No melhor estilo “Quem Matou Odete
Reutman”, a TV Globo exibiu na sexta-feira passada (19) o capítulo final de
mais uma novela, deixando hipnotizada em frente às telas de TV a grande maioria
da população brasileira, que alcançou picos de audiência antes nunca vistos.
Houve até receio de apagão devido ao imenso gasto de energia gerado pela
quantidade de aparelhos ligados. As ruas estavam desertas como em dia de Brasil
na final da Copa do Mundo de Futebol, outro ópio largamente consumido pela
população brasileira.
Todas as noites são mais ou menos
iguais. Os que trabalham retornam às suas casas, ou vão a algum bar ou
restaurante, onde há sempre um aparelho de TV ligado exibindo um telejornal ou
uma novela, prejudicando as relações familiares e até mesmo aquela boa e velha
conversa de botequim. Cansadas, vivendo aquela sensação de impotência para
mudar o estado de coisas, para mudar até mesmo o rumo de suas vidas, as pessoas
se entregam às fantasias, passando a vivenciar as mentiras de obras de ficção
do que a realidade, esquecendo-se das questões políticas e financeiras que
abalam o País.
“Pão e circo”. Era a fórmula dos
romanos para afastar o povo dos problemas do estado, deixando a pista livre
para as negociatas dos governantes em eterna luta pelo poder. Se tem pão
(comida) e circo (diversão), o populacho não se importa com nada mais, deixando
a política para os políticos e sendo por eles governados e manipulados. Mas
isso era em Roma. Porque aqui nós temos que dar um duro desgraçado pelo pão de
cada dia, e o nosso circo é de quinta categoria.
As desculpas para o marasmo, para a
paralisia cerebral, que impede até os jovens, sempre tão ativos, de se
mobilizarem em torno de questões de suma importância para suas vidas, para suas
comunidades, para o País, são várias. “Não tem jeito. Deixa como está”. “Não sou a palmatória do mundo”. “Não quero
me envolver”. E por aí vai. Como se a vida real pouco importasse. Como se os
fatos reais do dia a dia não alterassem em nada as nossas vidas. E tudo que
acontece só acontecesse com “os outros”.
Aí eu me lembro da história do ratinho
que contou aos bichos da fazenda que o fazendeiro havia comprado uma ratoeira.
Ninguém se importou com isso. Mas no dia que a ratoeira disparou em uma cobra e
essa picou a mulher do fazendeiro, ele teve que gastar muito para salvar a
mulher. Matou galinhas para fazer canja para a mulher, matou porcos e cerneiros,
para alimentar visitas e vendeu gado para o abatedouro para fazer frente às
despesas com hospital, médicos e medicamentos. Ou seja. Em comunidade, o
problema de um, afeta a todos.
Alguém aí sabe quem matou Vencerlêncio
e suas duas filhas? Ou quem matou o professor universitário na véspera em que
ele iria denunciar desvio de verbas na UEFS?
Tancredo Neves morreu ou foi assassinado? Lula é ou não culpado pelo
esquema do “mensalão”? Quem são os pistoleiros em motocicletas que estão
matando tanta gente em Feira de Santana? E por que?
Essas sim. São questões da vida real,
que nos afetam diretamente. É para enfrentar problemas assim que temos que nos
mobilizar e concentrar esforços para resolver. Quem acha que não, que a
fantasia dá mais resultados que a vida real, que vá investigar sobre quem matou
Odete Reutman. E seja feliz. Se puder.
7 comentários:
Lúcido e pertinente vosso comentário.
Abraços
Queria saber a data,caso do Vencerlencio, obrigado
Esse caso Vencerlêncio de 1987, morto com as filhas no anel de contorno e o carro foi queimado com todos dentro. Uma barbárie que não era comum naqueles tempos. Me lembro de na escola, ter tido ponto facultativo e ter ocorrido uma das primeiras carreatas da paz, com pombos brancos, flores e tudo em Feira de Santana. Até hoje não se sabe os crápulas que mataram covardemente a família. Triste.
Sim
Qual o mês e data
Caso vecerlencio. 22/11/987
*22 de outubro de 1987. 34 anos.
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