
O senhor Esperindeus do alto dos seus
60 anos “bem vividos”, como se orgulhava de afirmar, era um homem recatado, austero
honesto funcionário da Fazenda Pública, que em toda a sua vida laboral só
faltara ao trabalho no dia do seu casamento e quando seus pais faleceram. Era
também membro da Loja Maçônica Areópago Feirense, irmão da Santa Casa de Misericórdia,
membro do Rotary Clube e fiel fervoroso da paróquia de Santana dos Olhos
D’água.
Com todos estes predicados, não admitia
desonestidades ou traições conjugais. “Um homem tem que garantir as calças que
veste”, repetia sempre, disposto a servir de exemplo para seus semelhantes,
principalmente para os jovens afoitos. Embora admitindo que “gozou” muito a
juventude, orgulhava-se de nunca ter pulado a cerca em todos os seus anos de
homem casado e pai de família. “Cleidinha é a mulher da minha vida. Não preciso
de mais ninguém”, dizia sempre, referindo-se carinhosamente à esposa.
E dona Susancleide era mesmo tudo o que
o marido falava dela. Esposa fiel, trabalhadora, mãe amorosa e amante fogosa.
Para ela, era Deus no céu e marido na
terra. Mas já havia cerca de dois anos ou mais que um probleminha estava
afligindo dona Susancleide. Inicialmente ela suspeitou que o marido estava
pulando a cerca, mas, logo constatou que a idade finalmente o estava vencendo.
Resolveu então buscar auxílio profissional e abriu seu coração com a Dra.
Regina Falcão de Orleans e Magalhães, sua ginecologista.
Profissional cônscia das suas limitações
e responsabilidades, a Dra. Regina recomendou que dona Susancleide convencesse
o marido a consultar um médico especialista em Reprodução Humana. Também
indicou um colega e deu a dona Susancleide algumas publicações especializadas,
tomando a precaução de informar que o problema poderia estar na mulher e não no
marido. “A senhora não tem nenhum problema orgânico, mas pode haver alguma
coisa na senhora que pode não estar agradando ao seu marido”, cuidou de
salientar.
Dona Susancleide foi pra casa pensando
nas palavras da médica e não perdeu tempo. À noite, os dois na cama, entre
quatro paredes, onde apenas os travesseiros guardam os segredos da alcova, após
mais uma “brochada” do marido, ela sugeriu: “Pêpê, porque você não procura um
médico? Olha, eu li numa revista que isso é normal com homens de 60 anos ou
mais, e até mesmo com jovens acontece.
“Você tá maluca Cleidinha? Vê lá se vou
falar das minhas intimidades pra ninguém. Vai que esse doutor dá com a língua nos
dentes e me desmoraliza? Eu viro alvo de chacota de toda a vizinhança. Meus
colegas de trabalho então, vão perder o respeito por mim e começar a fazer
piadinhas. Não senhora. Não vou procurar médico nenhum. Isso deve ser alguma
indisposição. Você vai ver. Logo vai passar”, reagiu o marido.
Mas dona Susancleide sabia que aquilo
não ia passar e que a tendência era piorar. Ela já tinha ouvido algumas amigas
indiscretas falando sobre seus maridos que “brocharam” com a idade. Algumas até
demonstrando alguma satisfação com isso. Mas ela não. Queria seu marido firme e
forte como nos velhos tempos.
Numa das revistas especializadas que a
Dra. Regina havia lhe dado, lera um artigo sobre impotência sexual masculina e as
maravilhas do Viagra. Ela não pensou duas vezes e mostrou o artigo para o
marido, sugerindo que ele deveria tomar aquela pílula maravilhosa. Mas,
novamente, o marido reagiu mal: “E com que cara você acha que eu vou entrar
numa farmácia para comprar isto? O balconista vai rir logo da minha cara e em
pouco tempo a cidade toda vai ficar sabendo”.
Mas dona Susancleide estava decidida.
“Se você não compra, compro eu. Ou você prefere ser corno”? Esbravejou uma
Cleidinha, atrevida (embora, interiormente nada convicta), para espanto do
marido. E antes que ele tomasse fôlego para dizer alguma coisa, ela foi logo
esclarecendo que iria comprar a droga em algum lugar onde ninguém a conhecesse.
Comprou, o marido tomou, e novamente
brochou. O caso era mais sério do que se pensava. Foi aí que ela, lembrando da
Dra. Regina, de que o problema poderia estar nela e não no marido, lembrou-se
também de uma amiga que lhe falara sobre as fantasias sexuais que realizava com
o marido, para não deixar arrefecer o fogo do amor.
Segundo a amiga, quando o sexo começava
a cair na rotina, ela e o marido fantasiavam. Ela se vestia de odalisca e
dançava a dança do ventre pra ele. Outra vez ele se vestia como um cowboy (ela
tinha tesão por cawboys), e entrava pela janela do quarto no meio da noite como
quem iria ter um encontro com a amante cujo marido estava em viagem. E assim,
encenando papéis despertavam a libido e tinham fantásticas noites de amor.
Dona Susancleide expôs então um plano
para o marido: Aos sábados a empregada só trabalhava até o meio dia e os filhos
só os visitavam aos domingos. Então, ela estaria só em casa. Ele deveria se
vestir de carteiro (ela havia lido um conto erótico em que a esposa traia o
marido com um carteiro) e entraria pela janela do quarto, onde ela seria
“surpreendida” pelo amante. Embora relutante, o marido aceitou.
No sábado, perto do meio dia, ele saiu
de casa dizendo que iria beber com os amigos e que só voltaria no final da
tarde. Mais tarde, deduzindo que a empregada já teria indo embora, ele cumpriu
com o script. Entrou pela janela do quarto do casal, vestido de carteiro, e
surpreendeu a “amante” com quem viveu uma intensa tarde de amor.
Naquele dia, dona Susancleide dormiu
feliz. No domingo os filhos notaram a cara de total felicidade da mãe, e até
comentaram que ela parecia mais jovem. O pai também estava mais alegre, mais
solto, menos rabugento que o de costume. Na segunda-feira a empregada não
apareceu para trabalhar. Quando apareceu na parte da tarde, dona Sunzancleide
pediu explicações e, em resposta, recebeu um envelope cheio de fotos do
carteiro entrando pela janela do seu quarto.
Quando dona Susancleide pediu
explicações, ela disse: A senhora fica aí posando de santa mas trai seu marido.
E agora eu sei e tenho provas. Daqui pra frente eu quero ter vida boa nesta
casa. A senhora vai fazer meu trabalho,
vai aumentar o meu salário e vai comprar boas roupas para mim, iguais as que a
senhora usa. Ah! E quero perfumes também. Vai me dar tudo que eu pedir, se não
quiser que eu conte tudo pro seu marido.
“Você anda assistindo muita novela”,
disse dona Susancleide antes de despedir a empreguete.
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