quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Livre como a brisa

             

    Dizem que as pessoas medíocres falam sobre coisas e pessoas; Pessoas sensatas falam sobre ideias e ideais; Pessoas sábias falam quando há algo importante a dizer. Cris era uma criança feliz. Passou a infância brincando, estudando, se preparando para enfrentar a vida que teria pela frente, sem nunca levar nada muito a sério. Tinha a nítida sensação de que não valia a pena, até porque poderia morrer a qualquer momento. Mas, na adolescência aconteceram coisas que o levaram a pensar que, pelo menos, algumas coisas deveriam ser levadas a sério, e mudou um pouco a sua postura, até porque sofrera algumas decepções que o marcaram profundamente. E passou a observar melhor tudo o que acontecia à sua volta. Pensava, logo, existia, e descobriu que podia pensar por si mesmo sem ter que se guiar pela cabeça dos outros. Porém, não abria mão de se aconselhar com aqueles em que tinha confiança.

E foi assim que percebeu que sempre havia alguém querendo dar palpite sobre o que ele deveria fazer ou não, como tocar a sua vida, como fazer as coisas, sobre as suas escolhas, sobre uma série de coisas que ele nem sequer havia pensado. No começo ele se importava com aquilo, com as opiniões dos outros, como se a aprovação deles fosse tornar sua vida melhor e mais fácil. Mas não demorou a chutar o pau da barraca e mudou de atitude. E foi a partir daquele momento que resolveu pensar por si mesmo, seguir suas próprias ideias. Sempre que julgava necessário pedia a opinião de pessoas nas quais confiava. Mas, a decisão final seria dele e ninguém mais. “Não posso viver só, nem alheio ao mundo”, pensava. Mas a vida era dele e só a ele caberia fazer dela o que bem desejasse. Não viveria pela cabeça dos outros.

Certa vez, ao tentar justificar algo que queria fazer e que sua mãe desaprovava, ele argumentou: “Por que não? Todo mundo faz”. E ouviu dela algo que nunca mais se esqueceria e que o marcou para sempre: “Você não é todo mundo”! Claro que não. Ele era único, com características próprias. Esse negócio de “todo mundo” lhe dava uma sensação de desimportância, como se ele fosse apenas mais uma rês no curral pronto para o abate. Ademais, um amigo lhe dissera certa vez, prenhe de razão, que toda multidão é burra. E isso ele não era mesmo, muito embora algumas pessoas o tentassem convencer do contrário.

Depois que tomou esta atitude, assumindo uma nova postura diante das pessoas e do mundo, acabaram-se aquela ansiedade e neurose tão grandes que o assomava sempre, e passou a viver do jeito que queria e não como os outros achavam que deveria ser. Sentia-se feliz, livre, assim como a brisa. E a liberdade passou a ser a sua bandeira de luta. Passou a apertar o botão “foda-se” para algumas coisas, contudo, sem sair chutando o balde pra tudo, mas sem aquela de querer agradar aos outros em detrimento do que  realmente queria e precisava fazer. Às vezes, sentia que precisava dar um “para pra acertar”, e se retirava para algum lugar remoto, onde pudesse falar consigo mesmo e com Deus, colocava a mente, o corpo e o espírito em ordem, e retornava à lida diária com as baterias recarregadas, sentindo-se novo em folha.

Nunca deu bola pra sociedade nem para modismos. Fora educado de forma a saber entrar e sair em qualquer lugar, sem ser ridículo ou agressivo, e exigia que as pessoas o respeitassem pelo que ele era e não pelo que ele poderia ter ou não. Evitava os indesejáveis e se persistiam numa intimidade que não existia, ele sabia ser grosseiro e direto, e da mesma forma sabia ser gentil e agradável com pessoas de boa índole. Isento de preconceitos, não fazia distinções de raça, credo, condição social... Para ele todos eram iguais, diferindo apenas no caráter.

Hoje Cris é um idoso feliz, que não teme a morte, que para ele é apenas um recomeço, e firme nas suas premissas: “Desde que você não faça nada ilegal, nem machuque a si mesmo ou outras pessoas, mande a falsa moralidade se foder e seja feliz. Seja autêntico, não se compare com os outros e leve sua singularidade ao mundo. Seja exemplo.”  

2 comentários:

Unknown disse...

Bom dia amigo, foi muito bom prá mim, e o que passa comigo aprendir. Me comoveu bastante, é a realidade de uma nova vida

Maura Sérgia disse...

Gostaria que se identificassem nos comentários.