Armando Surdo
Não conheci o personagem, mas, por tudo que Ideilton Paim me contou dele, vale a pena registrar suas estórias para que não se perca no tempo, até mesmo porque ele já faleceu. Segundo Ideilton, Armando Surdo vivia em Praia do Forte, litoral Norte da Grande Salvador. Por ser surdo, não falava direito. Cerveja era “Pêpa”, freezer era “Fanta”, meu amigo era “moncapiu” e por aí afora.
Certa vez ele chegou no bar do amigo Clemente, a quem ele chamava de “Carepeça”, me começou a tomar umas e outras. Lá pelas tantas, ele já embriagado e enchendo o saco de todo o mundo, Clemente resolveu que não irmia mais vender cervejas para ele naquele dia. Quando ele pediu: “Carapeça me dê uma pêpa”. Clemente disse que a cerveja havia terminado. Armando Surdo não se deu por vencido e falou: “Abra ai a Fanta pra eu vê!”
Também lá em Praia do Forte havia (ou ainda há) um cidadão apelidado de “Dadinho”, que era vereador do Município. Armando chegou montado num cavalo, amarrou o animal onde havia uma sombra. Mas, isso foi pela manhã, e à tarde batia um sol forte no local. Armando saiu pelos bares tomando todas as “pêpas” que tinha e que não tinha direito e, quando resolveu ir embora, não lembrava onde deixara o cavalo.
Quando estava procurando, encontrou Dadinho bebendo com alguns amigos à sombra de uma árvore na praça. Armando foi chegando e dizendo:
- Tatinho! Roubaram meu cavalo.
- Que bobagem é essa, Armando? Quem é que vai roubar um cavalo aqui?
- Roubaram sim e focê tem que dar conta.
- Por que eu, Armando? O que tenho a ver com isso?
- Focê é fereador. E focê tem que dar conta.
- Era só o que faltava. Ô menino! Vai procurar por aí o cavalo de Armando!
Pouco depois o rapaz chegou, arrastando o cavalo que estava com um palmo de língua de fora, morrendo de sede, devido ao sol escaldante . Dadinho então disse:
-Tá vendo Armando? Ninguém roubou seu cavalo.
- Devolveram. Ficaram com medo, porque sabem que focê é moncapiu! (meu amigo)
Mas, o pior aconteceu quando ele pediu a Ideilton para arranjar um advogado para providenciar a sua aposentadoria.
- Paim, focê é capiu daquele político que é advogado. Me apresente a ele, pra ver se ele resolve o meu caso.
Paim, cauteloso, disse:
- Armando, eu posso lhe apresentar a Dr. Higino. Mas, você mesmo conversa com ele. Eu não quero pedir nada para não me comprometer.
E assim foi feito. Quando chegou o dia acertado, lá se foi Paim com Armando para a casa do político. Chegando lá, a casa, como sempre acontece, logo cedo já estava cheia de gente. Dr. Higino estava sentado em seu gabinete, atendendo aos seus eleitores. E antes que Paim dissesse qualquer coisa, Armando se adiantou e, para espanto de todos, quase gritando, falou para o doutor:
- Ou Tiço! Me abocenta!
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