A trajetória épica da judoca Rafaela
Silva, das favelas do Rio de Janeiro à consagração olímpica em sua cidade
natal, forneceu ao Brasil um cardápio de interpretações, para todo tipo de
gosto político e ideológico.
A negra humilde que sofreu e venceu o
racismo. A sargento que provou o valor da disciplina militar. A beneficiária de
apoio estatal que atesta o poder dos programas sociais. A mulher obstinada que
não precisou do feminismo ou de cotas em seu caminho de superação individual.
Nas últimas 24 horas, todas essas
Rafaelas povoaram timelines e reportagens no Brasil e no exterior.
O fenômeno chamou a atenção do cientista
político e editor Cesar Benjamim, que o descreveu numa publicação no Facebook:
"Um amigo posta que ela venceu o racismo
brasileiro. Outro destaca que ela integra as Forças Armadas, a reserva moral da
nação. Um terceiro lembra que ela é da Cidade de Deus, uma região do Rio de
Janeiro que os coxinhas não frequentam. Vem mais um e ficamos sabendo que ela
não precisou de cotas", escreveu.
Para Benjamim, todas essas pessoas se
valeram da conquista da judoca para "reafirmar ideias gerais,
preconcebidas". "A vitória de
Rafaela reafirma tudo o que cada um já pensava sobre o mundo. Fortalecem-se
pontos de vista contraditórios, até mesmo antagônicos, que nada têm a ver com
uma simples vitória numa competição esportiva", concluiu.
O menu variado de interpretações parece
remeter a um ingrediente conhecido da psicologia humana: o viés de confirmação.
Grosso modo, trata-se da tendência que temos de, uma vez adotada uma convicção
ou crença, buscar apenas exemplos que a confirmem. Click no link e leia mais no BBCBrasil
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