domingo, 21 de março de 2021

Histórias da Princesa


 Hoje, continuando nossa série de histórias e estórias da Princesa, vamos falar de mais um feirense ilustre e que poucos conhecem sua história. O comerciante José Olympio da Silva (Juca Silva). Influenciado pelos movimentos abolicionistas, desenvolveu o gosto pela liberdade de pensamento e ação, tornando-se um defensor dos mais humildes, ajudando os que dele precisassem, ora como amigo, outras vezes como rábula, profissão que naquela época, de poucos advogados, era exercida por homens capazes e de caráter, que faziam a defesa dos réus que não pudessem pagar.

Feirenses Ilustres:

José Olympio da Silva (Juca Silva), um homem multifacetado

Nascido em Feira de Santana, no final do Século IXX, em 12 de março de 1881, quando ainda se lutava pela Abolição da Escravatura. Filho de Policarpo Olympio da Silva e Ubaldina da Silva. Influenciado pelos movimentos abolicionistas, desenvolveu o gosto pela liberdade de pensamento e ação, tornando-se um defensor dos mais humildes, ajudando os que dele precisassem, ora como amigo, outras vezes como rábula, profissão que naquela época, de poucos advogados, era exercida por homens capazes e de caráter, que faziam a defesa dos réus que não pudessem pagar. Exerceu outras profissões durante a sua vida de feirense, sempre honrando com a sua presença e desempenho qualquer que fosse o trabalho, que se propusesse fazer. Filho de pais pobres cursou escolas públicas do nosso município, sempre se destacando pelo bom desempenho em salas de aula, a ponto de se reunir com os colegas, que tinham alguma dificuldade na aprendizagem, para tirar suas dúvidas e substituir muitas vezes os professores, quando estes precisavam se ausentar por algum tempo de suas classes.

Quando ficou órfão de pai, ainda na primeira infância, foi morar em casa de seu padrinho de batismo, Sr. Targino Macedo, de quem recebeu os melhores exemplos de cidadania e o encaminhou para a profissão de comerciante, que exerceu com dignidade por muitos anos, ficando conhecido como um inovador e pioneiro no ramo de artigos importados de muito gosto, principalmente de perfumes franceses, que na época era uma grande novidade, em uma cidade do interior como a nossa. Era famosa e apreciada a variedade de bibelôs, cristais, porcelanas finas e instrumentos musicais, que faziam parte do estoque da “Loja Silva”, localizada na Praça da Bandeira, onde até há bem pouco tempo, existia o nome gravado numa placa de marmorite no passeio, coisa que era comumente usada.

“Juca Silva” era um autodidata e homem de muitos conhecimentos. Tinha uma biblioteca invejável para o seu uso e dos amigos, que privavam da sua convivência. A correspondência que tinha com o exterior, para a compra de mercadorias, era feita em língua estrangeira, de acordo com o país de origem e para isso, ele contava apenas com o seu conhecimento, adquirido com muitas leituras especializadas.

Foi conselheiro de políticos, advogados e empresários. Professores de História o procuravam com frequência, para tirar dúvidas, em sua residência, na Rua Marechal Deodoro, n° 17, palacete de estilo clássico, moda da época do início do Séc. XX. Fazia poucas visitas e preferia receber os amigos em sua casa. Como cidadão, sempre preocupado com o bem estar do seu semelhante, líder comunitário nato, participou de movimentos sociais de ajuda comunitária, destacando-se com abnegação na formação e organização de eficientes grupos de trabalho para este fim. Exerceu por várias vezes, o cargo de Provedor da Santa Casa de Misericórdia. Em várias ocasiões, fez campanhas para melhoramentos no antigo Hospital da Santa Casa, que ficava localizado na praça, hoje denominada Carlos Bahia. Como homem de muita fé cristã, ajudou a construir uma capela no interior do hospital e mandou vir do exterior, imagens que eram verdadeiras obras de arte, como a de Nossa Senhora da Piedade, que é de uma beleza incalculável. Nesta mesma ocasião, presenteou à Capela do Cemitério Piedade, com outra imagem de Nossa Senhora, que deu o nome ao cemitério e que ainda se encontra no local, maravilhando a todos.

