sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Feira nunca aceitou imposições e cresce de forma independente



         Desde o golpe militar de 1964, quando o prefeito Francisco Pinto foi deposto e preso pela Junta Militar que passou a governar o País, nomeando para o seu lugar Joselito Amorim, que criou-se no seio do feirense um sentimento de rejeição ao autoritarismo, às imposições. Não que Amorim tivesse sido um mau administrador, muito pelo contrário. Foi um homem que demonstrou ter espírito público e amor pela sua cidade.
 
            Mas, Francisco Pinto era um homem simples, popular, um advogado envolvido com as causas populares, muito querido pelo povo, principalmente pelos mais carentes, que eram a grande maioria da população. Feira de Santana era uma cidade pequena, e a prisão e sumiço de vários cidadãos só ajudou a criar esse sentimento de revolta. A cidade começava ali a se transformar num bastião de resistência e luta contra a ditadura militar.

            Findo o mandato de Amorim, a população ainda elegeu João Durval Carneiro prefeito, também um político carismático e popular, filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido da situação. Porém, a partir de 1968 o regime militar endureceu as regras e a luta contra a ditadura recrudesceu. Os políticos da oposição começaram a dominar o cenário político da cidade e em 1972 foi eleito José Falcão da Silva pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição.

            Em seguida foi eleito Colbert Martins, também pelo MDB. Nos anos 80 o governador Antônio Carlos Magalhães já trazia Feira de Santana atravessada na garanta, porque seus candidatos não obtinham sucesso aqui. Mas houve um racha no MDB e ACM aproveitou-se do momento e levou para o seu grupo político José Falcão da Silva, um dos dissidentes do MDB, para ser o seu candidato a prefeito de Feira. Obteve sucesso, principalmente porque o candidato a governador era João Durval, um homem a quem Feira de Santana aprendeu a respeitar, admirar e votar.

            Mas, a presença de um prefeito governista na Prefeitura de Feira durou pouco. Na eleição seguinte Colbert Martins voltava à Prefeitura nos braços do povo. João Durval ainda retornou, depois de Colbert, mas ficou apenas dois anos e deixou a Prefeitura nas mãos de Jose Raimundo Azevedo, um político formado nas bases oposicionistas. José Falcão foi o seu sucessor, mas faleceu poucos meses depois, assumindo vice, Clailton Mascarenhas, também um político de oposição.

            Quando José Ronaldo assumiu a Prefeitura em 2001, era um político do grupo do senador ACM, mas não era o seu candidato. Ronaldo teve que vencer muitas barreiras até conseguir sua candidatura, que só aconteceu porque ninguém o superava nas pesquisas. Mais uma vez, a população elegia quem ela queria. E sempre foi assim. A cidade não aceita imposições. A população sinaliza o seu favorito e não há força que consiga virar o jogo.

            O próprio José Ronaldo sentiu isso na pele. Depois de governar a cidade por oito anos, com índices de aprovação popular que alcançavam a casa dos 90%, não conseguiu impor seu candidato, o então deputado federal Fernando de Fabinho. O povo queria Tarcízio Pimenta, e ele foi obrigado a se render à vontade popular. Vale salientar que na sua reeleição, em 2004, Ronaldo não era o candidato do governador Jaques Wagner, cujo candidato Tarcízio também teve que enfrentar e venceu.

            Em suma, a cidade não aceita imposições. A população sempre faz valer a sua vontade. E é necessário que se diga que quanto mais ameaças e intimidações, mais parece crescer a rejeição no seio do povo. Inclusive, o discurso de que o prefeito tem que ser alinhado com o governador e com o presidente, para que o município possa receber recursos e obras, parece soar como uma ameaça velada e a população tende a reagir.

            Afinal, por décadas o município trilhou seu caminho sem se curvar à vontade de políticos poderosos, e sempre cresceu e se desenvolveu, sendo hoje um município de 600 mil habitantes, segunda maior cidade da Bahia, superior a muitas capitais, a sede de uma Região Metropolitana. Tudo isso por conta da sua privilegiada posição geográfica e pela força de trabalho e amor do seu povo.

Por Cristóvam Aguiar 
(Matéria publicada no jornal NoiteDia edição 05.10.12)

Um comentário:

Joselito Oliveira disse...


Cristovao,parabens,faco leitura toda semana do seu editorial,e cada vez mais aprimoro meu conhecimentos, e quanto a escolha em decidir pelo 25/Jose Ronaldo, Feira de Santana,cidade livre de se impor algo e ela aceitar,valeu Parabens.abcs