
A sobrevivência a essa pandemia para os 80% assintomáticos, é
tranquila; para os 20% sintomáticos, é um delicado equilíbrio entre
imunidade, tempestade inflamatória, velocidade de aparecimento dos
contagiados, tamanho e expertise da rede de saúde. E para que a rede se
expanda e a ciência aprenda, o distanciamento social é fundamental.
Já se tornou cansativo repetir que ele alonga a curva, embora insistam
em negar os exaustivos dados que estão em todos os noticiários e um
excelente estudo publicado na Nature, com sequenciamento genético do
vírus, que mostrou que o contágio caiu de 3, para 1, ou 1,6, no Brasil,
após as medidas não farmacológicas de combate a pandemia.
É
preciso rebater outro sofisma inconsistente que repete o bordão: estava
em isolamento e se contaminou, fique em casa, para morrer. Chega a ser
abjeta a manipulação. Nunca li, em nenhum lugar, que isolamento
impediria, totalmente, que alguém se contaminasse, pois, quase nunca há
isolamento total. Sempre há interação. O que se reduz é a probabilidade.
É o inverso da loteria. No jogo, quanto mais cartelas você aposta,
maior a chance de ganhar. No distanciamento, é o contrário.
Um
derradeiro sofisma apela dizendo que a maioria das contaminações dos
confinados, foi em casa. É claro. Isso é amostra populacional. Como a
esmagadora maioria está em casa, o número de contaminações - feitas por
quem veio da rua- será maior na população confinada, mas essa será
sempre menor do que se todos estivessem nas ruas ao mesmo tempo.
O distanciamento social tem funções específicas: alongar a curva de
aparecimento dos casos de modo que ela não leve o suporte de saúde ao
colapso, permitir a ampliação de leitos, compra de insumos, testes ( o
que o Brasil, não fez), treinamento da rede. Além disso, ele permitiu
que fosse adquirida expertise sobre a doença, pelos profissionais,
melhorando as intervenções e sobrevida. Foi assim que tivemos tempo de
aprender sobre as fases da doença (I, IIa, IIb, 3, 4), as terapêuticas
adequadas a cada uma delas, reconhecermos a utilidade da dexametasona,
desistirmos da entubação precoce, aprovarmos o redemsavir,
reconhecermos a inutilidade da cloroquina em casos graves, moderados e
leves, restando provar o uso ainda mais precoce, descobrirmos o papel
dos distúrbios da coagulação.
O tempo permitiu avançar em todos
esses – e outros- conhecimentos, modificar a forma de tratar a doença
levando a um fundamental impacto na sobrevida dos pacientes, e ainda
está nos dando a chance de criar a vacina. Evidente que a medida que a
pandemia vai se deslocando, ela abre a possibilidade de retomada da
economia nos locais por onde ele já teve seu pico.
É por isso que
precisamos agradecer a cada um que contribuiu, participou, ficando em
casa, o possível. Muitas pessoas estão salvas graças ao gesto, anônimo,
mas fundamental de manter o distanciamento, isolamento, quarentena,
toque de recolher, lockdown, ou o que foi necessário.
Reconhecer
o esforço de quem não se deixou iludir pelos arautos do apocalipse
econômico que sugeriam que podia haver economia sem saúde. Não são
apenas os médicos e agentes de saúde que estão sendo heróis, nessa luta.
Cada um de vocês foi um gigante no seu pequeno gesto de recolhimento.
Eu os reconheço.
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