sábado, 20 de novembro de 2021

 

Puros e diferentes

  Andar por corredores e setores de uma fábrica de charutos feitos à mão é, sempre, uma experiência inesquecível. Pratiquei isso centenas de vezes, um tanto desatento. A passos largos, partia do setor administrativo, em direção a uma determinada área fabril, para tratar de certo assunto, e as operárias, na sua faina, passavam por mim como paisagens passam pela janela de um trem veloz.

 Vezes havia, como se lenha faltasse à fornalha, quando estacionava em meio ao caminho, para assistir ao nascimento de mais um puro: o compasso das morenas mãos habilidosas parindo e trazendo ao mundo mais um bom charuto brasileiro.

 É incrível, como aquelas folhas secas se transformam, em piscar de olhos, numa regalia que irá correr mundo. Seu destino nasce traçado. Basta superar as etapas subsequentes que controlam a qualidade, para receber o anel que as batiza e confere berço.

 Nome e berço, dois distintos fatores de algumas das boas marcas que o Brasil produz. Entre elas os charutos são-gonçalenses, charutos com um passado e que têm histórias a contar.

Não nasceram filhos da aventura. São descendentes dos laços do amor e da tradição. Que não (re) inventam estórias, nem folclores. Que são o que são. Autênticos puros da nossa melhor tradição charuteira.

 Representam a técnica cubana pelas mãos de brasileiros, mas que não pretendem, nem querem, ser mais ou menos saborosos que outras afamadas regalias mundiais. São apenas, e tão somente, puros e diferentes. Isto, qualquer atento visitante constata ao congelar determinada imagem do processo.

O enlevo, o carinho, a habilidade, a destreza e tudo o mais que, de forma invisível, acompanha nossos charutos. Que chegam às melhores bocas, sem dizer dos cuidados que os guarnecem. Mas, que os iniciados sabem estar lá presentes, consumindo-se na fumaça mágica de mais um momento de prazer.

 

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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