sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Sexo eco-friendly? Como tornar sua vida sexual mais sustentável

Você já ouviu falar no 'sexo eco-friendly'? A gente explica
 

A preocupação com o meio ambiente está fazendo pessoas mudarem seus hábitos na hora de comer, comprar, viajar...

Para algumas delas, a busca pela sustentabilidade chegou também à intimidade na cama. Nos últimos anos, vêm crescendo a oferta de produtos como preservativos veganos e métodos anticoncepcionais que não geram resíduos.

São iniciativas que fazem parte de uma nova tendência, o sexo eco-friendly, ou algo como "sexo ambientalmente correto".

Entretanto, é preciso cuidado com produtos mais ecológicos, pois eles muitas vezes têm limitações na comparação com métodos comprovadamente muito eficientes na prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e na contracepção. Antes de tomar qualquer decisão sobre sua saúde sexual, é aconselhável que você converse com algum médico ou profissional da área. 

O que é? 

'Todos esses exemplos são válidos e importantes', diz Adenike Akinsemolu sobre iniciativas diversas para diminuir a 'pegada ambiental' das atividades sexuais

"O termo sexo eco-friendly não tem uma definição universal", explica Adenike Akinsemolu, cientista da Nigéria especializada em sustentabilidade. "Mas existem várias abordagens."

"Para alguns, ser ecologicamente correto no sexo significa escolher lubrificantes, brinquedos, lençóis e preservativos que gerem menos impacto no planeta; para outros, significa reduzir práticas nocivas na produção da pornografia, aos trabalhadores e ao meio ambiente".

"Todos esses exemplos são válidos e importantes."

A maioria dos preservativos é feita de látex sintético e usa aditivos e produtos químicos que impedem a biodegradação. Por isso, as camisinhas não podem ser recicladas.

O Fundo de População das Nações Unidas estima que cerca de 10 bilhões de preservativos masculinos de látex são fabricados a cada ano, e a maioria é descartada em aterros sanitários.

Preservativos de pele de cordeiro, usados desde a Roma Antiga, são a única opção totalmente biodegradável de que se tem notícia. Porém, por serem feitos do intestino de uma ovelha, eles não conseguem prevenir as infecções sexualmente transmissíveis devido à porosidade do material.

Por sua vez, muitos lubrificantes convencionais têm uma base de petróleo — logo, contêm combustíveis fósseis. Isso levou a um aumento de alternativas à base de água ou orgânicos.

A médica Tessa Commers, conhecida como @AskDoctorT no TikTok, tem mais de um milhão de seguidores em seus vídeos sobre saúde sexual voltados para o público mais jovem. Seu vídeo mais assistido, com quase 8 milhões de visualizações, é uma receita de lubrificante caseiro feito de amido de milho e água.

Os brinquedos sexuais também estão sendo repaginados — os convencionais dependem muito do uso do plástico. Aço e vidro são algumas alternativas.

Comprar itens recarregáveis também ajuda a reduzir o desperdício e já existem até brinquedinhos sexuais movidos a energia solar no mercado.

A empresa britânica LoveHoney, por sua vez, auxilia no recolhimento de brinquedos sexuais velhos e quebrados que normalmente não podem ser descartados e reaproveitados nas rotas normais de reciclagem. 

Onde mais o desperdício pode ser reduzido?

Há ainda partes menos óbvias de nossa vida sexual em que podemos reduzir o impacto ambiental.

Comprar lingerie com fabricação ética, evitar fazer sexo durante o banho e manter as luzes apagadas são formas de minimizar nosso impacto no planeta.

E como na maioria das coisas que compramos, as embalagens destes produtos se tornam lixo.

Lauren Singer, uma empreendedora e influenciadora "lixo zero" de Nova York diz que é neste ponto que a maioria das empresas pode fazer a diferença.

Preservativos, lubrificantes e pílulas anticoncepcionais costumam gerar resíduos de embalagens que vão para aterros sanitários. No caso dos métodos anticoncepcionais, os DIUs são um tipo que mal gera resíduos, embora apresente seus próprios riscos.

Lauren vive quase sem gerar lixo. Desde 2012, ela junta tudo o que não foi capaz de reciclar em um pote.

"É apenas uma questão de tempo para que as empresas encontrem maneiras de serem mais sustentáveis nessa área (dos produtos relacionados à vida sexual)", diz a influenciadora.

O pote em que Lauren guarda os poucos itens que não conseguiu reciclar não tem camisinhas. Porém, uma vez que esse é o único anticoncepcional eficaz contra as ISTs, ela pede que todos seus parceiros sexuais façam testes para verificar que eles não carregam alguma infecção.

