segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Segunda é dia de crônica : O amor acaba


O amor acaba. Artigo, sujeito, verbo. Às vezes, a gramática é só o que resta. Com os mais diversos adjetivos como acompanhamento, o amor acaba. Às vezes, acaba do pouco substantivo do cotidiano. Seja como for, existencial ou literariamente, o amor acaba.
O amor acaba, ainda que a gente não queira, porque é indomável, mas frágil. Acaba, às vezes, antes do final, mas acaba. Mas, se é certo que acaba não é tão certo que ao acabar haverá separação dos acabados. Afinal, nunca estamos preparados para dizer adeus. Somos de permanências, mais que partidas e não aguentamos semear dor na ternura alheia. Outras vezes, a compaixão, as culpas, imobilizam, e recaímos na esperança que também recomece o amor que acaba.
O amor que acaba é igual em todos. Não há manual, ou idade, que ensine como respirar cinzas sem morrer sufocado, pois, o ar de seu pulmão sempre esteve ventilando o pulmão de outro. Por isso, cada um reage a seu modo. Há os que silenciam e se tornam inacessíveis; os que gritam, rasgam roupas, em batalha perdida e escandalosa; os que se tornam impedidos de esquecer. Há os que bebem para se reencontrar e bêbados não se acham no caminho de volta. E há os que emendam um amor no outro, confiantes que só uma posse homérica faz esquecer o abandono monumental de um amor que acaba.
O amor que acaba exige superação. Uma amiga, professora universitária, alguns relacionamentos na folha corrida, disse a mim, rindo, que tinha uma técnica infalível. A cada término de relação fazia uma viagem para esquecer e assim já andou meio mundo. Um valeu ida a Roma; outros, não ultrapassaram a América do Sul; alguns, frugais, bastaram dias de sol no Nordeste. Porque as viagens são escolhidas pela intensidade e tipo de relação. Uns eram amores de sol, exigiam exuberância; outros, de outono, frio e recolhimento. Última vez que falamos estava vindo de Abrolhos- após o fim de tumultuado caso. Veio de lancha, o que a fez enjoar da saída à chegada. A cada vez que vomitava, sentia que jogava fora uma parte do homem. O amor, por vezes, acaba aos pedaços.
De pedaço em pedaço, me diz, quando pisou terra firme, tinha deixado o romance falido nas águas do mar e estava livre. Gargalhando, disse que nunca viu homem tão ruim de ser esquecido.
Ser esquecido é fatalidade inevitável. Ao que parece, o que muda é a milhagem exigida. Cada um que lute por seu merecimento. Podemos valer um café no jardim do Museu Rodin, em Paris; um Tiramisu, no frio de Bariloche; um chocolate, em Gramado; uns dias de céu, sal, sol, em Praia do Forte! Ou, vá lá, moral baixo, um fim de semana no Piscinão de Ramos! O tenso é achar que se a individua sair de perto de mim antes de chegar a esquina o amor acaba.

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