Desde o golpe militar de 1964,
quando o prefeito Francisco Pinto foi deposto e preso pela Junta Militar que
passou a governar o País, nomeando para o seu lugar Joselito Amorim, que
criou-se no seio do feirense um sentimento de rejeição ao autoritarismo, às
imposições. Não que Amorim tivesse sido um mau administrador, muito pelo
contrário. Foi um homem que demonstrou ter espírito público e amor pela sua
cidade.
Mas, Francisco Pinto era um homem
simples, popular, um advogado envolvido com as causas populares, muito querido
pelo povo, principalmente pelos mais carentes, que eram a grande maioria da
população. Feira de Santana era uma cidade pequena, e a prisão e sumiço de vários
cidadãos só ajudou a criar esse sentimento de revolta. A cidade começava ali a
se transformar num bastião de resistência e luta contra a ditadura militar.
Findo o mandato de Amorim, a
população ainda elegeu João Durval Carneiro prefeito, também um político
carismático e popular, filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido
da situação. Porém, a partir de 1968 o regime militar endureceu as regras e a
luta contra a ditadura recrudesceu. Os políticos da oposição começaram a
dominar o cenário político da cidade e em 1972 foi eleito José Falcão da Silva
pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição.
Em seguida foi eleito Colbert
Martins, também pelo MDB. Nos anos 80 o governador Antônio Carlos Magalhães já
trazia Feira de Santana atravessada na garanta, porque seus candidatos não
obtinham sucesso aqui. Mas houve um racha no MDB e ACM aproveitou-se do momento
e levou para o seu grupo político José Falcão da Silva, um dos dissidentes do
MDB, para ser o seu candidato a prefeito de Feira. Obteve sucesso,
principalmente porque o candidato a governador era João Durval, um homem a quem
Feira de Santana aprendeu a respeitar, admirar e votar.
Mas, a presença de um prefeito
governista na Prefeitura de Feira durou pouco. Na eleição seguinte Colbert Martins
voltava à Prefeitura nos braços do povo. João Durval ainda retornou, depois de
Colbert, mas ficou apenas dois anos e deixou a Prefeitura nas mãos de Jose
Raimundo Azevedo, um político formado nas bases oposicionistas. José Falcão foi
o seu sucessor, mas faleceu poucos meses depois, assumindo vice, Clailton
Mascarenhas, também um político de oposição.
Quando José Ronaldo assumiu a
Prefeitura em 2001, era um político do grupo do senador ACM, mas não era o seu
candidato. Ronaldo teve que vencer muitas barreiras até conseguir sua
candidatura, que só aconteceu porque ninguém o superava nas pesquisas. Mais uma
vez, a população elegia quem ela queria. E sempre foi assim. A cidade não
aceita imposições. A população sinaliza o seu favorito e não há força que
consiga virar o jogo.
O próprio José Ronaldo sentiu isso
na pele. Depois de governar a cidade por oito anos, com índices de aprovação
popular que alcançavam a casa dos 90%, não conseguiu impor seu candidato, o então
deputado federal Fernando de Fabinho. O povo queria Tarcízio Pimenta, e ele foi
obrigado a se render à vontade popular. Vale salientar que na sua reeleição, em
2004, Ronaldo não era o candidato do governador Jaques Wagner, cujo candidato
Tarcízio também teve que enfrentar e venceu.
Em suma, a cidade não aceita
imposições. A população sempre faz valer a sua vontade. E é necessário que se
diga que quanto mais ameaças e intimidações, mais parece crescer a rejeição no
seio do povo. Inclusive, o discurso de que o prefeito tem que ser alinhado com
o governador e com o presidente, para que o município possa receber recursos e
obras, parece soar como uma ameaça velada e a população tende a reagir.
Afinal, por décadas o município
trilhou seu caminho sem se curvar à vontade de políticos poderosos, e sempre
cresceu e se desenvolveu, sendo hoje um município de 600 mil habitantes,
segunda maior cidade da Bahia, superior a muitas capitais, a sede de uma Região
Metropolitana. Tudo isso por conta da sua privilegiada posição geográfica e
pela força de trabalho e amor do seu povo.
Por Cristóvam Aguiar
(Matéria publicada no jornal
NoiteDia edição 05.10.12)
Um comentário:
Cristovao,parabens,faco leitura toda semana do seu editorial,e cada vez mais aprimoro meu conhecimentos, e quanto a escolha em decidir pelo 25/Jose Ronaldo, Feira de Santana,cidade livre de se impor algo e ela aceitar,valeu Parabens.abcs
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