terça-feira, 9 de novembro de 2021

Os aditivos químicos presentes em 4 de cada 5 alimentos vendidos nos mercados do Brasil

Bebidas de fruta, refrigerantes e outros produtos semelhantes são o que têm mais aditivos, de acordo com o estudo

Quando a nutricionista Vanessa Montera investigou a presença de aditivos em alimentos vendidos nos supermercados, levou um susto. Ela se surpreendeu com a variedade de aditivos em um só produto e o fato de que muitos servem apenas para mascarar características que seriam difíceis de engolir como cheiro, sabor ou textura.

Seu estudo mostrou que os aditivos estão por toda parte no mercado: quatro em cada cinco dos quase 9,9 mil alimentos analisados tinham ao menos um aditivo entre os ingredientes. Um em cada quatro tinham seis ou mais.

O estudo de Montera foi o primeiro do tipo a ser feito nessa escala no Brasil. A nutricionista diz que, apesar de ser esperado que alimentos industrializados contenham aditivos — substâncias naturais ou sintéticas que são usadas para alterar as características de um produto —, ela não imaginava que os encontraria nesse número.

"Alguns alimentos são coquetéis de aditivos. Chegamos a encontrar um produto de panificação que tinha 35. Foi o recorde."

Outra coisa que chamou sua atenção foi o uso intensivo dos aditivos cosméticos, como são chamados por uma parte dos profissionais da área aqueles aditivos que mudam o sabor, o aroma e a forma dos alimentos, embora essa classificação não seja oficialmente reconhecida por autoridades brasileiras.

Corantes, saborizantes, aromatizantes, emulsificantes, entre outros, garantem que alimentos que passaram por vários processos industriais na sua fabricação correspondam ao que os consumidores esperam deles. São usados porque esse processamento pode às vezes alterar os alimentos a ponto de deixá-los irreconhecíveis.

Diferentemente de outros aditivos, como os conservadores, por exemplo, os aditivos cosméticos não ajudam a fazer com que as comidas sejam mais baratas, durem mais tempo, cheguem a mais pessoas ou possam ser consumidas com mais segurança.

Na prática, são o equivalente a uma maquiagem dos alimentos. "Não precisariam nem estar ali", diz Montera.

Sua presença nos alimentos, principalmente quando são muito frequentes, funciona como um indicativo de que este alimento é ultraprocessado — e cada vez mais pesquisas associam esse tipo de comida a doenças.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regula o uso dos aditivos em alimentos e estabelece os níveis máximos de consumo diário para uma pessoa.

Mas alguns nutricionistas têm dúvidas se esses limites são realmente seguros, porque comemos cada vez mais alimentos ultraprocessados, que têm muitos aditivos.

Eles destacam ainda evidências de que há aditivos que podem fazer mal à saúde — o que a indústria nega — e também de problemas na forma como esses ingredientes são informados nos rótulos.

Por isso, defendem que as regras sejam revistas pela agência, e está previsto que isso ocorra em breve.

Outro questionamento vem da comparação desta pesquisa brasileira com um estudo semelhante na França, que apontou um uso substancialmente menor de aditivos por lá.

Isso indicaria, de acordo com cientistas, que muitos produtos vendidos no Brasil são mais artificiais e de pior qualidade.

O que são aditivos alimentares

Aditivos são qualquer ingrediente adicionado ao alimentos sem o propósito de nutrir.

Eles modificam as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais do produto, durante sua fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação.

Essas substâncias ajudam a garantir que podemos consumir um alimento sem riscos, por exemplo.

Embora bastante associados à alimentação moderna, eles não são uma novidade. Já eram usados em sociedades antigas, como o sal que é adicionado para preservar uma comida.

O vinagre das conservas, o açúcar dos alimentos cristalizados e a fumaça da defumação são outros exemplos de aditivos bastante comuns.

Mas também se tornaram bem comuns aditivos sintéticos, que passaram a ser empregados pela indústria para produzir comida em larga escala e fazer com que ela chegue em boas condições para os consumidores.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso dos aditivos se justifica quando ele tem uma utilidade clara, como preservar o valor nutricional ou a estabilidade de um alimento, e não é usado para enganar o consumidor.

Cientistas também apontam que seu uso excessivo pode ser problemático.

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