Amor roxo, cor de rosa, amarelo. Tem amor de todas as
cores e tem aquele que consegue reunir todas elas de uma só vez: verdadeira policromia. Foi isso que
aconteceu com o galante Sílvio Rafael que além de nome de galã de novela antiga
era uma verdadeira raposa quando se tratava de “apanhar” uma mulher. E naquela
pequena vila da região de Itaberaba, onde foi com um amigo, como ele é representante
de um laboratório, Rafael ficou parado ao ver aquela garota linda “coisa de
cinema” que entrou no armarinho vizinho a farmácia onde ele estava. Passou as
mãos pelos cabelos pretos e ligeiramente ondulados e fingindo-se distraído saiu
da farmácia no momento em que ela passa pela frente quase provocando uma
“colisão” dolosa embora jurasse que era culposa (sem intenção).
“Desculpe senhorita, foi a pressa”, eximiu-se. E ela
pressurosa “tudo bem está desculpado”. Foi o ponta pé inicial, o suficiente
para o malandro abrir caminho e passar a frequentar a vila com uma assiduidade
que não era necessária na sua atividade. Todo mês ele estava lá. Depois de 15
em 15 dias, até encurtar as visitas para uma vez por semana. O povo do interior
não é bobo e logo surgiram os comentários. Apaixonado Rafael resolveu que ia
fincar raízes ali e tomou coragem. Seu Pedrosa, pai da moçoila, já estava
ouvindo um zum-zum-zum e não escondeu sua satisfação. O moço da capital tinha
boas intenções, calculou, e abriu as portas de sua casa para ele.
Na verdade, talvez Sílvio Rafael estivesse interessado
em dar mais um dos seus golpes amorosos, mas se amarrou mesmo em Adriana. Bela
como uma flor e, sobretudo, invicta já que bola não entrava no gol. Nem pensar
de longe. E isso o deixava doido. O negócio foi noivar, para a alegria de seu
Pedrosa e dona Marieta e pedir para marcar logo o casamento. A fruta tem o
tempo certo, mas quando a vontade de comer é demais, o negócio é tentar
amadurecer de alguma forma. E em pouco tempo o casório foi marcado e
concretizado com o padre Miguel declarando-os “marido e mulher”.
Muita alegria, parabéns e cada um retornando para a
sua casa porque a vida continua. “Sortuda. Ele é um gato” diz uma amiga de
Adriana. “Eu queria estar lá” dizia outra mais afoita. Mas nem tudo que reluz é
ouro, e cinco dias depois, de olho vermelho e voz embargada, Rafael procura um
amigo íntimo e relata a situação. “Tô ficando doido, até agora não concretizei
o casamento” e ante o espanto do amigo explicou que a fruta cheirosa e cobiçada
continuava amadurecendo sem que ele pudesse colocar a mão no galho. A situação
persistiu e duas semanas depois ele
retornou ao amigo que aconselhou “se
fosse você procuraria um advogado e anulava o casamento. Não seja bobo!”
Surpresa para a família que não sabia de nada, um
constrangimento grande, mas foi marcada uma audiência e o juiz veio da cidade
de Itaberaba para resolver o caso. Sessão aberta o magistrado, homem maduro e
conhecido pela sua severidade, chamou as partes e observou: “Vocês namoraram,
noivaram e casaram na igreja, com as bençãos do padre Miguel. São jovens,
saudáveis, o que está acontecendo? Diga minha Senhora!” Adriana teve uma
violenta crise de choro desesperado. O juiz paciente permitiu que ela saísse um
pouco da sala para se recompor.
De volta à sala o juiz reiniciou os trabalhos e o
advogado de Rafael disse que o problema era com ela. O juiz então se dirige a
jovem e questiona: “A senhora pode me explicar por que não se submeteu ao
sacrifício do casamento?” Nova crise de soluços e um quase desmaio. Já um tanto
contrariado o juiz permite que a jovem saia da sala e no retorno dela, já
demonstrando que não estava gostando da coisa, o magistrado, voz alta, de forma
incisiva não perdeu tempo: “Diga senhora o que está acontecendo. Por que a
senhora não se submeteu ao sacrifício do casamento?” Sem outra saída foi direta. “Doutor eu vou
falar, mas o senhor me ajuda?” E diante da resposta positiva do juiz ela falou:
“Doutor o seguinte é esse: Eu entro no quarto ele está
lá, na cama, deitado, com um negócio enorme, balançando e dizendo: “Venha minha
filha”! Eu saio, quando volto, ele está lá deitado com aquela coisa enorme me
chamando “venha, venha minha filha”! Fale a verdade doutor, seja sincero, se
fosse com o senhor, o senhor ia?” Rápido para o seu corpanzil e com o rosto
vermelho o juiz deu um salto da cadeira e esbravejou: “Não, minha senhora, de
jeito nenhum, eu não ia!” E incontinente sentenciou: “Casamento anulado, sessão
encerrada”! E saiu batendo a porta da sala com estrondo!
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