quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Macarrão com farinha, feijoada dentro do pão

 

    
Eu peguei o bonde andando, mas havia um alvoroço no programa Acorda Cidade, da Rádio sociedade, porque descobriram que pessoas comiam macarrão com farinha. Parecia ser uma coisa do outro mundo, principalmente para o apresentador Dilton Coutinho. Cá comigo eu fiquei tentando lembrar desde quando foi que eu comecei a gostar de comer macarrão com farinha. Desde sempre, eu acho. Porque eu sempre fui criativo e versátil, e com a comida não é diferente. Hoje, com as mazelas da idade, já não posso comer farinha (faz subir minha glicemia), mas encontrei uma ótima substituta na farofa de cuscuz. Como até pura, mas vai também com ovo, carne, caldos, salada e, também, com feijão, macarrão ou leite.

         Não sou um glutão, mas gosto de comer e não faço cara feia, exceto para caruru, maxixe, chuchu, jiló e coisas assim. De resto, encaro tudo. Quando eu era rapazinho, almoçando na casa de um irmão, minha cunhada perguntou se eu gostava de bolinho de carne de galinha. “Oxente! Manda” – disse eu. Ela mandou e eu comi. Ela, com ar malicioso, rindo, perguntou se eu tinha gostado, e eu, naturalmente disse que sim, que estava muito bom. E ela revelou: “Você comeu foi Jia”. E, espantada, ouviu o meu pedido: “Pode me dar mais”? Nunca fui de frescuras. Caçador, eu comia tudo que eu matasse. Até gato do mato. No bairro onde eu moro, tem um pessoal que gosta de comer gato doméstico. Me deram uma vez, eu experimentei, mas não gostei. Eu não gosto de gato, nem vivo nem morto. Mas quem haverá de condenar essa gente pobre, miserável, que diante de uma fome atroz não abata animais domésticos para matar a fome?

         Voltando a meu apetite e ao meu “estômago de avestruz”, ainda adolescente, quando chegava das farras da madrugada, antes de dormir corria até a geladeira, picotava um ovo, colocava um pouco de sal e bebia. Cru e geladinho. Acordava sem ressaca. Certo dia, numa festa de largo em Riachão do Jacuípe, os sobrinhos de Maura chegaram com um espetinho de Jiboia moqueada, rindo e achando que eu ia fazer cara feia. Tirei um pedaço da carne, pedi uma pinga fui comendo a carne centre goles de cachaça da boa. Já em Ipiaú, no parque de exposições, uma barraca oferecia tira-gosto de carne de onça. Comemos com cerveja para acompanhar. Eu perdi a conta de quantas vezes, chegando da farra, ou acordando com fome, no meio da noite, eu “assaltei” a geladeira e tirei do congelador a feijoada congelada. Com uma faca serrilhada eu cortava uma “fatia”, colocava dentro do pão e comia, acompanhada com leite ou água mesmo. Delícia! “O tempero da comida é a fome”, diz o povo, assim como “a pimenta é a espora da boca”,

         Pra bebidas também nunca fiz cara feira. E antes que algum espertinho pergunte se não faço para remédios, também não. Eu tive asma na infância, e tomei incontáveis frascos de um remédio chamado Emulsão Glicerofosfatada de Pequi, o terror da criançada. Eu tomava e ainda lambia a colher. Mas foi perto de Lençóis que quase falho. Estava viajando a trabalho com Maura e um fotógrafo, e paramos num bar de beira de estrada, em Tanquinho de Lençóis. Pedimos cachaça de folha e ficamos ali bebericando e esticando as pernas. Entrou um sujeito e pediu algo ao dono do bar que eu entendi como “cobra”. E era. Eu não acreditei quando ele virou um copo daquela cachaça que que estava numa garrafa que tinha uma cobra dentro. Pediu outra e bebeu, cuspindo depois e estalando a língua. Pensei, se ele não cair “batendo asa”, eu vou beber uma zorra dessa. Ele pediu outra e pedi uma pra mim. Mas pedi ao dono do bar que me desse um pedacinho da carne seca que estava em cima de um balcão. Afastei o meu copo de erva doce que ainda estava pela metade, e virei a dose de “cobra” e, imediatamente, joguei o pedaço de carne na boca e comecei a mastigar. O estômago quis recusar, a “cobra” quis voltar, mas eu empurrei o resto do Erva doce e ela se aquietou.

Foi uma luta difícil, mas venci.

O que é tudo isso diante de um macarrãozinho com farinha?

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