"Hoje eu tenho um parceiro monogâmico, mas se você não se sentir confortável pedindo a um parceiro que faça um teste (de IST) antes de ir para a cama, então provavelmente você não deveria estar com ele."

Lauren Singer tem uma vida 'lixo zero' e guarda as poucas coisas que não consegue reciclar em um potinho

"A coisa mais sustentável que podemos fazer é nos sentir abertos para falar da nossa saúde sexual."

 As decisões sobre sexo e contracepção são individuais, e a segurança deve ser sempre uma prioridade.

"A primeira coisa que digo quando falo desse tema é que não há nada mais insustentável do que uma gravidez indesejada ou uma doença sexualmente transmissível", diz Lauren.

"Temos que considerar quais resíduos valem a pena produzir e quais não. As pessoas não deveriam deixar de usar preservativos ou anticoncepcionais por conta do desperdício que estes geram. É mais importante proteger você e seu parceiro."

A cientista Adenike Akinsemolu concorda.

"O sexo seguro, usando produtos ecológicos ou não, é o mais sustentável para as pessoas e para o planeta no longo prazo", diz Akinsemolu, acrescentando que mesmo assim devemos continuar buscando reduzir a geração de resíduos em nossa vida cotidiana.

Kate Hall, uma influenciadora e defensora do sexo sustentável de Auckland, Nova Zelândia, recomenda que as pessoas "evitem o desperdício, desde que isso faça bem para seu corpo e saúde."

Ela começou a escrever um blog sobre sexo sustentável em 2019, ficou um tempo ausente mas voltou a atualizá-lo depois de perceber o recente avanço no desenvolvimento e venda de produtos sexuais ecologicamente corretos.

"Adoro falar disso, tudo mudou muito desde que comecei a escrever", diz Hall.

"Muitas pessoas no meu entorno são 100% livres de (produzir) resíduos e às vezes colocam os fatores ambientais à frente da sua saúde."

"Também há muitas pessoas que dizem que o desperdício de preservativos ao longo dos anos não é o mesmo que o desperdício produzido ao ter um filho… Acho que essas conversas são supertóxicas — você está debatendo a filosofia da existência humana e essa postura não ajuda os pais que já têm filhos."

O impacto climático de ter filhos

Um estudo de 2017 publicado na revista científica Environmental Research Letters quantificou as emissões de carbono economizadas ao evitar várias coisas.

Viver sem carros economiza 2,4 toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) por ano; deixar de fazer uma viagem aérea transatlântica evita o gasto de 1,6 toneladas; e seguir uma dieta baseada em vegetais economiza 0,8 toneladas por ano.

Não ter um filho em um país desenvolvido economiza 58,6 toneladas por ano. Em países menos desenvolvidos, a pegada de carbono é muito menor, como o gasto por uma criança em Malawi: não mais do que 0,1 toneladas.

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU afirmou que estamos no "estágio vermelho para a humanidade" com o aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos e aumento do nível do mar.

O IPCC também divulgou previsões de como será o planeta para as gerações futuras, o que deixou algumas pessoas desanimadas com a perspectiva de ter filhos.

Personalidades também já revelaram publicamente suas ressalvas sobre esses planos, como o príncipe Harry que, em entrevista à revista Vogue em 2019, afirmou que ele e Meghan Markle teriam "no máximo" dois filhos — citando o meio ambiente como um fator chave nesta decisão.

A parlamentar americana Alexandria Ocasio-Cortez também disse no evento C40 World Mayors 'Summit em 2019 que ela era "uma mulher cujos sonhos de maternidade agora tinham um sabor agridoce", por conta das perspectivas "sobre o futuro de nossos filhos".

As taxas de natalidade já estão diminuindo em muitos países em todo o mundo, uma tendência de décadas que não pode ser atribuída apenas à preocupação com as mudanças climáticas.

Um artigo publicado no periódico científico Lancet no ano passado previu que a população humana atingirá um pico de 9,73 bilhões em 2064, enquanto no final do século, 23 países, incluindo Japão, Tailândia e Espanha, poderão ver suas populações reduzidas pela metade.

A superpopulação contribui para o aquecimento global, no entanto, menos pessoas, e sozinhas, não resolverão a crise climática, defende a organização britânica Population Matters.

No início deste ano, uma pesquisa mundial feita por cientistas britânicos descobriu que três quartos de 10.000 jovens entrevistados concordaram com a afirmação de que "o futuro é assustador", enquanto 41% dos entrevistados estavam "hesitantes em ter filhos", citando as mudanças climáticas como razão para isso.

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