sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Semana da crônica: Temperadinha

A liberdade sexual deixou de ser privilégio das mulheres dos anos sessenta e ganhou o corpo suado e excitado de nossas adolescentes. Resultados diversos tem sido obtido a partir desse liberou geral e da exposição maciça, na mídia, de nossos hábitos. Percebemos estas mudanças em assuntos tão dispares como a virgindade e o cinto de segurança. Há algum tempo o cinto era opcional e a virgindade obrigatória. Nos dias atuais o cinto tornou-se um costume e a virgindade uma falha anatômica a ser corrigida com a maior brevidade possível. E cada vez mais breve.Com a libido exacerbada e hormônios a flor da pele os adolescentes tem desfrutado com furor da liberdade sexual, com a conivência constrangida dos pais e desinformação abismal. O adolescente faz, só não sabe como, nem quando. Este desconhecimento dos ritmos e ritos do corpo tem resultado em nova explosão mundial de gestações inesperadas, com o SUS custeando mais 700.000 partos por ano, de adolescentes.
Tenho diversos exemplos da falta de esclarecimento dos jovens, no consultório, mas o mais surpreendente deles me aconteceu durante uma aula. Há uns anos fui convidado para fazer uma exposição sobre aparelho reprodutor masculino, doenças e relacionamento sexual, para adolescentes do colégio Assis Chateaubriand. Auditório cheio, tema fácil e cativante lá ia eu povoando o tempo de metáforas e imagens tentando seduzir a platéia e esclarecer os mistérios do corpo humano.
Realçando a delicadeza e o rebuscamento de nossa fisiologia disse-lhes que nossas células eram extremamente sensíveis e muy especialmente o espermatozóide e o óvulo. Afirmei categoricamente que elas precisavam estar em condições ideais (e condição ideal não era um motel longe dos pais), em meio ambiente perfeito para que ocorresse a fecundação. Caso houvesse qualquer elemento que atrapalhasse, que interferisse com as exigências de prima-donas destas células, o espermatozóide não conseguiria encontrar o óvulo e não haveria a gravidez. Viajei por outros detalhes do relacionamento e, ao final, franqueei para perguntas. Inicialmente tímidos, logo depois soltaram o verbo.
Até que um aluno fez a pergunta que me surpreendeu e levou a organizadora a encerrar o debate:
- dr, se é verdade que qualquer coisa pode atrapalhar as células lá, se eu colocar limão e sal na menina, isso vai impedir a gravidez?
Surpreso eu só tive tempo de responder:
- meu rapaz, se isto vai impedir a gravidez eu não sei, agora se aquilo já é tão bom ao natural, imagine temperadinha...

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