
Depois veio outro Fla x Flu, com inacreditáveis 110 mil torcedores e
vitória do Flamengo, e mais um no triangular final, com 85 mil
torcedores, em que o Fluminense venceu com um gol no minuto final. E os
Flamenguistas se arrastaram do estádio com a sensação que só os que
perdem sabem carregar. Nenhum estádio do mundo moderno cabe mais tanta
gente reunida. Nos tempos atuais, não veremos tanta gente aglomerada em
lugar nenhum.
A pandemia da Covid-19, pelo vírus Chinês, é uma longa agonia de
números. Implacavelmente, dia após dia, de forma exasperante, os números
de perdas vão se somando, as dores anônimas vão sendo instaladas nas
almas das famílias, em separações sem luto, e caminhos sem volta. São
afetos irreparáveis, histórias que não terminaram de ser vividas, mas
que já estão por cair em uma rotina de normalização e aceitação que
parecem não retratar a grandeza da tragédia. A partir de certo ponto a
universalização do sofrimento e a longa convivência com a pandemia vão
retirando de nós, o espanto, e transformando em aceitação o que era
assombro.
O risco, com isso, é perdermos a indignação com as ações insuficientes
do poder público, e a adesão às medidas de proteção, porque esse
enfrentamento tem cobrado um preço excessivamente alto, em vidas, medo, e
tensão, às famílias e a todos que estão na linha de frente. Em
especial, porque em muitos casos os profissionais da saúde estão atuando
em condições muito desfavoráveis, expostos, por agirem motivados pelo
chamado da solidariedade e o compromisso de salvar vidas. Humano, cuida
de humano.
O Brasil chegou a 80 mil vítimas do Coronavírus e caminhamos,
inexoravelmente e as escuras, para 100 mil. Para termos uma dimensão,
dos 5570 municípios, do Brasil, apenas 400 tem população maior. Ou, de
outra forma, as vítimas ocupariam um estádio. Na última vez que vi tanta
gente reunida, por lá, muitos saíram com a sensação de derrotados.
Agora, que o estádio é usado apenas como abrigo de hospital de campanha,
os vejo de novo.
Caso você não tenha percebido o tamanho das perdas, há um Maracanã lotado.
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