terça-feira, 18 de setembro de 2012

Centro está um caos


          O problema é bem antigo Começou na década de 80. A Câmara de Dirigentes Lojistas pediu e o prefeito construiu um “Calçadão” na rua Sales Barbosa, no coração do centro comercial da cidade. Com o fim da feira-livre, confinada no Centro de Abastecimento, a idéia era tornar o lugar atrativo e de fácil acesso para os clientes das lojas ali instaladas. Porém, ninguém contava com a invasão de ambulantes (camelôs) que, com a conivência do poder público, tomou totalmente a rua. Começava ali uma guerra entre ambulantes e lojistas que já dura 30 anos e já se estendeu por todo o centro da cidade.
          Nos anos 90 a Prefeitura transferiu os ambulantes da rua Sales Barbosa para a praça Presidente Médici, no fundos da Catedral de Santana, num local que hoje é conhecido como “Feiraguai”, devido ao grande número de produtos importados do Paraguai que ali eram comercializados. Porém, uma nova leva de ambulantes voltou a ocupar a rua Sales Barbosa. O problema estava longe de ser resolvido.
         Segundo o atual presidente da Associação Comercial de Feira de Santana, Armando Sampaio, “não melhorou nada e o problema só se agravou. E agora não queremos mais promessas e sim compromissos. Nossa reivindicação é que a Prefeitura abra licitação e contrate uma empresa especializada para elaborar um projeto e que a gente possa sentar, comerciantes e ambulantes, para discuti-lo e sugerir mudanças, se for o caso, desde que não descaracterize o projeto original. E tem que ser uma empresa com referencias anteriores, que tenha executado projetos em cidades onde este problema foi resolvido. Qualquer proposta diferente dessa para nós é discurso eleitoreiro”, afirma ele.
Evandro Oliveira, professor e historiador, afirma que avenidas como Getúlio Vargas, Senhor dos Passos e Maria Quitéria, são exemplos que mostram a falta de preocupação dos governantes com o futuro da cidade, com o ordenamento urbano. Armando Sampaio se assusta com a ocupação das ruas centrais pelo comércio ambulante e feirantes que vendem hortigranjeiros, atuando livremente.

“Favelização”
 
O centro de Feira de Santana, na expressão do presidente da Associação Comercial Armando Sampaio, transformou-se em uma verdadeira favela. A rua Marechal Deodoro teve metade do seu leito ocupado por bancas de hortifrutigranjeiros e as calçadas estão tomadas por barracas de bugigangas. A situação não é muito diferente no calçadão da Sales Barbosa e outros espaços, como a Conselheiro Franco e Getúlio Vargas começam a ser ocupados desordenadamente.
 Numa reunião do Rotary Clube de Feira de Santana, em abril passado, Armando Sampaio, que também preside a instituição, não conteve a indignação e criticou duramente o que chamou de  "favelização" do centro de Feira de Santana. Ele considera a leniência com a ocupação dos espaços públicos como uma ação eleitoreira, intensificada nos últimos anos, com o cenário agravando-se a cada dia.
Sampaio não se limitou aos efeitos maléficos ao comércio convencional, que sofre prejuízos com o bloqueio ao acesso as lojas estabelecidas. Falou sobre a agressão à estética e às dificuldades, enfrentadas pelos pedestres para se locomover na rua Marechal Deodoro, expondo-se a risco de acidentes e transtornos no trânsito. Reclamou da falta de ordenamento e de fiscalização.
Evandro Oliveira faz uma viagem no tempo, quando o centro de Feira se limitava a três ruas. Cita a construção da Prefeitura, na esquina da Getúlio Vargas com a Senhor dos Passos, um marco na história urbanística da cidade e conta, com humor, que o Paço Maria Quitéria foi um capricho do intendente Arnold Silva. A Prefeitura funcionava em um prédio de Augusto Fróes da Mota. "Arnold não queria ficar em um imóvel que pertencia ao seu adversário", conta.

Fiscalização
A abertura da Getúlio Vargas e da Maria Quitéria foi planejada, com visão de futuro. A avenida João Durval Carneiro foi resultado do que Evandro Oliveira denomina de urbanismo acidental: surgiu com a mudança da linha de trem, cuja estação saiu da Senador Quintino e uma nova foi erguida no bairro que passou a se chamar, por razões óbvias, Estação Nova.
"Temo pelo progresso da nossa terra", lamenta professor Joselito Amorim. "Feira está crescendo desordenadamente. O exemplo dos nossos antepassados, com avenidas largas, não está sendo seguido. Depois do Anel de Contorno, nada foi feito, as construções irregulares, sem fiscalização, transformaram a região em um verdadeiro labirinto", protesta.
Segundo analisa, na área fora do contorno, as construções não obedecem a alinhamentos, não há ordenamento, sem a definição de quarteirões, acumulando problemas. Professor Amorim cita bairros que foram surgindo com organização, como o Jardim Cruzeiro, com suas ruas largas e amplas, simétricas. "Feira cresce de forma caótica. O centro é uma vergonha, uma favela. Fora do contorno é uma desordem, sem fiscalização da Prefeitura, construções são erguidas sem a licença", critica.

Matéria de Cristóvam Aguiar. Publicada na Tribuna da Bahia de 18/09/2012

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