André Caramante, um dos mais respeitados jornalistas brasileiros na
área da segurança pública, foi obrigado a mudar de país e esconder-se.
Em entrevista, ele conta o que a situação de exceção vivida por ele e
por sua família revela sobre a intrincada relação entre poder e
violência,
Em 14 de julho, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, assinou uma matéria
com o seguinte título: “Ex-chefe da Rota vira político e prega a
violência no Facebook”. No texto, de apenas quatro parágrafos, o
jornalista denunciava que o coronel reformado da Polícia Militar Paulo
Adriano Lopes Lucinda Telhada, candidato a vereador em São Paulo pelo
PSDB nas eleições do último domingo, usava sua página no Facebook para
“veicular relatos de supostos confrontos com civis”, sempre chamando-os
de “vagabundos”. Em reação à matéria, Telhada conclamou seus seguidores
no Facebook a enviar mensagens ao jornal contra o repórter, a quem se
referia como “notório defensor de bandidos”. A partir daquele momento,
redes sociais, blogs e o site da Folha foram infestados por comentários
contra Caramante, desde chamá-lo de “péssimo repórter” até defender a
sua execução, com frases como “bala nele”. Caramante seguiu trabalhando.
No início de setembro, o tom subiu: as ameaças de morte ultrapassaram o
território da internet e foram estendidas também à sua família.
O que aconteceu com o repórter e com o coronel é revelador – e nos
obriga a refletir. Hoje, um dos mais respeitados jornalistas do país na
área de segurança pública, funcionário de um dos maiores e mais
influentes jornais do Brasil, no estado mais rico da nação, está
escondido em outro país com sua família desde 12 de setembro para não
morrer. Hoje, Coronel Telhada, que comandou a Rota (Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar) até novembro de 2011, comemora a sua vitória nas
eleições, ao tornar-se o quinto vereador mais votado, com 89.053 votos e
o slogan “Uma nova Rota na política de São Paulo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário