio numa nação coesa é o nosso grande desafio.
         Além da dimensão territorial e da imensa diversidade cultural, temos contra nós a nossa índole de gente alegre, festeira, humilde e acomodada. Não levamos nada a sério. Acreditamos que todos são bons e alegres como nós. Permitimos que entrem e saiam daqui a hora que quiserem, fazerem o que quiserem, pois não nos querem mal. Esse é o nosso erro. Porque enquanto brincamos de governar, jogamos futebol, fazemos carnaval, vemos televisão, e não percebemos os olhos invejosos voltados para nós. Se antigamente éramos ignorados pelas grandes potências e amigos dos nossos vizinhos, hoje os olhos do mundo todo nos veem como um grande bolo sem dono a ser repartido. Daí que países insignificantes como a Bolívia ou a Venezuela, se acham no direito de se intrometer em nossos assuntos e até ameaçam nos invadir. Perceberam o perigo?
         Nossa independência foi uma farsa. Portugal nos empurrou um abacaxi que era dele em troca de pagarmos a dívida que aquele país tinha com a Inglaterra (já começamos mal, com uma dívida externa que não contraímos). Herdamos o regime monárquico de Portugal e a proclamação da República era (e foi) inevitável. Mas, ficamos sob um regime militar (ditadura). Vieram vários conflitos internos (localizados nas regiões Sul e Sudeste) com os civis alternando o poder com os militares. Quando ensaiamos uma democracia, veio o golpe de 1964. E foram mais 20 anos de ditadura. Mas tudo isso sem muito derramamento de sangue, sem muita luta generalizada. Uma batalha ali, outra acolá, uma guerrilha urbana, outra rural, mas nunca uma guerra de proporções consideráveis.
         Viramos a página dos anos de chumbo com o advento das “Diretas Já”, onde o candidato do povo ganhou e perdeu. Tancredo Neves morreu antes de tomar posse e, para nossa infelicidade, assume José Sarney, o déspota do Maranhão, representando o PMDB, o maior “balaio de gatos” que a política brasileira já gerou, onde se reuniam, além de homens de bem, uma imensa gama de picaretas, comunistas e oportunistas de toda espécie. Deu no que deu: Pluripartidarismo, um sistema onde dezenas de partidos nanicos se unem em coligações para chantagear os grandes e exigir cargos para quem não tem representatividade, respaldo popular. Isso gerou um monstro disforme, travestido de democracia, onde as minorias quase sempre se sobrepõem à maioria, contrariando assim o princípio democrático. De democracia resta somente o fato de que os cidadãos têm direito a voto.
         De tantos fracassos seguidos, apostamos nossas fichas num homem do povo (votei nele na primeira vez), alguém que poderia se tornar no nosso Mandela. Poderia se tornar no estadista humanitário e honesto que nós tanto pedimos a Deus. Mas, pobre de nós, não era um ser enviado por Deus. Por Lúcifer, talvez. Mas nunca por Deus. O sujeito mentiu, enganou, fez falsas promessas, e, travestido de democrata tentou implantar o comunismo no Brasil, um regime político em que os cidadãos se tornam propriedade dos governantes, com limitadíssima escassez de liberdade e direitos. Mas achou guarida entre os preguiçosos, vagabundos e picaretas que abundam neste país.
         Porém, ele e sua quadrilha roubaram tanto, mentiram tanto, enganaram tanto, e sua fome cresceu tanto que começaram a devorar uns aos outros.
         Então. Este é mais um triste episódio da nossa história do qual temos obrigação de tirar lições para amadurecer a nossa democracia.

         

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