“Juca Silva”, como era conhecido, sempre foi um grande colecionador. Desenvolveu desde cedo o gosto por coleções das mais diversas. Colecionava obras de arte, moedas, selos. Conseguiu com muita dedicação, organizar duas coleções de moedas raras, adquiridas com o passar dos anos, em diversos lugares do país, visitando outros colecionadores, em busca do que lhe faltava. Tornou-se um dos grandes numismatas brasileiros e um invejável conhecedor do assunto. Moedas de ouro, prata, cobre, níquel, do Brasil Colônia, Império e República faziam parte destas maravilhosas coleções. Não ficava atrás a beleza dos selos nacionais e internacionais, de sua propriedade. Ele conseguiu formar três lindas coleções que possuíam os primeiros selos impressos no Brasil, chamados “olhos de boi” e os que vieram logo a seguir, os “olhos de cabra”, que são o orgulho de qualquer colecionador, pela dificuldade de encontrá-los, por causa da pequena quantidade que foi impressa naquela época, quando surgiram as primeiras instituições públicas brasileiras, como “Os Correios”. Outro motivo de satisfação era o fato de possuir séries completas de selos do Brasil Império, um caso raro em Filatelia. Como conceituado colecionador, organizou com a ajuda do colega Tancredo Santos, em 21 de agosto de 1953, a primeira exposição filatélica de Feira de Santana, em homenagem à heroína Maria Quitéria, que na ocasião se comemorava o seu Centenário de morte. Foram impressos na oportunidade, um selo comemorativo, carimbo, folhinha e envelope, alusivos à data. A heroína e a cidade de Feira de Santana foram divulgadas em todo o país.

Casou-se em 4 de janeiro de 1904, com Maria Garrido da Silva, “laiá Silva”. Festejaram, em 1954, “Bodas de Ouro” de casados, com festa muito badalada e concorrida. Um episódio interessante e digno de nota foi a participação das três filarmónicas da cidade: a 25 de Março, a Vitória e a Euterpe Feirense. tocando simultaneamente na sua festa. É do conhecimento de todo o feirense, a rivalidade que sempre existiu entre estas três filarmônicas. Elas nunca se apresentavam num mesmo lugar ao mesmo tempo. Esta constitui uma prova inequívoca do prestígio de "Juca Silva”, conseguido pela amizade, respeito e compreensão, que dedicava a todos os setores da sociedade e deles recebia o reconhecimento nestas ocasiões.

Com pouco tempo de casados, tiveram uma filha, a quem deram o nome de Ada, que faleceu aos sete meses de idade. Anos depois, nasceu uma segunda filha, a professora Aurelina da Silva Mascarenhas, que se casou com o empresário na área de construção e comerciante, Anacleto Figueiredo Mascarenhas, que lhe deram três netos: José Olympio da Silva Mascarenhas (empresário), Ada Maria Mascarenhas Bahia (professora de idiomas) e Antônio da Silva Mascarenhas (empresário). A sua descendência hoje é composta por seis bisnetos: Carlos Artur Rubinos Bahia Neto, Liége Mascarenhas Bahia de Araújo, André Araújo Mascarenhas, Vitor Araújo Mascarenhas, Felipe Ferreira Gomes Mascarenhas, Daniela Ferreira Gomes e quato trinetos: Carla Porto Bahia, Bernardo Bahia de Araújo, Maria Antônia Bahia de Araújo e Bernardo Koch Mascarenhas Sobral.

Este feirense que sempre dignificou a sua terra e que é o orgulho de sua família, faleceu em 2 de outubro de 1960, aos 79 anos de idade, em sua residência, na cidade onde nasceu e amou como um filho devotado, um verdadeiro feirense.

Texto da professora Ada Maria Mascarenha Bahia, pulicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana em 2007 e republicado no site Santanópolis em 2021, atualizado por nós.

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