Todas as noites são mais ou menos
iguais. Os que trabalham retornam às suas casas, ou vão a algum bar ou
restaurante, onde há sempre um aparelho de TV ligado exibindo um telejornal ou
uma novela, prejudicando as relações familiares e até mesmo aquela boa e velha
conversa de botequim. Cansadas, vivendo aquela sensação de impotência para
mudar o estado de coisas, para mudar até mesmo o rumo de suas vidas, as pessoas
se entregam às fantasias, passando a vivenciar as mentiras de obras de ficção
do que a realidade, esquecendo-se das questões políticas e financeiras que
abalam o País.
“Pão e circo”. Era a fórmula dos
romanos para afastar o povo dos problemas do estado, deixando a pista livre
para as negociatas dos governantes em eterna luta pelo poder. Se tem pão
(comida) e circo (diversão), o populacho não se importa com nada mais, deixando
a política para os políticos e sendo por eles governados e manipulados. Mas
isso era em Roma. Porque aqui nós temos que dar um duro desgraçado pelo pão de
cada dia, e o nosso circo é de quinta categoria.
As desculpas para o marasmo, para a
paralisia cerebral, que impede até os jovens, sempre tão ativos, de se
mobilizarem em torno de questões de suma importância para suas vidas, para suas
comunidades, para o País, são várias. “Não tem jeito. Deixa como está”. “Não sou a palmatória do mundo”. “Não quero
me envolver”. E por aí vai. Como se a vida real pouco importasse. Como se os
fatos reais do dia a dia não alterassem em nada as nossas vidas. E tudo que
acontece só acontecesse com “os outros”.
Aí eu me lembro da história do ratinho
que contou aos bichos da fazenda que o fazendeiro havia comprado uma ratoeira.
Ninguém se importou com isso. Mas no dia que a ratoeira disparou em uma cobra e
essa picou a mulher do fazendeiro, ele teve que gastar muito para salvar a
mulher. Matou galinhas para fazer canja para a mulher, matou porcos e cerneiros,
para alimentar visitas e vendeu gado para o abatedouro para fazer frente às
despesas com hospital, médicos e medicamentos. Ou seja. Em comunidade, o
problema de um, afeta a todos.
Alguém aí sabe quem matou Vencerlêncio
e suas duas filhas? Ou quem matou o professor universitário na véspera em que
ele iria denunciar desvio de verbas na UEFS?
Tancredo Neves morreu ou foi assassinado? Lula é ou não culpado pelo
esquema do “mensalão”? Quem são os pistoleiros em motocicletas que estão
matando tanta gente em Feira de Santana? E por que?
Essas sim. São questões da vida real,
que nos afetam diretamente. É para enfrentar problemas assim que temos que nos
mobilizar e concentrar esforços para resolver. Quem acha que não, que a
fantasia dá mais resultados que a vida real, que vá investigar sobre quem matou
Odete Reutman. E seja feliz. Se puder.
7 comentários:
Lúcido e pertinente vosso comentário.
Abraços
Queria saber a data,caso do Vencerlencio, obrigado
Esse caso Vencerlêncio de 1987, morto com as filhas no anel de contorno e o carro foi queimado com todos dentro. Uma barbárie que não era comum naqueles tempos. Me lembro de na escola, ter tido ponto facultativo e ter ocorrido uma das primeiras carreatas da paz, com pombos brancos, flores e tudo em Feira de Santana. Até hoje não se sabe os crápulas que mataram covardemente a família. Triste.
Sim
Qual o mês e data
Caso vecerlencio. 22/11/987
*22 de outubro de 1987. 34 anos.
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