sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Dr. Wilton Lima, uma vida simples e cheia de amor

 

    Neste 18 de dezembro ele estaria completando 72 anos. Já estávamos pensando em relembrar quem foi esse ser humano em nosso meio, quando o secretário de Comunicação do Município Edson Felloni Borges nos pediu informações e contato da família de Dr. Wilton Lima, pois o prefeito Colbert Martins Filho gostaria de homenageá-lo dando o seu nome a um posto de saúde que será inaugurado na próxima semana no bairro Rua Nova. Eu sei que nada acontece por acaso. Entre feliz e emocionada, falei com a sua companheira de uma vida, Arlete Lima e, claro, foi dado o aval para tal homenagem, diga-se de passagem, mais que justa. 

Wilton foi médico do município desde o início da carreira até o fim. Começou exatamente no governo de Colbert Martins da Silva, em 1976. Sou testemunha do grande médico e ser humano que foi. Assim, vou republicar aqui matéria publicada em um edição especial do dia do médico do Jornal Tribuna Feirense, em 2013, ano em que ele fez a passagem para o plano espiritual.

 Wilton José Tavares Lima nasceu no dia 18 de dezembro de 1948, em Nazaré das Farinhas. Filho de Hugo Lima (alfaiate) e Zaira Tavares Lima. Aos 14 anos veio morar em Feira de Santana, onde concluiu os estudos. Sempre teve o desejo de estudar Medicina. Prestou vestibular na Escola de Medicina da Universidade Católica do Salvador, e em 03 de dezembro de 1974 se formou médico. Em 1975 foi para o Rio de Janeiro fazer especialização em Gastrenterologia na Rio Clínica, onde surgiram várias oportunidades de trabalho, mas, sempre quis se firmar em Feira de Santana, para onde retornou em 1976, e montou consultório no Edifício Zé Domingos.

Neste mesmo ano ingressou nos quadros da Prefeitura Municipal e começou a trabalhar como médico em um Posto de Saúde, no bairro Caseb, hoje Unidade Básica de Saúde Nossa Senhora de Fátima. Também em 1976 começou a trabalhar para o Sindicato dos Empregados do Comércio de Feira de Santana e no Hospital Dom Pedro Alcântara. Já em 1983 iniciou no Hospital Regional Clériston Andrade.

         Casou-se em 1977 com Arlete Andrade Lima com quem teve quatro filhos (Felipe (falecido), Fernanda, Flávia e Kamila). Durante toda sua vida mostrou ser um homem caridoso, que teve a simplicidade como sua marca. Faleceu no dia 29 de maio deste ano de 2013, deixando muitas lições. Bom filho, bom marido, bom pai e bom amigo. Todos que conviveram com ele são unânimes em afirmar. Convidadas a falar sobre o pai, as suas filhas escreveram:

Nosso Pai

        
Agradecemos imensamente a Deus por ter nos presenteado e dado o privilégio de sermos filhas de um homem admirável, de um caráter sem igual, de um amor incondicional, um ser humano como poucos.

         Com o nosso pai aprendemos a respeitar, ser honestas, aprendemos que o amor pode transformar.  Muitos falam do amor de mãe que é diferente, maior para muitos, mas nunca pensamos assim, pois sempre fomos amadas por todos lados. Temos uma mãe/pai e tivemos um pai/mãe, nunca soubemos distinguir a diferença desse amor que dizem existir.

Tivemos um pai que nos colocava no colo mesmo já adultas, e enxugava nossas lagrimas “como só uma mãe faz”, um amigo com quem sempre pudemos contar, um herói que nos fazia sentir seguras, um pai que depositou em sua esposa e filhos todos os seus sonhos, que dedicou todos os seus dias à nos fazer felizes, um homem que abriu mão de muitas coisas, de riquezas até, simplesmente por se contentar em estar em casa com esposa, filhos, netos, genros “debaixo de suas asas” como dizia.

Uma pessoa que encontrou a felicidade em amar e é muito amado, pois a sua morte não o tirou de dentro dos nossos corações. Todos os dias, até o ultimo dia de sua vida, dissemos e ouvimos: Eu te amo!

Durante o processo de tratamento o nosso pai continuou nos surpreendendo, nos ensinando, nos dando lições de vida. A saudade nos faz chorar... mas, sorrir ao conversarmos e falarmos dele, pois o nosso pai foi o nosso orgulho”.

Meu compadre Wilton

         Me aproximei de Dr. Wilton Lima quando ele passou a frequentar o Bar do Vital, na Kalilândia. Na época, ele era o único além de mim que ia ao bar acompanhado da esposa. Surgiu logo uma afinidade e uma amizade, principalmente entre Maura e Arlete. As duas ficavam conversando enquanto a gente jogava dominó e conversa fora com os marmanjos.

         Certa época eu me encontrava fora do jornalismo e, para sustentar a família, resolvi fazer algo que eu conhecia bem. Fui vender leite de porta em porta. Wilton era um dos meus clientes. Um dia, saí de casa preocupado, pois minha filha Lia estava com febre e vômitos. De um orelhão liguei para casa para saber como ela estava e o quadro não havia mudado e preocupava.

         Pouco depois cheguei à casa de Wilton para entregar o leite e falei com Arlete sobre a situação, pedindo a ela que conversasse com Wilton para que ele me orientasse, pois eu só teria tempo à tarde, para levar Lia para receber atendimento médico. Ele fez mais. Foi pessoalmente ao nosso apartamento e medicou minha filha. Quando cheguei em casa ela já estava bem melhor.

         Isso fortaleceu nossa amizade e eu passei a ver nele alguém como eu, sempre disposto a auxiliar os amigos e até a estranhos. Lia cresceu aprendendo a ser grata e gostar do casal Wilton/Arlete, e foi ela quem os escolheu para ser seus padrinhos, e assim nos tornamos compadres.

         Longe de mim contestar os desígnios de Deus, mas não aceitei de bom grado as provações pelas quais o casal passou. Primeiro perderam o filho, num acidente. Mas o golpe maior viria mais tarde, quando ele foi traído por colegas que ele tinha como amigos, o que culminou com a sua demissão do Clériston Andrade, pagando por uma culpa que ele não tinha. Ele sequer estava no hospital quando ocorreu o fato que culminou com a sua demissão. E nenhum dos colegas envolvidos o defendeu, e mesmo os que juntamente foram acusados (e estavam no hospital no dia fatídico), foram afastados temporariamente e depois retornaram às suas funções. Pagou o justo pelos pecadores.

         Daquele dia em diante Wilton nunca mais foi o mesmo homem. Entristeceu e se recolheu, deixando de frequentar os lugares que costumava ir, limitando-se a se deslocar de casa para o trabalho e vice versa. Adoeceu, convalesceu e faleceu entre seus familiares.

         Resta-me a saudade e a certeza, como cristão, de que seu sofrimento não foi em vão e que sua alma cresceu e brilha cada vez mais em alguma morada do Senhor.

Cristóvam Aguiar

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