A intenção da data pode ter sido boa (concorrer com o Halloween), mas uma escolha mais acertada seria 18 de abril, data de nascimento do escritor Monteiro Lobato, que popularizou o Saci Pererê nas aventuras de Pedrinho e Narizinho no Sítio do Pica Pau Amarelo, que até virou série televisiva de muito sucesso entre a garotada, na segunda metade do século passado. Muito antes disso, lá pelos anos 60, eu já me deliciava com a revista criada pelo desenhista e cartunista Ziraldo, A Turma do Pererê. Galileu, o “Onço” pintado; Geraldinho, o coelho; o casal de indiozinhos, Tininin e Tuiuiu, Moacir, o Jaboti carteiro; Allan, o macaco engenhoso; Pedro Vieira, o tatu engenheiro; Boneca de Piche, a namorada do Saci; os Compadres Tonico e Seu Neném. E ainda tinha a sábia Coruja, conselheira da turma, Professor Nogueira, e Mamãe Docelina, a quituteira que fazia a festa da Turma com muitas guloseimas. Ah! Quantas saudades! Eu me identificava com aquele “Moleque Travesso” da lenda, mas muito mais como Pererê do Ziraldo. Gostava de pregar peças nos outros, deixar as pessoas embaraçadas em alguma situação que eu criava. Eu era uma espécie de Saci Pererê urbano. Mas sempre pronto pra ajudar um amigo em dificuldades.
Mas, afinal, quem é o Pererê? De onde ele veio? Como ele surgiu? Foi publicada na revista A Turma do Pererê um episódio sobre o Dia dos Pais. A Turma estava agitada com a aproximação do Dia dos Pais. Todo mundo falava sobre o que dariam aos seus pais e, em dado momento, partiram para ir providenciar os presentes. O próprio Pererê foi ponderando pelo caminho: Talvez eu deva dar um livro. Meu pé “só” de Laranja Lima. Rê, rê, rê... Afinal pai de Saci também deve ter um pé só... Êpa!!! Deve? Quem é o meu pai? E foi nesse dilema que Geraldinho o encontrou. E como o Pererê, também ficou triste, pensativo. Quem seria o pai do Saci. Geraldinho levou o problema para o Professor Nogueira, que explicou:
Há um passarinho endêmico nas matas e caatinga brasileiras que é ventríloquo. Os índios o chamavam de Iaci Iaterê. Ele tem penas escuras e um penacho vermelho na cabeça, e tem o hábito de ficar pulando de galho em galho apoiado apenas em uma das pernas. Quando ele canta, ouve-se o canto de um lado, mas ele está do outro, confundindo os caçadores. Os índios achavam que era um diabinho mágico. Quando os portugueses chegaram, o chamaram de Matinta Pereira. Depois de Martim Cererê. Por último, Saci Pererê. E colocaram logo um gorro vermelho em sua cabeça, como usavam os pescadores de Nazaré. Quando vieram os africanos, colocaram um cachimbo, ou pito, na sua boca e começaram a lhe atribuir poderes mágicos, surgindo assim a lenda de um negrinho que andava pelas matas enganando os caçadores com seus assobios, pedindo fumo e fazendo travessuras como uma criança peralta. Dava nós nas crinas dos cavalos, azedava o leite, assustava as pessoas. De quebra, ainda lhe colocaram furos nas palmas das mãos e lhe deram um rodamoinho que ele usa à guisa de transporte. Assim sendo, o professor Nogueira concluiu dizendo que o “Pai” do Saci Pererê é o povo brasileiro.
Cristóvam Aguiar
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